quinta-feira, 31 de março de 2011

Apenas Um Pretexto

No outro dia ocorreu-me que a vida gera à nossa volta. Não me refiro à vida no seu conceito mais lato, com toda aquela metafísica e descrições complexas que usam palavras como ecossistemas e metabolismo. E por nós também não me estava a referir a mim e ao meu alter-ego. Não, referia-me antes e simplesmente às nossas vidas, "àquilo que fazemos com o tempo que nos é concedido." É que parece-me que por muitas coisas que haja para ver e experimentar por esse mundo fora, nada consegue ser tão interessante como conhecer pessoas e culturas novas, ou aprofundar a relação com as que já conhecemos. É como se a Terra fosse apenas um cenário e a vida uma oportunidade, um pretexto para nos conhecermos uns aos outros. É espantoso o que aprendemos sobre os outros quando juntos descorimos coisas novas, pois cada comentário, cada perspectiva revela tanto sobre o seu objecto como sobre a pessoa que o pronunciou. E nada pode ser tão enriquecedor como uma conversa, tão belo como um sorriso, ou tão gratificante como fazê-lo acontecer. Ao falar nisto a uma amiga minha, ela comentou que conhecer pessoas novas era também uma excelente maneira de nos conhecermos a nós próprios, o que me deixou surpreendido. Não pela ideia em si, mas por não me ter ocorrido antes, de tão óbvia que é. Se as projecções que fazemos de objectos/coisas inanimadas permitem aos outros penetrar um pouco na nossa concha pessoal, é natural que a projecção que outros fazem de nós seja a melhor maneira de nos conhecermos. Os únicos espelhos que podem aspirar a reflectir-nos são os olhos dos outros, numa cópia (deformada) daquilo que só a nós pertence, e só em nós existe. E assim podemos ver-nos, ou pelo menos ver o que o mundo vê. E talvez seja isso que importa, e não a nossa indefinível existência que a todos é inacessível e aparente não ter significado físico. Que pode ser mais verdadeiro do que aquilo que a todos é aparente?

Filipe Baptista de Morais

sábado, 26 de março de 2011

21ª Meia Maratona de Lisboa

Nome da Prova: Meia Maratona de Lisboa
Comprimento: 21Km
Data: 20 de Março de 2o11
Objectivos Mínimos: - / (eliminados devido às circunstâncias)
Desafio Pessoal: - / (eliminado devido às circunstâncias)
Melhor Tempo em Provas Semelhantes: 1h 31m 45s

Esta prova correu tão mal que vou tentar não me alongar muito. Apesar de ser a Meia Maratona com o percurso mais favorável e de ser por isso ideal para melhorar tempos pessoais, circunstâncias externas afastaram qualquer hipótese de isso acontecer. Cheguei na véspera à noite a Portugal, vindo de um curso programa de intercâmbio de uma semana, estando por isso completamente esgotado. Ainda assim não quis deixar de participar e na manhã seguinte lá me dirigi para a partida.
Determinado a não me dar como derrotado à partida, tentei correr como se me encontrasse em condições normais. Nos primeiros 5Km fiz um tempo bastante mau, quase a atingir os 25mins (velocidade média pouco acima dos 12km/h) mas tal deveu-se sobretudo à extrema confusão existente na área de partida. No entanto consegui acelerar nos quilómetros seguintes e recuperar o tempo perdido, chegando ao 12ºKm em cerca de 54m. Isto significa que entre o 5º e o 12º Kms consegui manter uma velocidade média de cerca de 14.5Km/h, o que já é extremamente bom. Demasiado até (pelo menos nesse dia) pois foi nesse ponto que morri completamente. As pernas começaram a desobedecer por completo, fui abrandando sucessivamente e no final já me encontrava a correr abaixo de 10Km/h. É engraçada a enorme quantidade de coisas que nos passam pela cabeça nesses momentos como "olha se desistir aqui posso apanhar o metro" ou "mas porque é que a música vai ficando melhor ao longo da prova? Assim não dá vontade de correr..." . Por uma questão de brio pessoal não podia deixar de completar a prova, obtendo assim o terrível tempo de 1h48m46s. Isto significa que a minha velocidade média entre o 12º e o 21º Kms foi de uns espantosamente baixos 9.15Km/h!!! Ainda assim fiquei contente comigo mesmo: contente por me ter levantado na cama quando tinha tantas horas de sono para repor, contente por ter ido correr sabendo que não ia correr bem, contente por chegar ao fim não sei bem com que forças e contente por trazer mais uma medalha para casa. Hei-de fazer melhor para a próxima!

Filipe Baptista de Morais

PS: Todas as contas foram feitas à pressa de cabeça ou na calculadora do portátil, portanto se houver algumas incorrecções não é de estranhar.

quinta-feira, 24 de março de 2011

Hoje vi uma mulher a ler um livro na na fila entre a caixa para pagar e o balcão para receber a comida. Achei extremamente singular que alguém aproveitasse um tempo (no máximo!) de poucos minutos para tentar ler alguma coisa, como se tivesse medo que as páginas lhe fugissem. Até porque a leitura é conhecida como uma actividade intelectual que requere alguma paciência, calma e conforto: de todo desenquadrada numa cadeia de fast food.
Mas talvez o mais estranho seja que tenho percebido perfeitamente a senhora. Vivemos em tempos loucos, com cada vez mais coisas para preencher um dia que resiste teimosamente a manter as suas 24h. Fazemos os possíveis: ficamos só mais 2 minutinhos na cama em vez de 5, lavamos os dentes com mais força mas mais depressa, comemos à pressa nalguma cadeia de fast food ou uma sandes no balcão de um bar, em vez de confortavelmente sentados; dormimos 6 horas em vez de 10. Não é portanto de todo incompreensível que alguém tente aproveitar todos os segundos mortos perdidos na fragmentação do dia e os tente aproveitar através de um agradável hobby. Mas será este estilo e ritmo de vida para nós? Às vezes penso que eventualmente teremos que abrandar...

Filipe Baptista de Morais

sexta-feira, 11 de março de 2011

Nerd Worm


Não se fala de outra coisa. Nas ruas, nas universidades, nos cafés, nas discotecas, no bairro alto e nos lares de 3ª idade. Não sendo apologista da lógica das massas ao início tentei ignorar o fenómeno mas tal começa a ser agora impossível: parece que a(o?) Nerd Worm veio mesmo para ficar.

Como há sempre malta aparentemente escondida num bunker qualquer a quem estes fenómenos lhes passa ao lado vou agora explicitar o que é isso do(da?) Nerd Worm. Peço portanto desculpa aos restantes milhares de leitores que irão apanhar uma grande seca ao ouvir isto tudo mais uma vez. Ou então podem saltar o próximo parágrafo.
O Nerd Worm é um jogo para telemóvel (Windows Phone 7 actualmente), criado pela Jiahosoft, empresa que aparentemente vai mudar de nome numa óbvia tentativa de evasão fiscal. Dando ao utilizador o controlo de uma minhoca nerd (tão fofo não é?) este tem que apanhar letras para formar palavras, ganhando assim pontos ao alimentar a minhoca da intelectualidade deste mundo. O jogo está ainda repleto de power-ups, devido em grande parte à genialidade e ao talento do programador da Jiahosoft que se auto-encarregou desse aspecto.
Embora tal não seja do conhecimento público, posso aqui garantir que este projecto foi fruto do trabalho de apenas quatro estudantes do IST. Gostaria agora de poder referir tratarem-se de quatro génios com o sonho de mudar o mundo...mas não: tratam-se de quatro estudantes perfeitamente banais (um bocadinho mais bem parecidos que a média vá) com o sonho de comer pizza à pala. Isto porque a nossa amiga (e grande concorrente da Jiahosoft) Microsoft organizou na passada 6ª feira mais uma XNA Pizza Night, um concurso para programadores de jogos "Indies" (amadores por assim dizer) onde todos os participantes podem comer pizza à pala. Ou melhor dizendo, à pala da Microsoft o que é ainda melhor.
Fazendo-se representar pela sua secção lusitana, a Jiahosoft conseguiu neste evento arrecadar vários prémios:
- Equipa a chegar mais atrasada ao local;
- Equipa a comer mais pizza em menos tempo;
- Equipa com mais piada;
- Record individual de chamada telefónica mais longa (rumores apontam para cerca de 1h30min)

Para além destas importante distinções, o Nerd Worm garantiu-lhes ainda o 2º lugar na competição, e daí a sua recente popularidade. Os interessados podem ver a (curta) reportagem sobre o evento aqui, podendo inclusivamente ver breves imagens do jogo e ainda os quatro elementos da representação portuguesa da Jiahosoft.
Gostaria agora de vos deixar com algumas das frases inspiradoras proferidas no seu discurso de apresentação, mas infelizmente o vídeo desse acontecimento parece ter-se perdido no caos deste país, uma perda cultural incalculável para as gerações futuras. Assim sendo deixo-vos antes com um pequeno teaser:



Filipe Baptista de Morais

PS: Não vale a pena irem a correr para as lojas porque o jogo ainda não está disponível para venda. Em princípio estará disponível no Microsoft MarketPlace dentro de poucos meses, pelo que ficarei atento para vos avisar quando tal acontecer.

terça-feira, 8 de março de 2011

Uma Questão de Respeito

Aparentemente os Homens da Luta ganharam a edição deste ano do festival da canção. Digo aparentemente porque não segui a edição deste ano (nem a de nenhum outro já agora). E também nunca tinha ouvido falar nos ditos Homens da Luta, mas uma pesquisa rápida no youtube permitiu-me ficar a conhecer algumas das suas músicas e, sinceramente, achei-os muito fraquinhos. Com uma sonoridade algo pimba e letras (a meu ver) baratas e não tão bem conseguidas quanto isso não me conseguiram de todo convencer. No entanto é certo que também não precisaram do meu voto para vencer, e portanto uns sinceros parabéns para eles. Ainda bem que (ainda) não temos todos os mesmos gostos.
Mas não queria aqui divagar muito sobre os meus gostos musicais ou os do resto do país. O que realmente me interessou nesta história foi o facto de os referidos vencedores terem sido vaiados a reclamar o prémio. Isso é perfeitamente ridículo e demonstra uma atitude desrespeitadora para com eles e todos aqueles que votaram neles, o que é algo triste. Poder-se-ia até dizer que tudo isto é extremamente lamentável. Infelizmente não é caso único ou raro. Posso referir também aqui, por exemplo, a final do Estoril Open do ano passado em que o vencedor Alberto Montanes foi por duas vezes vaiado: a primeira ao derrotar o sempre favorito do público Roger Federer, a última ao derrotar na final o nosso Frederico Gil. Todos temos o direito a torcer por quem nos apetecer, mas parece-me que em que todo o tipo de eventos devemos prestar o devido respeito aos vencedores. Quem não desejar nem ficar satisfeito com a sua vitória tem mais é que ficar calado, e não andar a assobiar e a apupar. Mesmo quando se trata de defender os interesses da casa, como no caso Montanes vs Gil. Posso até referir que, no decorrer do mesmo evento, assisti ao vivo ao jogo em que a nossa Michelle Brito foi eliminada pela romena Sorana Cirstea e achei extremamente lamentável o comportamento de grande parte do público, constantemente a assobiar e a apupar nos serviços da romena, a mostrar claramente o seu desagrado com a vitória da mesma no final. Não é preciso degradar os adversários para apoiarmos os nossos favoritos. Neste âmbito nem vale a pena entrar no mundo do futebol, claro, esse está há muito perdido. Mas ver essa indecência a propagar-se para outros desportos e agora também para o mundo da música e, quem sabe, muitos outros sítios é algo que me desagrada profundamente.

Filipe Baptista de Morais