Deparei-me recentemente com esta entrevista a Ribeiro e Castro no jornal I. A entrevista é longa pelo que me vou centrar em dois pontos que considero fulcrais.
A entrevista é marcada por um forte tom anti-partidário, naquilo que me parece hipocrisia interesseira. Seja de que forma for, há críticas destinadas a revelar os podres da máquina partidária que, na minha opinião, revelam tanto ou mais sobre quem as proferiu. Falo, em particular, de quando refere que votou/aprovou propostas sem as conhecer. A disciplina de voto é, a meu ver, desprezivelmente anti-democrática e deve ser combatida. No entanto, é um mecanismo intra-partidário e não tem representação legal. Isto é, quem a violar apenas enfrenta consequências a nível de progressão no partido. Isso significa que sempre que um (ex-)deputado, com ar de cordeirinho, diz que era contra determinada medida mas votou noutro sentido devido à maléfica máquina Partidária, aquilo que está na realidade a dizer é que colocou os seus interesses pessoais de carreira à frente dos do país, que traíu a confiança dos que o elegeram.
Esquecendo agora a parte pessoal e focando-me nas ideias. Ribeiro e Castro defende uma reforma do sistema eleitoral, com a criação de círculos uninomiais e representação no parlamento dos votos em branco. Não vejo como a segunda ajudaria a fosse o que fosse, excepto se acreditarmos em demagogias simplistas como forçaria os partidos a reformarem-se. Right. Logo a seguir à reforma do Estado, suponho. (Sei que ainda sou novinho mas já não me recordo de umas eleições em que não se reformasse o Estado) Já a primeira poderia, de facto, levar a uma maior proximidade entre o cidadão e o deputado, e logo a uma maior responsabilidade do último. No entanto complicaria ainda mais o sistema eleitoral e a estrutura organizacional do Governo, o que a meu ver seria extremamente negativo.
Na minha opinião o afastamento entre o cidadão e a política tem aumentado não devido a alguma podridão ou corrupção dos partidos (caso em que teríamos uma enchente de votos a transitar para partidos fora do eixo governativo, o que não tem acontecido *) mas sim devido à crescente complexidade do sistema representativo, que o cidadão comum (no seu tão badalado quotidiano frenético) não tem tempo de estudar e compreender. A verdade é que a maioria de nós não conhece por completo as funções de cada cargo ou orgão administrativo, o que tem ficado ultimamente muito claro em relação a, por exemplo, ao cargo de Presidente da República. A simplificação da Administração e a sua inclusão (urgente!) do seu funcionamento nos programas escolares poderia fazer muito por esta causa.
Claro que os políticos e os jornalistas têm muitas responsabilidades no cartório, esgotanddo o nosso precioso tempo com discursos e análises vazias de ideias ou propostas (tema que abordarei num texto posterior). Mas, num certo sentido, eles dão-nos aquilo que queremos ou pedimos. O cidadão não pode assim, de todo, desresponsabilizar.se da sua própria alienação.
Filipe Baptista de Morais
*Muitos talvez estejam a gritar "Syriza" ou "Podemos" neste momento, achando que me esqueci deles. Não esqueci. Mas sejamos francos: o Syriza chegou ao Governo não devido a corrupção, podridão ou vazio ideológico do eixo governativo grego, mas simplesmente porque a Grécia ficou sem dinheiro.
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário