sábado, 21 de fevereiro de 2015

Focar

Recentemente actualizei o meu perfil de LinkedIn. Ao contrário daquilo que costumo fazer, não fui lá adicionar novos campos, "feitos" e competências. Muito pelo contrário: fui lá com o intuito expresso de remover algumas das competências que me tinha atribuído aquando da criação do perfil.

Não o fiz por as ter perdido, ou por ter mentido sobre elas. Simplesmente achei que não eram relevantes para aquilo que pretendo para a minha vida profissional. É comum ouvirmos os gurus da gestão (quer a nível empresarial quer a nível pessoal/ de carreira) falar da importância do foco, de identificarmos aquilo que é central e descartarmos aquilo que é acessório. É igualmente comum respondermos a esta mensagem com um encolher de ombros, já que ela nos parece óbvia para quem tenha dois dedos de testa e não parece conter em si nenhuma sabedoria superior.

No entanto creio que, se pensarmos bem no assunto, são muitas as áreas da nossa vida a que podemos aplicar esse ensinamento. No caso dos CVs é comum recém-licenciados com várias páginas de currículo que, no final, em nada os distinguem de tantos outros. Mas pior que encher chouriços é apregoar competências de que não queremos fazer uso. Conheço muita gente, por exemplo, que salienta no currículo experiências profissionais que detestaram e não pretendem repetir (caso comum são experiências part-time em call centers). Ora é de esperar que, se um possível empregador valorizar essa experiência, é porque lhe reconhece algumas similaridades com o posto para o qual procura candidatos. Estamos assim apenas a habilitar-nos a que nos ofereçam posições para as quais não temos interesse.

No meu caso não removi experiências mas sim competências (eg: ferramentas de Office) que, apesar de possuir, não pretendo utilizar na minha carreira profissional. Este foco não serve apenas para nos facilitar a vida em termos de nos poupar contactos para posições que não desejamos; ajuda também a que os empregadores encontrem em nós as competências que consideram necessárias para o nosso trabalho de sonho, sem se perderem num mar de irrelevâncias.

Infelizmente continua a ouvir-se que um currículo "quanto mais cheio melhor", ou "escreve tudo aquilo de que te lembrares". Talvez seja de reconhecer que aquilo que não escrevemos pode dizer quase tanto como aquilo que escrevemos.