quinta-feira, 21 de abril de 2011

A Estrelinha Teimosa


Quando era pequeno era extremamente difícil tirar-me da cama. Não era pois de todo incomum tentarem convencer-me dizendo que já todas as estrelas se tinham ido embora. Levantava-me então, hesitante, e dirigia-me para a janela madrugadora... apenas para constatar invariavelmente que uma trémula luz solitária permanecia no ainda escuro céu: a estrelinha teimosa. Mais teimoso do que a estrela, servia-me dela como pretexto para voltar para a minha caminha até que ambos, estrela e eu, tínhamos que nos render ao nascer de um novo dia e abandonar os nossos confortáveis lares.

Quando cresci um pouco e comecei a ter alguma noção de quão ingénuo e inocente era antes (mas ainda sem qualquer noção de quão ingénuo ainda era) prometi escrever um livro sobre a estrelinha teimosa. O livro ainda está para vir, mas achei que um post era melhor que nada.

Hoje já não preciso que me tirem da cama; as minhas responsabilidades e vontades tratam são suficientes para isso. E se não forem também não preciso de estrela, teimosa ou não, para me render à preguiça. Até porque quando me levanto, hesitante, e me dirijo para a janela madrugadora apenas vejo a comum azáfama matinal de pessoas e carros, não está lá nenhuma estrela. Talvez nunca tenha estado, e a teimosia fosse toda minha...


Filipe Baptista de Morais

domingo, 10 de abril de 2011

Homogeneidade

Uma das maiores e porventura a mais visível consequência da "recente" globalização é a imiscuição de culturas. A globalização permitiu o contacto mais frequente (e profundo) de pessoas de diferentes culturas e lugares, e a essência humana tratou (e trata) do resto. Seja por desejo de integração ou por simples troca e partilha, a história diz-nos que os iniciais conflitos culturais tendem para a homogeneização.

Excepção à regra são alguns países africanos e asiáticos, muitos dos quais aparentavam estar a aproximar-se de nós, para agora inexplicavelmente se afastarem com um safanão. Mas a maior parte desta resistência reside em factores religiosos e portanto não puramente culturais. Outros países, como a China, prezam tanto o seu passado e cultura que se fecham dentro dos possíveis ao mundo exterior.

Mas pelo menos aqui pela Europa a tendência é extremamente clara. É curioso ver como pessoas que vivem a mais de 4000Km se vestem da mesma maneira que nós, têm estilos de vida semelhantes, vêm os mesmos filmes e ouvem as mesmas músicas. Isto permite uma conectividade, um inter-relacionamento que de outro modo seria impossível: é difícil estabelecermos uma ligação com alguém que nada tem em comum connosco. As estrelas POP, os filmes comerciais e os Starbucks deste mundo servem assim de pontos a unir os europeus, por vezes até pontes inter-continentais (ou não fosse a Starbucks americana!).

É assim importante cada povo manter uma certa divergência cultural, ser uma unidade constituinte de um todo, e não um modelo standard num admirável mundo novo. Coisas como a língua materna (tema que me parece merecer um posto dedicado), a música e danças tradicionais, a comida, a maneira de pensar, enfim, tudo o que nos define enquanto povo deve ser resguardado. Por enquanto parece que isto está a ser conseguido: particularmente no capítulo da comida ainda se nota grande diferença (e ainda bem!) ao viajar por aí fora. Embora seja de facto irritante pedir um café e receber água castanha. Que ainda por cima é cara. Mas é como se costuma dizer, não há almoços grátis. Será que atingimos um equilíbrio ou todas estas particularidades estão destinadas a perderem-se no esquecimento? O tempo o dirá.

Uma última nota referente ao nosso caso particular. A maior parte do mundo considera que os portugueses são pessoas divertidas (embora preguiçosas, talvez) que vivem num lindo país, embora poucos saibam onde fica (os americanos têm especial tendência para nos colocar na América do Sul). No entanto, parece ser profundamente característico dos portugueses a "auto-flagelação", comiseração, despeito e desrespeito (é para meter um auto em tudo). É espantoso como continuamos a ter visitas (e muitas) quando o quadro que pintamos de nós e do nosso lar é tão grotesco e desacolhedor. Está na altura de olhar com olhos de ver, deitar um pouco da nossa infinita modéstia (se é que é disso que se trata) e apregoar tudo aquilo que temos de bom e fantástico. Esta "lixeira" tem dos locais mais belos do mundo para se visitar, já para não falar na gastronomia (sim eu gosto muito de comer) de fazer inveja a quase todo o mundo. Que raio, se temos mesmo de exagerar então que seja para puxar o lume à nossa sardinha!

Filipe Baptista de Morais

terça-feira, 5 de abril de 2011

Trilhos do Almourol


Nome da Prova: Trilhos do Almourol
Comprimento: 39Km
Data: 3 de Abril de 2011
Objectivos Mínimos: Terminar
Desafio Pessoal: Terminar inteiro
Melhor Tempo em Provas Semelhantes: NA



Esta foi uma prova de atletismo especial para mim: foi a primeira prova de trilhos que realizei, assim como a primeira com uma distância superior a 21Km. Devo confessar que para mim um trilho era uma estrada plana de terra batida, e não isto que se vê aqui na foto. De notar que essa nem era das piores partes, já que em grande parte do circuito o relevo era tão acentuado ou os trilhos tão estreitos e repletos de obstáculos que se tornava impossível correr. Tudo isto levou a que completasse a prova numas estonteantes 5h 59m 35s, num esforço que não me julgava capaz de exercer. Mas não me arrependo de nenhum segundo: o percurso é simplesmente lindíssimo e a organização esteve impecável, quer na sinalização do percurso quer no conteúdo dos postos de abastecimentos. Pena não ter tido tempo no final para usufruir dos massagistas.


Depois disto fiquei cheio de vontade de me testar numa maratona de estrada. Quem sabe talvez dê um saltinho a Faro para a Maratona do Algarve.


Filipe Baptista de Morais