segunda-feira, 17 de março de 2014

24ª Meia-Maratona de Lisboa EDP

No passado Domingo, como certamente deram conta, teve lugar a 24ª Meia-Maratona de Lisboa EDP. Desta vez as inscrições encontravam-se esgotadas, com 27.000 participantes (embora a maioria estivesse inscrita na mini).

E aí começaram os problemas. Chegando ao local da prova "em cima" da hora de partida (cerca de 45minutos antes...) vi-me envolto numa multidão tão densa que foi impossível aproximar-me sequer da ponte. Mal notei quando deram o tiro de partida e, quando cruzei o pórtico de partida e liguei o meu cronómetro, o contador geral marcava já 37minutos de prova.

Mesmo então não se pode propriamente dizer que corríamos, mas antes que prosseguíamos em ziguezague aos saltinhos, tentando desesperadamente arranjar espaço por entre o magote de gente. Numa prova com 24 edições de experiência, e em que se sabe que a grande maioria dos inscritos vai para a prova mais curta andar, não é todo justificável que não haja um acesso a uma zona de partida especial para os atletas da meia-maratona. Como acontece, aliás, na corrida homóloga na ponte Vasco da Gama.

Devo dizer, a jeito de curiosidade, que a maior parte das pessoas em meu redor não parecia de todo incomodada. Excepto um casal de atletas holandeses equipados a rigor que, muito certamente, não voltarão a meter os pés neste país. De resto via-se muita alegria e felicidade, com pessoas de todas as idades a passear em família, por vezes com cães e bebés à mistura. E isto só mostra, mais uma vez, a diferença abismal de público alvo entre os atletas da meia-maratona e (a grande maioria d')os participantes da mini. Seria essencial terem zonas de partida diferentes, se não mesmo horas ou dias.

Devo dizer que a partida foi também retardada pelo acesso muito estreito à ponte, que volta e meia era interrompido por os seguranças terem de interceptar ciclitas ou pessoas que, muito conveniente diga-se, "não faziam ideia" de que era necessário efectuar uma inscrição. Costuma-se dizer que somos desenrascados. Talvez; lata não nos falta certamente.

Também não gostei daqueles que aproveitaram o evento para fazer política e/ou propaganda para outros fins. Não gosto mesmo de ser fotografada/filmado junto de pessoas aos berros exibindo cartazes com os quais não me identifico e/ou não escolhi apoiar. Além de que cada evento tem o seu propósito, e não é de bom tom tentarmos utilizar todos em nosso proveito.

A partir do 4º ou 5º Km (6º ou 7º reais, se contarmos o caminho até à partida e todos os Ss...) separavam finalmente as águas, e de repente a estrada encontrava-se vazia. Conseguimos então finalmente correr um bocadinho a um ritmo constante.

Infelizmente a minha parceira de corrida começou a sentir uma pontada no joelho pouco depois, pelo que a deixei na curva perto do terreiro do paço, mesmo antes do 8º Km, e prossegui então sozinho (já sei, sou uma pessoa horrível). Acelerei então dos cerca de 6min/Km (um pouco mais lentos até devido às circunstâncias complicadas) para volta dos 4min30s/Km, que mantive quase até ao final. Nos últimos 2Km abrandei significativamente, mais por falta de motivação do que por cansaço.

No final deram a medalha da praxe (uma prática que felizmente escolheram manter!) e um gelado ateatório. As tão apregoadas bananas da madeira já tinham esgotado.

O melhor estava para vir. Apanhei o eléctrico em Belém de volta para Lisboa, mas este apenas foi até Santo Amaro de Alcântara. Esperei noutra paragem mais em frente uns 5minutos por outro veículo, mas ao ver que o placard teimava em anunciar que este ia demorar mais um minuto (será que ainda falta um minuto?) desisti e comecei a encaminhar-me a pé. Ainda vi passar um 728, mas vinha apinhado e não saíu ninguém; impossível entrar. Vim portanto até ao Cais do Sodré, meio a correr meio a andar, sem ver passar mais nenhum autocarro ou eléctrico. Excelente organização não haja dúvida.

De positivo deixo apenas os abundantes e bem abastecidos postos de apoio, a medalha e a T-Shirt (muito gira). Não fique com grande vontade de voltar para o ano.


Filipe Baptista de Morais

segunda-feira, 10 de março de 2014

Cooperação

A Carris tem agora em curso uma campanha de combate à fraude, pedindo (ou urgindo?) os utentes a abrirem os olhos e combaterem a fraude. A comunicação pode, a meu ver, ser interpretada de dois modos bem distintos: um primeiro algo negativo e um outro de saudar, que acredito ser a verdadeira intenção por detrás da mensagem.

Por um lado podemos ver nas palavras e na imagem (um grande par de olhos, qual Big Brother) um incentivo ao vigilantismo e à denúncia. Não creio ser disso que necessitamos.

Mas também podemos ler na frase um apelo à reflexão e à conciencialização. Há demasiada gente que acredita verdadeiramente que não pagar um bilhete não prejudica ninguém. Há demasiado tempo que consideramos que tudo o que "damos" ao Estado é roubado, enquanto que tudo aquilo que ele nos "dá" é devido e peca por defeito.

Penso que a campanha seria mais eficaz se apresentasse números concretos. Eu, pelo menos, gostaria de ler algo como se a fraude nos transportes fosse reduzida para metade poderíamos baixar o preço dos bilhetes em x €. Talvez algo semelhante venha a acontecer na 2ª fase da campanha, a ter início já na quinta-feira segundo esta notícia. A mesma fonte adianta também alguns números, como a taxa média de fraude na Carris (15.2%). São números demasiado pesados. E não podem ser devidamente  aliviados com maior vigilância, sob pena de nos vermos a braços com encargos ainda mais pesados ou de cairmos no autoritarismo. Não; temos mesmo de cooperar.

Da parte do estado e das empresas, contudo, há também muito que poderia ser feito. É ridículo, por exemplo, que um portador de passe não o possa carregar num autocarro, tendo de comprar um (caro) bilhete simples para depois o carregar posteriormente. Mas não podemos usar essas falhas como escudo para o nosso comportamento. Cooperemos.


Filipe Baptista de Morais

sábado, 1 de março de 2014

De Nada

Ontem, como quase todos os dias, esperei pacientemente no início da passadeira junto à rotunda de Cabo Ruivo que um carro abrandasse a sua marcha antes de me fazer à estrada e, com um leve aceno de cabeça, agradecer a gentileza.

Contudo, desta vez ocorreu-me que o agradecimento não era adequado à situação. Afinal, o condutor não havia feito mais do que a sua obrigação. Faria mais setnido gritar e rabujar com todos os outros que não o haviam feito em primeiro lugar.

Percebi, algo triste mas não surpreendido, que essa atitude (que não é, de todo, da minha exclusividade) não é apenas produto da educação e personalidade. É antes uma demonstração do quão habituados estamos a que as regras não sejam obedecidas, mas antes constantemente testadas, deturpadas e desrespeitadas. Tanto pelos outros, como nós próprios. Somos, de facto, bastante desenrascados quando se trata de contornar este ou aquele "entrave".

Porquê? Para benefício próprio, seria a primeira e mais óbvia resposta. Mas não creio que seja muito verdadeira. Não somos pessoas horríveis; pelo menos não mais que todas as outras. Antes parece que, como fãs dedicados a discutir futebol, temos alguma pala que nos impede de ver o alcance das nossas acções e atitudes. Escudamo-nos com desculpas tão fáceis como falsas ou erradas, como "toda a gente faz isso", "uma pessoa não vai fazer a diferença", "não faz mal a ninguém", "é roubar aos ricos  para dar aos pobres", "eles é que provocaram isto".

Sempre achei que devemos viver de modo a poder pensar, algo arrogantemente, que se mais pessoas fossem como nós o Mundo seria um lugar melhor. Ou, de certo modo, equivalente, que devemos encarnar a transformação que queremos ver no Mundo. Não nos devemos reger ou medir por médias ou medianas, ainda para mais tão frequentemente mal calculadas. Se todos são maus, alegremo-nos: assim é tão mais fácil fazer melhor.


Filipe Baptista de Morais