domingo, 30 de setembro de 2012

Portugal Half-Marathon 2012

Competion Name: Portugal Half-Maraton
Length: 21Km
Data: 30th of September 2012
Minimum Goal: - 1h 45m
Personal Challenge: -1h 35m
Time Record in Similar Competitions: 1h 31m 33s
Power Song: Bricks (by Rise Against)

Due to some requests I've decided to write my first (and, depending on feedback, perhaps the last) post in English. I hope you'll excuse my mistakes, since after running 21Km I'm not exactly at my prime.

After a long break due to health issues (last time I competed officially was in October 2011) I finally managed to run again. For this purpose, no other race could be better than the emblematic Portugal Half-Marathon. Starting amid the beautiful Vasco da Game bridge, it certainly has one of the best courses I've had the chance to step into. Still, the peaceful river was not enough to set my mind at ease.

Eleven months is far too long be away from the concrete, and I feared my legs and my heart would not be up to the task. With this in mind, I decided to cast away any thoughts of breaking my personal record today: there will be plenty of time for that over the following years. The personal challenge I set for this race, 1h 35m, reflects this lack of confidence. On the bright side, I was going to wear for the first time (in official competitions) my fairly new - and weightless! - Nike LunarGlide, which are simply amazing.

The start wasn't by any means unusual, rather the huge mess I've already grown accustomed to. I won't even bother to suggest (once again) the existence of different starting areas according to personal time records (as is the case in other competitions); it's already been made clear that no one from the organization reads my blog, or if they do they don't care. Nothing out of the ordinary here. Nevertheless, being prepared for it doesn't make it any easier and my lap times over the first kilometers suffered greatly (check the table below).

It was only over the fourth kilometer that the crowd seemed to spread a bit, allowing me to keep a steady pace. I was aiming for a modest 4m30s per kilometer and in fact didn't stir much from it over the next laps. It was extremely pleasant to know that I'm still able to keep a steady and natural pace; some things never do change. Near the 6th kilometer there's was a band (there were some along the course, to cheer the runners up) playing some really nice and soft broken heart songs. Really nice, but not exactly what I want to hear while I'm running. Luckily my new earphones have a quite handy volume control, so I set my Ipod to deafening mode.

Unfortunately, others do. After the 15th kilometer mark a stitch in the right side slowly started to build up. I tried to follow my gym's motto (When your body screams, tell him to shut up) but the pain was soon excruciating and proved itself unbearable. I was forced to slow down, which explains my poor performance over that fraction of the course.

Only at the end of the 19th kilometer, perhaps with some psychological effect coming to aid, did the pain go away, allowing me to keep my pride intact and cross the finish line at considerable speed. Overall it took me 1hour 38minutes and 52 seconds to run the whole 21kilometers, which is not so bad considering the somewhat grim circumstances. I will definitely need some training in order to tackle the full Lisbon Marathon in December. Until then there are some 10Kms races which I'll probably attend, so my legs don't grow too lazy.

I found it interesting to note that my average BPM ('heart' beats per minute) was 178, with a peak of 190. The first is too high, while the latter is too low. I still remember when I was able to push well over 200BPMs.... guess I'm growing older. For the ones who might find it interesting, my polar watch says that I've burnt 1489Kcal.

On a final note, I find it only fair that the organization gets the deserved credit for this awesome event. Apart from the messy start already mencioned above, everything else was perfect: every kilometer was conveniently marked with an easily spottable sign, there were support stations every three or four kilometers (I only took advantage of 3 though) which were adequately stashed with water, powerade (yey!) and, near the end, bananas and some disgusting and awfully tasting power gel that I ravashed within a heartbeat. The T-shirts were great (although I haven't tried mine so far), the medal is pretty cool and they finally decided to offer delicious Magnum ice-creams at the end, in exchange for the usual crappy calyptos and whatever. Moreover, this edition's chip was included in the chest piece with the running number, in opposition to the running shoes' chips which always manage to get the shoelaces untied. It's true I still had to stop to re-tie my shoelaces once, but that was simply due to my lack of tying skills.

1st Km: 5m09s   2nd Km: 4m41s   3rd Km: 5m35s   4th Km: 4m21s   5th Km: 4m33s
6th Km: 4m29s   7th Km: 4m35s   8th Km: 4m34s   9th Km: 4m18s   10th Km: 4m19s
11th Km: 4m17s   12th Km: 4m16s   13th Km: 4m38s   14th Km: 4m28s   15th Km: 4m27s
16th Km: 4m 48s   17th Km: 5m19s   18th Km: 5m25s   19th Km: 5m25s   20th Km: 4m32s
21st Km: 4m34s


Filipe Baptista de Morais




domingo, 23 de setembro de 2012

Rigor e responsabilidade

Estava hoje calmamente a ler um livro (cujo título e autor não são para aqui chamados) quando me deparei com a seguinte passagem: "Tem tido um crescimento exponencial, como se pode ver no gráfico abaixo (...)". O gráfico abaixo é, neste caso e para complicar, o gráfico à esquerda, e como podem ver de exponencial tem muito pouco. Na verdade aparece encaixar tão bem num modelo linear que parece estranho o autor se lembrar se quer do termo exponencial. Este episódio singular fez-me pensar de forma mais geral naquilo que acredito ser uma característica do actual povo Português: a falta de cuidado e rigor na comunicação.


Está claro que o autor da obra não é parvo, assim como com certeza sabe diferenciar um crescimento exponencial de um linear. Vejo assim duas possíveis razões para empregar esse termo. Poderia querer intencionalmente exagerar a importância do fenómeno, o que seria algo incorrecto dada a seriedade da obra. E não me parece que tenha sido isso que aconteceu. Parece-me antes que disse exponencial como quem diz grande ou acentuado. Mas isso, a meu ver, é tão ou mais grave, já que pode gerar a impressão errada sem sequer que o escritor se aperceba.

Esta despreocupação com o rigor na linguagem é algo transversal a toda a nossa sociedade; claro que tem particular visibilidade no mundo da política, mas não se limita a essa área. Não nos preocuparmos com o rigor dos termos que empregamos tem óbvias vantagens, com ainda mais óbvias desvantagens, infelizmente ignoradas. É uma forte maneira de nos desresponsabilizar-nos, podendo recorrer a toda uma panóplia ("não foi bem isso que eu disse", "não era isso que queria dizer") de desculpas para justificar as incongruências entre o que dizemos e o que fazemos. Curiosamente, se nos chamarem à atenção para o facto, é provável que ainda saiamos por cima ao libertar simples cortinas de fumo e frases feitas como "estás a entrar em questões de semântica quando há tanta coisa importante para discutir". Pois é, mas as palavras importam mesmo. Precisamos delas para nos exprimirmos e retirar-lhes o rigor do seu significado é limitar o rigor do nosso próprio raciocínio, ou pelo menos da nossa capacidade para o partilhar. É curioso notar que a Era da Informação, em que estudo está arquivado ou gravado algures e é cada vez mais fácil reciclar declarações  passadas, seja também marcada pelo desprezo por aquilo que dizemos e em agir em conformidade. Roubando a expressão à biografia de Steve Jobs, parece que todos nós possuímos o nosso próprio campo de distorção da realidade.


Filipe Baptista de Morais

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Metediços

Nos jornais constava que a Igreja não tinha afinal acordado com o Governo a suspensão permanente dos feriados religiosos eleitos; tratava-se apenas de uma suspensão temporária devido à crise, pelo que daqui a dois anos tudo voltaria ao mesmo. A meu ver esta notícia é muito interessante, por duas razões distintas.

Em primeiro lugar, a ser verdade, mostra mais uma vez uma certa falta de transparência e/ou honestidade nas suas declarações. Embora não seja nem novo nem exclusivo deste Governo não deixa de ser um assunto preocupante e digno de cabeçalhos.

Em seguida e em lugar de destaque não pude deixar de estranhar a palavra "acordado" associada à Igreja e ao tema do cancelamento de feriados. Provavelmente sou eu que ando meio alheado, mas nunca pensei que a Igreja tivesse voto na matéria. Pelo menos a título oficial. De facto considero extremamente negativo e até perigoso que uma organização religiosa tenha tanto poder de decisão em questões com claras implicações políticas e económicas. Já basta os bitates inoportunos do outro bispo. A História mostra que misturar governação com religião não é lá grande ideia. Espero que seja só um resquício residual e insignificante.


Filipe Baptista de Morais

domingo, 2 de setembro de 2012

Gerir a quinta

Este Verão tive o prazer de ler, num único e viciante dia, outro excelente romance de George Orwell: "Animal Farm". Apesar de não possuir os conhecimentos de História necessários para reconhecer as múltiplas referências da obra, nomeadamente à guerra civil Russa, não deixei por isso de a achar extremamente interessante e intemporal. À semelhança de 1984, o livro explora o imenso poder de redefinição do passado, posto a cru na máxima de 1984 'Quem controla o passado, controla o futuro. E quem controla o presente, controla o passado'.

Mas não se trata apenas de outro forma de re-escrever a mesma história; esta obra aborda ainda brilhantemente a corrupção pelo poder, assim como a facilidade com que rebeldes revolucionários se podem transformar naquilo contra o qual sempre lutaram.

Uma nota sobre este post. Tanto por preguiça como por medo de estragar a fantástica obra de Orwell com um resumo desleixado vou-me abster de o elaborar. Creio que o texto será perceptível mesmo para os leitores que não conheçam o romance, mas recomendo de qualquer modo veementemente a sua leitura.

A ideia de que o poder corrompe as pessoas, apesar de recorrente e não de todo falsa, requer uma análise cuidada. Há quem defenda, por exemplo, que o poder não muda as pessoas; apenas lhes permite agir e exprimir-se de outras formas. Uma ideia que certamente merece alguma atenção. Também é certo que, mal os detentores de poder fazem algo com que não concordamos, tendemos imediatamente a considerá-los corruptos e de mau carácter, muitas vezes atribuindo tal ao facto de terem atingido o poder. Nunca deixará de me espantar a facilidade com que, a meio de uma discussão, as pessoas atacam o nosso interlocutor com o célebre 'Achas que tens sempre razão!' Será que não se apercebem que estão a representar exactamente o mesmo papel? E claro que todos achamos que temos sempre razão, até nos convencerem do contrário. Ou deveríamos ter. Quem abandona as suas crenças simplesmente porque outros opinam que estão erradas necessita seriamente de trabalhar a sua auto-estima.

Voltando à obra, gostaria ainda de comentar mais alguns aspectos. Moses, o corvo que prega sem cessar sobre uma terra paradisíaca para onde todos os animais irão depois de mortos (ridicularizada sob o nome de Sugarcandy Mountain), é desdenhado pelos outros animais após estes se revoltarem contra os humanos. No entanto, após os porcos tomarem o poder antes retido pelos humanos e tiranizarem os outros animais é mencionado que Moses, apesar de nunca ter as suas ideologias oficialmente aceites, é bem recebido pelos porcos líderes que o deixam viver na quinta com uma pensão, sem trabalhar. As semelhanças entre Moses e a Igreja são demasiadas para serem ignoradas, e é interessante notar o tratamento que lhe dão. Apesar de os pensamentos por detrás dos porcos nunca serem apresentados ao leitor, subentendo que no período revolucionário, em que necessitavam dos outros animais com espírito rebelde e reaccionário, tenham considerado as suas ideologias de conformismo e resignação, escondidas sob a miragem distante de um paraíso que a todos chegaria, como perigosas. No entanto, ao tomarem o poder, já é do seu interesse que os outros animais adoptem uma postura passiva e submissa, justificando a re-aceitação do camarada corvo.

Outra questão muito interessante é a dos outros animais, não se considerando tão inteligentes como os porcos, delegarem naturalmente e de livre vontade o poder de decisão nestes últimos. Estes sentimentos de inferioridade são extremamente perigosos e minam os pilares de uma democracia saudável. Infelizmente o seu oposto, uma negação das nossas limitações e falta de conhecimento, pode ser ainda mais prejudicial. Oxalá o bom senso nos livre de tais males.

Também achei extremamente interessante o facto de uma das éguas abandonar a quinta para retornar a donos humanos de livre vontade. Embora, mais uma vez, o livro não explicite os seus motivos, deixa a entender que foi por necessitar em demasia de carícias e ornamentos que as pessoas lhe davam. Isto recordou-me a forma como os conquistadores da época dos descobrimentos ganhavam as boas graças dos locais por presentes brilhantes e coloridos.

Outro aspecto digno de menção é o facto de, apesar de os porcos deterem o poder e tomarem as decisões, esse poder ser exercido através de cães, mais fortes e possantes e obedientemente cegos. Estes foram retirados aos pais à nascença e criados pelos porcos, em adultos mantendo na linha todos os outros animais, incluindo os progenitores. Creio que ninguém duvida da possibilidade de exercer um poderoso controlo sobre as crenças de outras pessoas através da sua educação exclusiva desde novo. Basta olhar para as crenças religiosas.

Também achei extremamente interessante a manobra utilizada pelos porcos para vencer qualquer discussão ou disputa de opinião. Fosse qual fosse o assunto na mesa, argumentariam que a linha de conduta que não lhes agradava levaria ao regresso de Jones (o humano que controlava a quinta, antes da revolução), perguntando de seguida aos outros animais se era isso que desejavam. Isto contém dois truques psicológicos: para além de uma premissa errada (associar o acto a uma consequência que na realidade não lhe pertence) consegue também mover rapidamente o tópico da discussão para um assunto totalmente distinto, neste caso a opinião dos animais em relação ao hipotético retorno de Jones. Todos nós já vimos isto acontecer inumeráveis vezes, quando alguém distorce intencionalmente e por completo uma questão para obter a resposta que deseja. De facto, esta manobra é muitas vezes considerada eloquente e reveladora de uma forte capacidade argumentativa, ao invés de um truque barato. Creio e quero acreditar que tal não se deve à nossa estupidez intrínseca, mas antes a uma extrema preguiça no que diz respeito a analisar cuidadosamente as linhas de argumentação.

Para finalizar gostaria de salientar que, embora não explore essa questão nessa obra, Orwell está bem consciente das dificuldades de exercer uma governação justa. Assim, apesar de criticar a diferença de classes através do satírico e célebre lema 'Todos os animais são iguais. Mas alguns são mais iguais do que outros' introduz subtis referências ao facto de um tratamento por igual nem sempre ser adequado e justo. Um exemplo disto é a discussão em volta das idades de reforma de cada animal, tendo acordado idades diferentes para cada espécie. Convém lembrarmo-nos disto também, para conseguirmos mais e melhor igualdade.


Filipe Baptista de Morais

Não és o único

Há dois meses apareceram umas estatiscazinhas engraçadas num telejornal cujo nome não me vou referir, tanto por indiferença como por desconhecimento. Eram referentes à empregabilidade de diferentes cursos superiores, analisando quantos dos recém-formados nos últimos anos se encontram presentemente desempregados.

O lugar de destaque no pódium era ocupado pelo curso de Engenharia Electrotécnica e de Computadores do Instituto Superior Técnico (Lisboa). Aparentemente, dos engenheiros saídos desse molde nos últimos anos apenas um se encontra desempregado. Sim, apenas um. Isto dá azo a todo tipo de engraçadas especulações intrusivas. Será um incompetente? Será simplesmente azarado? Será que estava em casa deprimido a ver a reportagem e se suicidou ao ver que está sozinho? Ou será que é antes rico e não precisa nem quer trabalhar; ou antes um crítico do actual estilo de vida capitalista e consumista que decidiu ir viver na floresta em harmonia com a Natureza. Provavelmente nunca saberemos. Mas as estatísticas não deixam de ser animadoras para os seus futuros colegas de profissão.

Não acredito, no entanto, que esse personagem esteja de facto sozinho na sua condição. Para além de eventuais "erros" nos procedimentos que, obviamente, desconheço, creio que também é importante ter em conta a qualidade do emprego. Por qualidade não me refiro às tão badaladas condições de trabalho precárias a recibos verdes, visto que até há quem prefira trabalhar nessas condições. Refiro-me antes à satisfação pessoalmente relativamente às suas funções. Isto é, não me espantava que muitos desses engenheiros que fugiram ao desemprego estejam num McDonalds ou num Call Center. Ou no estrangeiro, apesar de não o desejarem. Não é a mesma coisa que estar no desemprego, claro, mas também não era certamente aquilo que tinham em mente quando puseram a cruz lá na caixinha. Por isso calma, colega, que não estás só.

Espero ainda que isto não sirva para incitar, ainda mais, os pais a empurrarem os seus filhos para longe das artes e humanidades. Devemos ser realistas, sim, mas não derrotistas e conformista ao ponto de desistirmos dos nossos sonhos, de tentarmos ser quem queremos. Senão tornamo-nos um bando de Zombies sem propósito, presos na mediocridade da tristeza.


Filipe Baptista de Morais

Directa

Qualquer estudante universitário sabe que não são poucos os colegas que optam por fazer directas a estudar, ou pelo menos sacrificar largas horas de sono a essa actividade. Esta tendência estende-se, aparentemente, aos estudantes do secundário e ainda mais novos. Pessoalmente nunca fui grande apologista desta técnica; a mente fica rapidamente turva quando o sono começa a atacar o que faz o estudo render menos, para além de ser mais rapidamente esquecido. Àqueles que ainda seguem esta política sugiro que leiam isto.

Por outro lado, uma directa é frequentemente a melhor (ou única) maneira de obter resultados rápidos, nomeadamente para terminar um projecto, relatório, etc... Este tipo de trabalhos distinguem-se do estudo propriamente dito por terminarem numa entrega: todo o esforço até ao momento contribui portanto com uma soma positiva de valor. Ainda assim não aconselharia mais de duas de seguida; os efeitos da privação prolongada do sono têm tanto de bonito como de produtivo. Ir para um exame vindo de uma directa pode ser extremamente contra-producente, visto que uma mente cansada dificilmente consegue acompanhar questões complicadas. Confesso que nunca experimentei a proeza, mas sempre me pareceu uma ilação relativamente óbvia de tirar.

Por último convém referir que esses trabalhos noite adentro são muitas vezes interessantes experiências sociais. Conhecemos melhor os nossos amigos e por vezes entramos em contacto com todo o género de personagens. Além de que só a experiência da actividade profissional fervilhante às tantas da manhã já por si é interessante. Nunca me hei-de esquecer de quando tive de esperar na fila para a máquina de café perto das 5.


Filipe Baptista de Morais