quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

A importância do insignificante

Como todos sabem, foi-nos cortada (bem a mim não que aparentemente os estudantes têm estatuto especial) a tolerância de ponte do Carnaval. A maior parte de nós descobriu ainda assim que o Carnaval não é nem nunca foi um feriado; está-se sempre a aprender.

Passos Coelho defende este corte dizendo que não fazia sentido dar tolerância de ponte quando se está a cortar nos feriados, inclusivamente nos religiosos. Tudo certo, excepto talvez esta ênfase nos religiosos. Isto porque parece implicar que esses são mais importantes que os outros; estará isso correcto?

Os feriados não religiosos tendem a relacionar-se com grandes feitos históricos passados (como a Batalha de Aljubarrota, a Implantação da República e a restauração da independência). São assim um motivo de orgulho e união Nacional. Já os religiosos não dizem nada a quem não é religioso. Por outro lado , para os crentes, representam algo mais importante que tudo o resto. É um tudo ou nada difícil de balancear. A religião está ainda intimamente ligada à História do País, pelo que as questões não são tão separáveis assim.

Seja como for, menos um dia de férias é chato para todos. Menos para os estudantes aparentemente.


Filipe Baptista de Morais

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Barco ao Fundo

Está nas bocas do mundo o triste e lamentável incidente com o navio Concordia. Como sempre em casos mediáticos, foi rapidamente procurado um culpado a quem impôr todos os defeitos e mais alguns. Neste caso tratou-se do comandante do navio, cuja conduta aparenta de facto ter sido (no mínimo) imprópria. Mas não me conseguem convencer que este homem sozinho conseguiu comprometer uma embarcação que transportava vários milhares de pessoas. Certamente que muitos outros se estão a esconder nas sombras, suspirando de alívio por os holofotes dos media não lhes serem direccionados.

Mas quero focar-me noutro aspecto que acho mais interessante e tanto ou mais relevante. Este caso é muitas vezes apontado como um exemplo do falhanço das tecnologias modernas: uma embarcação equipada com os mais modernos dispositivos electrónicos que naufragou. Ora tanto quanto eu sei não houve qualquer falha dos sistemas, o barco simplesmente não foi construído para se conduzir sozinho; o melhor sensor de estacionamento não nos impede de estampar o nosso (imaginário) Audi caso ignoremos o persistente e irritante piiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii. Não que isso seja impossível ou não exista já; veículos autónomos são umas das mais interessantes aplicações da robótica. Mas o interessante disto é a forma como as pessoas encaram a automação.
Tudo o que é automatizado tecnologicamente tem de funcionar. Sempre. Ainda para mais quando há questões de segurança em jogo; nunca se admite que uma máquina ponha em risco a integridade física de um ser humano, num curioso reflexo de umas previstas leis da robótica de Asimov. Mas por vezes devíamos ter mais em conta as alternativas; não será um sistema fiável 80% das vezes útil se um humano a desempenhar a mesma tarefa apenas acertar metade das tentativas? Exigimos a perfeição às máquinas, quando ela nunca esteve ao nosso alcance. Talvez nos falte um pouco de modéstia.