segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

A auto-estima do estudante

O público publicou a semana passada uma notícia com o título "Alunos que chumbam têm auto-estima mais alta do que os que passam com más notas". Isto é explicado pela teoria de que "perante o insucesso escolar, os estudantes têm tendência a investir noutras áreas do auto-conceito para conseguir manter uma imagem positiva de si próprios." Faz sentido, assim como o resto do artigo em si. Mas não haverá outra explicação alternativa?
Parece-me importante considerar, pelo menos, o facto de ser precisamente ao contrário. Isto é, estudantes que tenham investido noutras áreas do auto-conceito (que não deixa de ser um conceito muito interessante) tenham mais tendência a chumbar, precisamente por essa razão.
Outro facto, que me parece mais intrigante, é a assumpção implícita de que a auto-estima dos estudantes está tão intrinsicamente ligada ao seu desempenho escolar. Posso ser eu que estou a ficar velho, mas no meu tempo a auto-estima de um adolescente tinha mais a ver com o número de golos marcados contra a outra turma, ou com a abilidade de sacar gajas na discoteca. Mas talvez os adolescentes de hoje sejam simplesmente mais aplicados.
Filipe Baptista de Morais

domingo, 22 de janeiro de 2012

Informados, mas não tanto

Costuma-se dizer que estamos na era da informação. Afinal, ela está acessível rapidamente, vinda de todo o mundo e sob as mais diversas formas; jornais, rádio, televisão, internet, é só escolher. Curiosamente parece que também estamos numa época em que não queremos saber tanto quanto isso, contentamo-nos com os mínimos que nos permitem mandar uns bitates no café para parecermos minimamente instruídos. E isso reflecte-se, claro, na qualidade da informação disponível.

A análise a fundo de (qualquer) questão requer tempo, paciência e consequentemente disponibilidade. Para além do óbvio esforço intelectual. Tudo isto leva-nos a querer simplificar as coisas, na correria constante que são as nossas vidas. É assim muito mais simples - e comum - dizermos frases feitas e vazias com que toda a gente se identifique facilmente como "A guerra é má" ou "Os salários deviam ser mais altos". Não se tem em conta causas, consequências nem alternativas e assim se uniformizam opiniões, ao mesmo tempo que as despojam de fundamento.

A verdade do momento aparenta ser que "A maçonaria manda nisto tudo". Claro que ninguém sabe muito bem como. Nem porquê. De facto, a maioria - na qual infelizmente me incluo - nem sabe muito bem o que se deve entender por isto tudo, nem o que raio é a maçonaria. Mas lá está, isso não interessa a ninguém. O que interessa é que eles - sejam lá eles quem forem - mandam nisto - seja lá isso o que for - daquela maneira que eles lá sabem e com aquele determinado desígnio; isto toda a gente sabe, e chega para fazer a conversa de café.


Filipe Baptista de Morais

PS: Este post foi parcialmente inspirado pela excelente canção Spider's Web, da inigualável Katie Melua.

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

O porquê do porquê

Há uns tempos li um texto que apregoava a existência de dois tipos de escritores, os que precisam de escrever e os que precisam de ser lidos. Depois lançava-se numa longa e imaginativa descrição dos dois, sendo que o primeiro se caracteriza essencialmente por uma extrema timidez e insegurança, enquanto que o segundo transpira arrogância e certezas. Pessoalmente não me identifico com nenhum dos dois, o que faz sentido já que dificilmente poderei ser considerado um escritor.
É claro que etiquetar milhões de pessoas em apenas duas classificações diferentes é um tremendo disparate. Felizmente as pessoas são mais complexas e interessantes do que isso. Esta patética tentativa não merece então muita atenção, visto o absurdo das suas assumpções. O que pode aqui ser merecedor de escrutínio é algo mais subtil, a tentativa de justificar desejos subconscientes.
Dizer que escrevemos porque precisamos sub-conscientemente de o fazer ou de ser lidos é necessariamente fruto de uma observação exterior, uma opinião se assim o quisermos, não por isso menos válida; a vida não é um problema de Matemática. Tentar explicar essa explicação já é uma dor de cabeça muito maior. Interpretar uma necessidade subconsciente parece uma tarefa impossível à partida, já que o seus resultados não são visíveis; não se trata de interpretar uma acção. Claro que se pode empregar ferramentas de análise empíricas e/ou estatísticas, mas estas podem revelar-se perigosamente ambíguas a estabelecer relações de causalidade. Mais, visto que o que podemos ver são as acções e daí pressupor o estado emocional do agente, corremos o risco de nos ver embrenhados numa cadeia de erros não tão curta assim. Penso por isso que não devemos esticar a corda. O porquê das coisas é mais do que suficiente para nos ocupar durante uma vida. Deixemos o porquê do porquê para os filósofos.

Filipe Baptista de Morais