sexta-feira, 24 de abril de 2009

Em busca do vale encantado

A procura de algo mais é inerente a todo o ser humano. E não me refiro àquilo que apelidaríamos de ganância mas sim ao básico desejo de ser feliz, ou melhor dizendo, ser mais feliz. Isto porque esta ânsia, este frenesim nada tem que ver com a nossa condição actual, nem com nenhum objectivo em especial, apenas mais, apenas chegar mais longe sem querer na realidade chegar a lado nenhum. Isto aplica-se à vida professional mas principalmente à vida pessoal. Parece-me razoável se não importante não nos conformarmos com aquilo que nos desagrada e essa tal procura pode surgir assim como um constante aperfeiçoamento, uma auto-estrada interminável que nos leva cada vez mais perto do paraíso. Mas devemos então passar a vida a procurar o local perfeito, o trabalho perfeito, a mulher perfeita? Certamente que não, ou estaremos a desperdiçar o nosso tempo à espera de viver. Uma auto-estrada pode ser a maneira mais rápida de viajar mas temos que a abandonar para chegar a algum lado. Talvez o ideal seja definir perviamente um destino, embora tal se possa revelar complicado. Demasiado perto, e a sensação de vazio e insatisfação não nos abandonará. Demasiado longe e talvez nunca mais lá cheguemos. Além disso de ambos os modos se perderia grande parto de encanto da vida, que provém do imprevisto. Então, porque não aqui? Afinal, é mais fácil mudarmos a nossa visão do mundo do que o mundo em si, e o único vale encantado que iremos encontrar é o que encantarmos sob os nossos pés.

Filipe Morais

O outro lado

Nos confrontos de ideias, surge frequentemente a tirada acusadora "Achas que tens sempre razão" (as mulheres são especialmente terríveis neste aspecto). No entanto, se analisarmos a questão, parece uma afirmação bastante redundante e inofensiva. Eu pelo menos, e espero poder contar com o apoio do leitor neste ponto, não me daria ao trabalho de defender as minhas ideias se não acreditasse nelas. E sendo "picuinhas" o verbo achar dá-nos uma certa margem de dúvida que nos salva da pele de arrogantes. E só me parece saudável e prova de auto-confiança achar que se tem razão até demonstrado o contrário. Claro que isto não implica a imediata invalidez de todas as outras opiniões. Aliás, nada como o confronto ou a crítica negativa para enrijecer uma tese, contando que não a destruam. Afinal, o que não nos mata torna-nos mais fortes, ou pelo menos é o que dizem na tropa. Se estiveres neste ponto a pensar que estupidez, faz o favor de discordar. Por enquanto acho que tenho razão.

Filipe Morais

domingo, 19 de abril de 2009

Mais Um Texto

Cheguei à pouco tempo da nª corrida do metro,(nª=enésima, com n pertencente aos números naturais, se não perceberam alegrem-se e os meus parabéns, saber estas gírias matemáticas idiotas não dá felicidade a ninguém) um percurso de 15km começando em sete rios e terminando no Rossio. Para os leitores mais assustadiços, não se alarmem! Este blog (ainda) não se tornou num diário lamechas e aborrecido, apenas me parece interessante ter uma expeiência concreta sobre a qual "reflectir" (claro que não se pode chamar reflexão aos disparates que surgem por aqui, mas infelizmente a língua portuguesa não tem nenhum palavra para representar tal singela actividade). Ora bem, começando com um ritmo não muito elevado (há que poupar combustível, a crise é lixada) ao chegar aos 6km senti-me suficiente bem para acelerar um pouco, talvez também influenciado pelo alucinante ritmo dos Dragonforce proveniente do Ipod(eles realmente sabem spammar a guitarra eléctrica como ninguém). Ora infelizmente parece que o indicador de combustível não funciona muito bem (e tocar guitarra cansa menos do que correr), pois aos 10km o depósito começou a dar de si. Felizmente a recta final (que na realidade não é uma recta) consistia numa simpática descida, pelo que pude engatar o ponto morto e deixar o motor descansar um bocadinho. Ora ao chegar à marca dos 14km, desta feita ao som dos Rise Against, voltei a acelerar bruscamente (como a maioria dos outros participantes) fazendo o melhor tempo nesse último km(15-14=1, para os de letras). Isto deve-se mais ao estimulante desejo de ir descansar do que propriamente tentar fazer um melhor tempo. Ora bem, que ilações se podem tirar daqui?
1º-Descer é mais fácil do que subir(ah pois é, nós futuros engenheiros percebemos de física e destas coisas).
2º-Não temos grande noção dos nossos limites. A noção que vamos adquirindo advém puramente da experiência, e não de uma avaliação racional da nossa condição física.
3º-Dragonforce e Rise Against são bons sons ( se alguma simpática leitora não perceber de onde tirei esta brilhante conclusão, combinamos um cafézinho que eu explico; se algum gajo não percebeu sinceramente estou-me nas tintas)
4º-O gestor de esforço físico do corpo humano é bastante estúpido. Correr mais rápido para chegar à meta mais depressa e ir descansar é sem dúvida dos raciocínios mais idiotas que já vi. No entanto o corpo tende a obedecer-lhe e não à lógica (que sem dúvida faria uma melhor gestão!) porque deus na sua preguiça e incompetência nos trocou as hierarquias todas (daí os rapazes apaixonados serem tão patetas). Quando morrer hei-de pedir o livro de reclamações.
5º-De qualquer experiência, por mais simples e banal que seja, se podem tirar ilações. Por seu lado, o número de ilações que se podem tirar é proporcional ao interesse da experiência, ao quadrado da imaginação do ilator(isto existe?) e à exponencial da parvoíce do mesmo. Se considerarmos que correr é uma actividade relativamente interessante, penso que podemos concluir que não sou muito dotado nos outros dois factores (ou talvez esteja a suprimir ilações!)
Querendo-me despedir antes de cair pa frente (o meu portátil é frígido e não reage bem ao contacto físico) dou então por terminado mais este texto.

Filipe Morais

terça-feira, 14 de abril de 2009

O Patinho Feio

Gostaria de começar por salientar que o leitor não é normal. E não, não é num bom sentido, mas no único sentido que realmente faz sentido: o de não ser, de facto, normal. Portuê perguntas tu, pensando que o anormal sou eu. Bom, de facto é verdade. Na realidade não existe ninguém verdadeiramente normal, ou pelo menos ainda não tive a infelicidade de conhecer tal personagem, que de qualquer modo me parece bastante desinteressante. Ser normal hoje em dia é a maior anormalidade que se pode imaginar (e má filosofia de engate ainda por cima!). Finalmente dicas de engate pensas, interrogando-te porque demoraram tanto. (Num pequeno aparte para os mais observadores, a mudança de tom semi-formal para o tratamento por "tu" não foi errónea ou acidental. E não, também não se trata de nenhum genial recurso estilístico, simplesmente apeteceu-me). Ora por um lado sendo um blog público, não tenho meio de saber se o leitor merece tal aconselhamento, ou se lhe daria bom uso. Mais importante ainda, é certo e sabido que a minha legião de fãs do sexo feminino excede largamente os meus leitores masculinos, pelo que expôr aqui tais conteúdos poderia ofender uma grande parte dos leitores. Vou abster-me, portanto, de oferecer tais conselhos. Agor que convenci todos os homens de que definitivamente não vale a pena ler o isto (excepto talvez um ou dois homosexuais) vou regressar ao tema (se é que merece tal designação deste texto. Parece estranho, dado o conceito de normalidade, não existir ninguém que o preencha? Bom, numa desnecessária alegoria explicativa poderia dizer que estatisticamente o Jardel marcava 1,5 golos por jogo no Sporting (na realidade atirei um número ao calhas mas, claro, já não está nenhum rapaz a ler isto para me desmentir!), no entanto, como é óbvio nunca marcou 1,5 golos num jogo. E numa espectacular jogada de génio, após me livrar da ausência masculina, consegui agora afuguentar as minhas lindas leitoras com uma breve menção de futebol. O meu público está agora, portanto, limitado aos homesexuais. Assim, antes que a conversa comece a descambar, retiro-me discretamente. Beijinhos a todos

Filipe Morais

domingo, 5 de abril de 2009

Santos e Pecadores

Desde sempre (ou pelo menos desde que começou a viver em sociedade) que o ser humano se esforça por distinguir o bem do mal, e passar esse conhecimento às gerações futuras. Então porque raio não aprendemos nada? Uma boa resposta poderia ser que na realidade aprendemos, mas preferimos não ser "bons". Porquê? Bom, para já não acarreta grandes vantagens, muito pelo contrário. Ou talvez tenha simplesmente passado de moda. Tal resposta não seria certamente mentira, todos agimos por vezes de um modo admitidamente errado, mesmo na altura do acto, por proveito próprio ou de outrem (estranho agirmos contra as nossas próprias convicções não?). Por que o fazemos? Simplesmente, porque humanamente não conseguimos ser imparciais na ponderação de interesses, ainda que não o queiramos tendemos sempre a pôr os nossos interesses e os dos nossos amigos à frente dos de um desconhecido por exemplo. "Fala por ti" pensa o leitor, reflectindo sobre todas as boas acções que efectuou hoje, e talvez as que efectuará amanhã. Não querendo ofender ninguém mas forçado por um voto de sinceridade (claro que é treta mas é o meu blog logo posso escrever o que me apetecer) vejo-me obrigado a anunciar que não acredito em santos. Não acredito que alguém seja capaz de praticar apenas o bem, até porque esse conceito se revela, triste mas sistematicamente, relativo.

O que é afinal uma boa acção? Para alguns tal seria uma acção que, pesados todos os prós e contras, gerasse mais felicidade que miséria. Claro que, mesmo que considerando que conseguimos avaliar a felicidade gerada imparcialmente, ainda assim qualquer idiota conseguiria apontar objecções a esta teoria. Em primeiro lugar, a irrelevância da intenção não parece, de todo, aceitável para a classificação do agente consoante as suas acções. Claro que poderíamos dizer que uma acção foi boa, apesar de o seu praticante não o ter sido. Fazendo isto teríamos que definir o bom agente não como aquele que pratica boas acções mas como aquele que o faz com boas intenções. Não que isso tenha alguma coisa de mal, apenas complica um pouco a questão. Em segundo embora talvez primeiro lugar (tudo depende do modo como organizamos as coisas), tal teoria parece não se enquadrar verdadeiramente naquilo que consideramos certo e errado. Imaginemos a seguinte situação: um jovem ladrão rouba (sem que a incauta vítima se aperceba) 2 euros a um velhote. Ora o velhote, já meio taralhoco, não faz ideia de quanto dinheiro tinha, logo nunca dará pela sua falta. Podemos assim dizer que o seu nível de felicidade se manteve. O ladrão por outro lado encontra-se feliz, tanto por ter mais dinheiro como com a sua perícia por ter conseguido roubar um velhote taralhoco. Não vamos considerar que o ladrão fica com remorsos, não só porque seria provavelmente mentira mas também porque tal destruiria o objectivo da história que tanto trabalho me deu a inventar (nem por isso, mas mesmo assim é de se aproveitar). Assim, segundo esta teoria, tal roubo seria uma boa acção, mas a meu ver tal só é verdade se eu for o ladrão.
Outra teoria, mais centrada na intenção, defende que uma boa acção, para além de gear bons resultados, tem de ter uma intenção altruísta, por outras palavras, praticar o bem não pode dar satisfação ao agente, pois tal tiraria o mérito que uma boa acção necessita. Parece fazer sentido, mas no entanto é também um pouco estranha, pois que tem de errado aquele que gosta de praticar o bem? Não seria tal indivíduo um verdadeiro santo? Em última análise, parece-me que tal raciocínio nos leva a concluir que não há, nunca houve nem nunca haverá uma boa acção.

Voltando um pouco atrás, o bem e o mal não são conceitos naturais, são conceitos humanos. Ora se fomos nós que os "inventámos" porque temos tanta dificuldade em defini-los? Talvez porque sejam indefinivelmente relativos e pessoais. Em "A Bruxa de Oz" (*), uma obra notavelmente estranha (e notavelmente notável se me perdoarem a ridícula expressão) Gregory Maguire reflecte, entre outras coisas, sobre a essência do bem e do mal (parece que afinal a bruxa má até era uma gaja porreira! embora não muito gira). A certo ponto no livro uma das personagens diz algo do género (*2): A tua grande capacidade para o mal advém de acreditares demasiado piamente na tua capacidade para o bem. Esta afirmação retrata bem o carácter relativo destes conceitos e também o perigo de crenças obcessivas. Não é por acaso que a maior parte dos terroristas são fanáticos religiosos.

Outra citação, esta de Daniel Defoe em "A System of Magick" comenta: É bastante estranho que os homens gostem de ser considerados mais malvados do que são. Tristemente verdade, embora talvez não tão estranho assim. Num mundo onde a honestidade e a soliedariedade são confundidas com fraqueza, impõe-se a lei da selva que nos leva a tais atitudes. Num último comentário, todos somos pecadores, se não para nós mesmo e o nosso deus, então para outros e outro deus qualquer.

Se chegou até aqui, parabéns, o texto está quase a acabar. Alegra-me que o tenha lido e portanto foi com certeza uma boa acção. Se simplesmente leu o título e passou para este último parágrafo, temos pena mas não há nenhum resumo do texto. Posso apenas adiantar que não é sobre a banda.

Filipe Morais

(*)"Wicked" no original, sendo a sua sequela "O Herdeiro de Oz" traduzida de "Son of a Witch"
(*2)O livro tem quase 500 páginas e não me quis dar ao trabalho de procurar a citação exacta (se nem me dou ao trabalho de escrever 500 por extenso!) mas de qualquer maneira não há-de ser muito diferente.