sexta-feira, 20 de maio de 2011

O preço dos sonhos

Para os mais desatentos, na passada 4ª feira aconteceu algo inédito: uma final da liga Europa entre dois clubes portugueses. Mais, um deles nunca tinha sido (nem foi este ano) campeão nacional. Estou a falar, é claro, do caso atípico do Braga.
O Braga espantou todos o ano passado quando, sob a liderança de Domingos Paciência, quase roubou o título ao Benfica. Na verdade talvez fosse mais correcto dizer que foi o Benfica que lhes roubou o título, mas essa é outra questão. Aí dizeram "Prontos, tiveram o seu momento, agora o treinador sai para um clube de jeito e voltamos a ter o Braguinha do costume". A realidade foi muito diferente; o treinador ficou e, contra todas as expectativas, o Braga chegou às finais de uma competição Europeia. Mas perdeu. E agora? Confesso que eu pertenço ao grupo dos agoirentos e descrentes, que acham que o treinador vai sair e que a equipa se vai abaixo, tendo perdido uma oportunidade única. Mas a questão interessante aqui é outra, é esta sensação de que "perderam" algo. Na verdade fizeram algo impensável, indo mais longe do que alguém acreditaria. Mas então o sonho morreu, e que será que as pessoas irão recordar? O mesmo sucedeu há pouco tempo com o Sporting, há poucos anos. E que se lembram as pessoas? Que o Sporting perdeu uma final, perdeu uma oportunidade, tendo o treinador inclusivelmente sido despedido ainda que a presença numa final Europeia não seja assim tão comum quanto isso. É aquela questão levantada por um grande senhor da música, "Is a dream a lie if it don't come true, or is it something worse?"


Deus quer, o Homem sonha, a Obra nasce. Mas e quando sonhamos demasiado alto ou a obra não quer nascer, como é? Até porque todos sabemos que Deus é um sujeitinho misterioso e portanto vá-se lá saber o que ele quer e porquê. É nessa situação que temos que ter atenção à atitude a tomar. Pois é, quantas vezes ao falhar os nossos objectivos pensamos (e acima de tudo sentimos!) que mais valia nunca ter começado? Que todo o esforço não levou a lado nenhum? Esta espécie de paradoxo sentimental tem um nome em psicologia, que eu como é óbvio esqueci. Também está estudado que em todo o competiçaõ de competições, geralmente a equipa/pessoa a ocupar o 3º lugar no pódium está mais feliz do que a no 2º. Isto porque sentem que quase perderam mas conseguiram atingir esse lugar de destaque, em vez de sentirem que quase conseguiram o primeiro lugar e portanto falhar. Sendo isto algo interior, é necessário combatê-lo com racionalidade, relembrarmo-nos de como tudo começou, da falta de expectativas iniciais e de como fomos crescendo e melhorando, cada pequena vitória intermédia e cada alegria que ela nos deu. Porque não é vergonha nenhuma "quase" ganhar; vergonha é nunca chegar a tentar e só não tem desilusões quem não quer ter alegrias.

Filipe Baptista de Morais

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Seca

Porque será que quanto menos fazemos, menos vontade temos de fazer seja o que for? Instala-se esta letargia que tem tanto de irritante como viciante, e que subsiste vá-se lá saber como. E não nos conseguimos concentrar, por mais interessante que seja a aula. E todas as horas parecem poucas, ainda que passem tão devagar. E todas as palavras soam mal, ainda que o problema não esteja na escrita.

Como uma seca que ataca a terra e leva a um ciclo vicioso de falta de chuvas, este síndrome tem de ser contrariado antes que leve a melhor. Para tal há diversas e variadas estratégias: uma boa noite de sono, umas horas de desporto intenso (se a chuva deixasse...), fazer algo de divertido com amigos, beber umas jolas. Isto toda a gente sabe, claro. Mais interessante é, o que leva ao surgimento deste fenómeno?

A meu ver a resposta é simples: mudanças de ritmo. Dormir pouco e trabalhar muito para dar aquela sensação de exaustão seguidas de umas horinhas vazias em casa para o cérebro se pôr a divagar sem na verdade ter energia para fazer algo de jeito. Obviamente tenho sofrido um pouco disto para estar a escrever este texto sensaborento. Talvez esteja na hora de aplicar alguns dos meus próprios remédios!

Filipe Baptista de Morais

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Deixem-nos Falar

Ainda há pouco estava a ver o frente a frente que opunha Paulo Portas a Jerónimo de Sousa. Digo opunha visto defenderem ideologias tão diferentes, ainda que no fundo tenham os mesmos objectivos. No entanto o que me chamou mais atenção (pela negativa devo dizer) não foram as teses ou argumentos que cada um apresentou, ou talvez devesse dizer tentou apresentar. É ridículo o ritmo a que têm de falar para expressar as suas ideias e responder a perguntas, sempre sob a constante pressão do apresentador. Se perguntassem a Deus como salvar o mundo, duvido que a resposta se pudesse resumir em 30 segundos. Mas é isso que é constantemente pedido aos nossos políticos hoje em dia.

Bem sei que hoje em dia a vida tem outro ritmo, o frenesim da cidade etc,etc... E creio que todos sentimos um pouco falta de tempo para tudo, nomedamente para nos mantermos informados. É portanto cada vez mais difícil estarmos a par do que se passa no país e no mundo, nomedamente na política. Mas isso é ainda mais agravados quando, felizes por termos arranjado um tempinho para ver um debate político, parece que são eles que não têm tempo para falar. E não têm! Que será que a televisão tem de mais importante para transmitir do que as mensagens daqueles que pretendem vir a governar o país, ainda para mais num momento de crise? A resposta é simples: telenovelas, talk shows, outros programas de entretenimento e jogos de futebol. As transmissões televisivas reprensentam um mercados de um valor incalculável, e portanto é inevitável que os canais se vejam cada vez mais como empresas que, como qualquer aluno de gestão aprende rapidamente, têm como objectivo principal o lucro. Mesmo as do Estado, infelizmente.

Deixem-nos falar...


Filipe Baptista de Morais

PS: Não estou de todo a criticar os moderadores (creio que em cima usei erradamente o termo apresentador, mas sou demasiado preguiçoso para o emendar) que apenas fazem o seu trabalho. De facto não estou a criticar ninguém em particular, apenas certos aspectos deste mundo que parecemos tão empenhados em construir.

terça-feira, 3 de maio de 2011

Aberto Mas Restrito


Durante a semana passada decorreu o Estoril Open 2011, um dos maiores eventos desportivos a tormar parte neste pequeno país. Como não podia deixar de ser dei lá um saltinho, tanto para ver umas partidas de ténis como para "roubar" mais um chapéu de palha. Tenho assim algumas notas referentes a essa experiência:

- Em primeiro lugar creio que é imperativo falar do cartaz, que foi de excelente qualidade (tanto a nível de tenistas como das meninas dos brindes). Em época de crise seria de esperar falta de "incentivos" que permitissem trazer cá os melhores; no entanto creio que a ausência de Federer permitiu financeiramente a presença de muitos outros, pelo que tivémos o prazer de receber grandes nomes do circuito actual (uma palavra que, curiosamente, já não se usa) como Verdasco, Soderling, Tsonga, Simon ou o vencedor Del Potro. Parabéns a ele já agora. Apenas no circuito feminino talvez se pudesse esperar um pouco mais.

- Toda a logística operacional esteve também, a meu ver, impecável. Daí que, apesar das fortes e intermitentes chuvadas, as perturbações ao decorrer do torneio foram mínimas.

- A prestação portuguesa também não foi de todo decepcionante, com um número record de portugueses a integrar o quadro principal e o nosso Gil a ser apenas travado pelo finalista Verdasco, já nos quartos-de-final. Sentiu-se no entanto a falta de Michelle de Brito.

-Deixei para o final a única crítica negativa que tenho para fazer: os bilhetes, que a meu ver foram demasiado caros. De facto, paguei mais por um bilhete para o Estoril Open do que para o Masters Final na O2 Arena (Londres). Certo que este último apenas nos permitia assistir a dois encontros, mas ainda assim... Isto explica, a meu ver, as bancadas vazias ao longo de todo o dia que lá estive. De facto, não são poucas as pessoas que conheço que gostariam de ter ido mas não o fizeram devido ao preço dos bilhetes. Mais gritante ainda é o vácuo que se observa nas chamadas bancadas VIP, com bilhetes oferecidos pela organização. Ano após ano insistem em oferecê-los a figuras públicas que preferem passear-se pela Sponsor's Village, usufruindo das comodidades (pagas com os bilhetes do resto de nós suponho) e sorrindo para as câmaras do que assistir de facto a alguma partida. É lamentável.



Filipe Baptista de Morais