sexta-feira, 18 de junho de 2010

Real > virtual?

Sempre achei curioso o facto de os guitarristas (ou as pessoas que dão uns toques de guitarra vá) não acharem piada nenhuma ao guitar hero. E isto é deveras um facto, se duvidam perguntem aos vossos amigos amantes do instrumento e comprovem. E se lhes perguntarem o porquê vão fazer aquela cara "tipo, não é óbvio?". Devo dizer que para mim não é de facto óbvio. Se fosse não perguntaria aliás. E não óbvio porque parece ser um caso singular: as pessoas que gostam de jogar futebol passam a vida a jogar PES, eu próprio era fã do Virtua Tennis e daí por diante. Só os guitarristas nutrem este ódio por o seu hobby ter passado para um jogo de vídeo, em vez de o adorarem.
No fundo, creio que têm inveja por terem de treinar meses para tocar uma qualquer musiquinha da treta, enquanto que eu num dia aprendo várias no guitar hero. E mais difíceis!

Filipe Baptista de Morais

segunda-feira, 14 de junho de 2010

The Little Things

Ontem vi um casal a jogar ténis, que me fez sorrir. Em primeiro lugar porque eram maus. Mas mesmo muito maus. Daquele género engraçado de jogador que falha na boca e dá raquetadas nas canelas. Mas tudo isto apenas nos faz rir por fora, e o sorriso de que estava a falar era muito mais interior.
No fundo, fizeram-me sorrir porque pareciam felizes. Não eram o casal perfeito, que vejo nas televisões e vocês vêm nas revistas: ele estava a precisar de umas sessões no ginásio e ela também certamente que já tinha visto melhores dias. Mas ela parecia feliz por andar com um gordinho, e vice-versa. Que mais importa? Que importa a tosquice quanto esta nos faz rir tanto a nós como áqueles que nos estão a ver? Não estavam felizes por terem ganho o euromilhões, nem sequer por estarem a jogar ténis (se é que se pode chamar àquilo jogar); estavam simplesmentes felizes por estar juntos.
São pequenas coisas como esta que nos fazem pensar. A vida é bela, claro que sim, todos o sabemos e comprovamo-lo todos os dias. Mas talvez seja ainda melhor quando a partilhamos.

Filipe Baptista de Morais

sexta-feira, 4 de junho de 2010

Who cares?

Hoje o metro (essa maravilhosa fonte de informação que nos entretém durante a utilização do seu aborrecido homónimo) referia que os animais fofos obtêm muito mais apoios para a sua conservação do que os restantes. Isto achou-me a atenção por duas razões:
-Não é comum vermos o uso do adjectivo "fofo" ou seus derivados nos jornais, com muita pena minha. Ainda mais imperceptível e injusto o desuso em que caiu o seu substantivo associado, "fofura".
-A notícia não podia ser mais verdadeira e de facto já estava a pensar escrever um texto sobre o assunto, tendo até um lembrete sobre isso nos rascunhos do telemóvel (é comum utilizar os rascunhos do telemóvel para armazenar ideias a usar em futuros posts, que geralmente aí permanecem até o telemóvel sofrer um acidente fatal e ter de o trocar por outro).
Tinha assim um lembrete que dizia "baleias,golfinhos, tigres e animais desinteressantes". Isto porque toda a gente se preocupa e grita e levanta cartazes a dizer "salvem as baleias", apenas porque são um animal engraçado. Os golfinhos são adorados pelas crianças, e têm mais protectores que os refugiados palestinianos. Pessoalmente sempre os odiei, talvez por toda a gente gostar tanto deles. Estou a falar dos golfinhos, os palestinianos até são fofos. Quanto ao tigre não é claramente um animal simpático por aí além (chamar-lhe "fofo" apenas serviria para bater o record de usos desse adjectivo num texto) mas ganha simpatizantes pela sua beleza e graça inata, inerente a quase todos os seus parentes felinos diga-se de passagem. Quem consegue ficar indiferente a, por exemplo, um "amur leopard"? Eu certamente que não.
Falemos então dos já referidos "animais desinteressantes". Quem quer saber, por exemplo, das aranhas em vias de extinções? São bichos horríveis, feios, irritantes e cuja única utilidade aparente é tornar pitas histérias de modo a divertir o resto do pessoal. Pessoalmente, odeio-as. E claro que não estou sozinho neste ponto. É tanto o desprezo por este realmente desprezável bicho (creio que este não é o nome técnico mas nunca prestei muita atenção às aulas de biologia) que ao digitar no nosso amigo google "aranha vias extinção" a única referência minimamente relacionada com o caso dizia respeito a uma nova aranha (de facto em vias de extinção) descoberta à qual deram o nome de "David Bowie". Palmas para o biológo que a nomeou: pode ter o nome mais ridículo entre os aracnídeos, mas pelo menos aparece no google e as pessoas sabem que está a desaparecer. Embora duvide que alguém vá fazer alguma coisa quanto a isso. Multidões choram quando um pobre golfinho é morto por qualquer razão. Os tubarões são largados ao mar com as barbatanas cortadas (única parte utilizada na culinária, nomeadamente a chinesa) para serem comidos vivos enquanto se esvaem em sangue, mas isso já não nos preocupa tanto. É provável que um peditório para arranjar um tanque maior e pintado de cor-de-rosa aos golfinhos do zoo tenha imenso sucesso, mas salvar outros animais não tão fofos da extinção devido à sua exterminação directa por humanos (muitas vezes feita de modo horripilante) não parece uma causa tão nobre. Nunca ouvi dizer "salvem as aranhas", apenas "mata,mata,mata!". Alguma alma caridosa inventou que matar aranhas dá azar com as economias, o que nesta época de crise é capaz de fazer mais pela preservação das espécies do que cientistas amantes das aranhas com ar de malucos a discursar sobre a sua beleza e sei lá que mais.
Não pretendo com isto dar ar de activista e defensor dos animais. Não sou. Em gíria futebolística, sou muito do género do "deixa jogar". Mas por isso mesmo admiro mais os que fazem alguma coisa por essas causas. Os verdadeiros activistas, não os palermas dos salvem os golfinhos e as baleias e o resto que se lixe.

Filipe Baptista de Morais