quinta-feira, 30 de julho de 2009

Exaustão

Por vezes as férias podem ser a altura mais cansativa do ano. Afinal é quando temos mais tempo livre e, apesar de saber bem o ocasional dia passado no sofá sem fazer nenhum, regra geral uma pessoa aborrece-se se não levar uma vida mais activa.
No entanto o cansaço que daí advém, essa fadiga voluntária, não é de todo desagradável. O cansaço no trabalho pode servir como fonte de orgulho quando as coisas correm bem, e tanto pode servir de consolação como de irritação quando estas correm mal (depende de como vemos as coisas). Mas o "cansaço lúdico", esse apenas nos transmite uma estranha sensação de satisfação. Talvez sintamos que, ao puxar por nós, estamos a aproveitar a vida ao máximo. Ou talvez essa satisfação não passe do inerente conhecimento de que podemos descansar após um longo desgaste, que nos podemos deitar algures livres de responsabilidades e recarregar baterias.
Agora que chegámos a este tão bonito conceito, é exactamente isso que vou fazer: descansar. Não irá portanto aparecer nada de novo nestas bandas no próximo mês. Cumprimentos e desejos de boas férias,

Filipe Morais

quarta-feira, 22 de julho de 2009

Acontece (aos melhores xD)

Anteontem parti duas cordas da minha pobre raquete de ténis. Tudo aconteceu por volta das 5 da tarde, uma hora razoável para a prática desportiva: suficientemente tarde para não interferir com a digestão mas suficientemente cedo para o sol nos assar como porco no espeto. Back to the point, estava eu concentrado em posição de espera quando se aproxima de mim um serviço "mansinho" (perdoem-me a private mas não resisti, peço ao comum leitor que a interprete como uma simples ironia). Enfim, querendo responder à altura, puxo o braço bem atrás e... prontos, lá se vão as cordas.
Que se sente num momento destes? Creio que o meu primeiro pensamento foi "Bolas, a minha raquete!". Confesso, que foi a minha primeira vez, não estando portanto habituado a este tipo de situações. Mas, também de imediato, não me consegui impedir de sentir a satisfação tipicamente humana de partir qualquer coisa. De onde vem tal sensação? Penso que o acto de destruir algo serve como uma demonstração de poder, fazendo-nos acreditar que temos a capacidade de alterar o que nos rodeia, o poder para mudar o mundo.
Uma última sensação percorreu-me o espírito, desta feita sob a minha condição de tenista. De algum modo, senti o quebrar das cordas como uma mudança de patamar, aliada a uma satisfacção profissional comparável à do miudinho de 10 anos cujo instrutor diz que finalmente pode jogar do fundo do court. Afinal, não é qualquer tenista de fim-de-semana que parte as cordas da raquete, tal sugere já uma certa mestria na arte (por antagonista que possa parecer).
E prontos, lá mandei re-encordoar a raquete. Voltará, a mesma armação, mas não a Mesma.
R.I.P miúda.

Filipe Morais

quinta-feira, 9 de julho de 2009

Man in the mirror

Conhecem "Os Sopranos"? Uma série bastante popular há algum tempo. A personagem principal, Tony Soprano, tenta manter a sua família unida por entre as "crises de identidade" da sua mãe, a rebeldia dos seus dois filhos adolescentes, a próxima relação que a sua mulher tem com um padre, e as suas próprias escapadelas. Tony esforça-se por ser um bom pai e um bom marido (dentro dos possíveis), é amigo de seu amigo, enfim, é um gajo porreiro. No entanto é também um líder da máfia local, capaz de brutais e impiedosos assassínios. Como se podem duas personagens tão diferentes concentrar num mesmo homem? E, estranhamente, o resultado é bastante verosímil. Tony demonstra preocupar-se apenas consigo e aqueles que o rodeiam, fechando os olhos ao resto do mundo. Mas este não desaparece apenas por o ignorarmos, e fazê-lo é apenas uma mostra de egocentrismo e egoísmo. No fundo todos temos um pouco de Tony dentro de nós, uma inescapável tendência para colocar os nossos interesses, e os daqueles que nos são próximos, à frente dos das outras pessoas. Pareceu mau, mas qual a alternativa? Uma conduta perfeitamente justa e imparcial transformarnos-ia em máquinas, clones mecânicos sem livre arbítrio. Por outro lado, o oposto permanece inaceitável. Esquecimento ou "não reparar" não podem ser aceites como desculpas, apenas servem para nos escudarmos atrás de uma amnésia selectiva.

Ninguém é perfeito e o mundo encontra-se lastimosamente longe de tal paraíso, como nao podia deixar de ser de uma soma quase infinita de tantas imperfeições. Algumas são demasiado grandes para as vencermos, embora possamos sempre lutar contra elas. Se vale a pena lutar por causas perdidas, marcar uma posição sem desejo ou hipótese de vencer, é outra questão. Outras porventura não nos caberá a nós julgar. Aquilo que podemos e devemos julgar e mudar somos nós próprios. Como cantava Michael Jackson, para mudar o mundo devemos começar com o homem que vemos no espelho, pois é ele que podemos tornar em tudo aquilo que desejarmos. Ainda que seja mais fácil tentar mudar os outros que a nós próprios, apenas em nós residem os meios para exteriorizar tudo aquilo que somos ou desejaríamos ser.

Filipe Baptista de Morais