sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Books

Para quem gosta de ler, os livros são uma inesgotável fonte de entretenimento e aprendizagem. Claro que há muitos tipos de livros, e cada pessoa tem os seus géneros e autores favoritos. É engraçado notarmos o quanto os livros que lemos dizem sobre nós, sendo que muitas vezes eles próprios podem ser catalisadores de mudanças no leitor. É por isso comum apegarmo-nos aos livros que lemos, guardando-os como troféus.

Mas infelizmente os troféus ocupam espaço, por vezes demasiado espaço. Tive por isso que extraditar muitos dos meus antigos livros, de modo a fazer espaço para outros. Foi neste contexto que me ocorreu que seria interessante fazer uma biblio-biografia, um alinhamento de livros marcantes por ordem cronológica, ainda que por vezes a memória faça algumas viagens no tempo. Esta tarefa seria muito interessante se fosse extensiva e pormenorizada, processo que levaria demasiado tempo e exigiria registos que não possuo. Ainda assim, não posso deixar de imaginar como seria maravilhoso ver o desenrolar de todos os títulos que uma pessoa leu, indicando a altura da leitura e o seu impacto. Penso que o resultado seria algo muito semelhante à prática exposta no filme "The Final Cut" (A Última Memória), que já agora aproveito para recomendar.

Os primeiros livros que me lembro de ler são as banda-desenhadas de Calvin & Hobbes; extremamente divertidas e por vezes também profundamente reflexivas foram a introdução perfeita para o mundo das leituras. Podem facilmente perceber o alcance da sua influência pelo título do meu blog, e pela sua explicação. Havia também uma colecção de BD da Disney, com as histórias em português nas páginas do lado esquerdo e a sua tradução do lado direito, uma ideia genial para ajudar as crianças a aprender a língua. A minha incursão pelo mundo das BDs prosseguiu com as revistas do Homem-Aranha, X-Men e Wolverine que coleccionava, ordenava e guardava religiosamente e agora não faço ideia onde estão.

Gradualmente o meu apetite pela literatura fantástica foi-se dispersando para o campo dos romances, tendo devorado com especial apetite os livros da colecção Via Láctea. Destes tenho que destacar Lobo Branco, que considero um dos melhores livros do género que já li; O Mistério de Alaizabel Cray, que na altura me inspirou imagens visuais extremamente nítidas, eu que geralmente ignoro as partes descritivas dos livros, e por fim os Guardiões da Noite/Dia/Crepúsculo, que lançam três perspectivas distintas do mesmo tema, questionando as etiquetas do bem e do mal de uma forma pouco comum em obras do género. Já agora menciono também Crónicas de Allaryia e A Dança de Pedra do Camaleão, obras que se destacam por serem de autores portugueses e pouco ou nada ficarem a dever às de origem estrangeira. O Senhor dos Anéis não ficaria fora de nenhuma lista que se preze, visto que por detrás dos livros estão não apenas histórias fragmentadas mas sim a criação de todo um novo Mundo, com História, Geografia e Línguas próprias.

Algures pelo meio da incursão pelo mundo fantástico deu-se a minha introdução ao suspense, através de O Assassinato de Roger Ackroyd, para mim ainda hoje o melhor livro policiar que já li. O Cão dos Baskerville também não podia ficar de fora, sendo em torno do mítico Sherlock Holmes que mais uma vez aparece para explicar o inexplicável. Em torno da mesma personagem, A Sabedoria dos Mortos explora os seus limites assim como os que separam o credível do fantástico, um pouco da semelhança das primeiras temporadas da popular série LOST.

Uma pequena menção a Os Maias, que para mim foram inigualavelmente dolorosos e inclusive me fizeram abandonar as leituras por uns tempos.

Numa fase em que comecei a interessar por psicologia e sociologia Não nos estamos a entender fez-me compreender porque não vale a pena tentar entender as mulheres, enquanto que Vencer com as Pessoas me relembrou que em qualquer área temos sempre coisas para aprender e melhorar, mesmo algo tão intuitivo e natural como os relacionamentos pessoais e profissionais. Certamente uma das obras mais marcantes que já li, Admirável Mundo Novo pôs em causa muitas das minhas crenças em relação ao rumo que a Humanidade deveria tomar.

Breve História de Quase Tudo faz jus ao seu nome, se considerarmos 484 páginas breve. Está cheio de factos e curiosidades interessantes, a maioria dos quais infelizmente já não retenho.

Para voltar ao género fantástico seriam precisas duas grandes (muito grandes mesmo, quase mil páginas) obras; Jonathan Strange & o Sr.Norrell cativou-me por enquadrar solenemente o fantástico no mundo real, resultando numa fascinante ficção histórica que é também notável pela verosimilhança das personagens e do tratamento que lhes é dado; já Dune é uma obra de ficção apenas comparável ao Senhor dos Anéis em termos de background fornecido. As suas conotações políticas e sociais também me deram que pensar.

Estado de Pânico veio recordar-me um dos mais importantes princípios do verdadeiro conhecimento e do método científico: questionar tudo. História fictícia justaposta sobre dados reais, semelhantes ao método empregado pelo tão aclamado Dan Brown, é capaz de tornar qualquer pessoa num céptico em relação ao aquecimento global.

Talvez influenciado pela faculdade, comecei a interessar-me mais pela ficção científica, onde são inúmeros os livros marcantes, tanto para mim como para a História da Literatura. Só para dizer alguns nomes, Eu, Robot e Sonham os andróides com ovelhas mecânicas? exploram sublimemente algumas questões éticas ligadas à robótica e à Ciência no general, assim como da condição humana, dando ao leitor muito em que pensar, enquanto que Fahrenheit 481 e Relatório Minoritário são dois exemplos do que o futuro nos reserva se as evoluções tecnológicas não forem olhadas com cuidado, assim como o seu potencial impacto social. Em ambos as obras notei um conceito de bem geral semelhante ao de Admirável Mundo Novo.

Um dos livros que mais me pesa não ter lido na versão original, Lolita é perturbadoramente belo na forma como consegue gerar empatia com um pedófilo, e na consciência que o mesmo tem de si próprio.

Nascidos Para Correr é um must para qualquer adepto de atletismo, seja amador ou profissional. Contextualizando o ser humano e a sua evolução enquanto animal, encontra-se repleto de factos biológicos que têm tanto de desconhecido como de fascinante, assim como de histórias impressionantes e motivadoras.

Num contexto em que os vampiros aparecem associados a ridículas séries e livros, Minha Besta (Uma História de Amor) veio com o seu humor mostrar que ainda são um tema que pode ser explorado com qualidade.


Para finalizar, Portugal na hora da verdade veio como que fruto da actual situação de crise nacional e internacional, assim como a minha (algo patética) tentativa de melhor as compreender.

Estes foram os títulos que me ocorreram, hoje, de caneta na mão e papel à frente. Provavelmente se escrevesse isto para o ano os nomes seriam outros. Talvez assim os livros escolhidos representem não só um pouco do que fui como também do que sou agora.

Filipe Baptista de Morais



sábado, 24 de dezembro de 2011

O melhor possível

Pedro Boucherie Mendes acredita que "o que é mais motivo de orgulho nacional são aquelas pessoas que conseguem ser os melhores alunos das suas turmas, independentemente de terem 6 anos de idade, ou 18 ou 20 ou 25". Pessoalmente, não me identifico muito com esta ideia. Em primeiro lugar porque ser o melhor a aprender não é propriamente aquilo de que precisamos. Aprender, pelo menos neste conceito escolar, aparece sempre ligado a coisas que já existem, que já são sabidas; ora que é preciso é fazer e descobrir coisas novas, como esta recente ânsia pelo empreendedorismo apregoa tão acertadamente. Claro que não se faz o novo sem saber o velho, mas a relação não implica a causalidade, que de facto não existe. Outro ponto premente é o facto da expressão "o melhor da turma" implicar um nível de competitividade que, a meu ver, ultrapassa o saudável e revela-se um pouco obsessivo.

Nas mesmas declarações, Mendes especificou estar a falar de "pessoas que não deixam de acreditar que devem ser sempre o melhor possível naquilo que fazem". Proferido na sequência da ideia anterior, este discurso parece-me a mim uma necessária e apropriada correcção. Creio que temos que apontar a ser melhores, em oposição a os melhores. Isto parece-me uma ambição mais saudável, já que não exclui um trabalho colectivo para atingir os seus fins. Nem todos podemos ser os melhores e um objectivo tão relativo pode levar a dissabores ainda que estejamos a sair-nos lindamente. Também pode suceder o inverso, isto é, o nível geral ser tão mau que nos satisfazemos com a nossa mediocridade. Não, superar-nos continuamente é sempre melhor do que tentar superar os outros. Enquanto praticamente amador de atletismo acho que consigo perceber com mais clareza quão diferentes são os dois conceitos.

Nessa diferença reside ainda um ponto fulcral já abordado neste blog; o brio. Por vezes parece que tudo o que fazemos é para superar ou agradar a outros. Então onde param as nossas expectativas, os nossos objectivos, as nossas exigências? É a exigir mais de nós mesmo que conseguimos superar-nos e ser melhores pessoas, ou simplesmente melhores numa coisa qualquer. Já o filósofo grego Epicuro dizia "Faz tudo como se alguém te contemplasse". A meu ver, é precisamente esta ideia de que apenas nos esforçamos para fazer o que está certo ou para melhorarmos quando alguém nos está observar que é preciso combater. Mais do que a ideia, é preciso mostrar que isso é mentira. Toda a motivação de que precisamos está dentro de nós próprios, e tentaremos sempre fazer o melhor possível.

Filipe Baptista de Morais

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Determinação

Nunca desistir é um traço que muitos afirmam ter mas a que poucos correspondem. É também sempre um pouco exagerado, já que nunca é um conceito demasiado absoluto para se aplicar nestas situações e tem de ser relativisado. O próprio conceito de desistência pode revelar-se extremamente subjectivo; afinal, onde se faz a fronteira entre o desistir e o ser derrotado?

A essência do desistir está na admissão da derrota, na aceitação de que fomos superados e não conseguimos vencer. Claro que esta derrota, certa como o destino aos nossos olhos, nunca o é realmente. Apenas a determinamos com a nossa falta de persistência. O que o nosso cérebro está a fazer, ainda que por vezes inconscientemente, é gestão de esforço. Confrontado com tão poucas chances de triunfar, decide que mais vale pouparmo-nos o esforço de sequer tentar. Faz sentido?

Claro que sim, já que o mais provável seria não atingirmos o nosso objectivo de qualquer maneira, diferindo da desistência somente por uma maior exaustão.
Porquê, então, lutar até ao fim? Bom, em primeiro lugar porque não somos tão espertos quanto julgamos. Por vezes avaliamos mal as situações, e desistimos quando estamos a um pequeno passo de sermos bem sucedidos. Outra importante motivação é a de prevenir a angústia da dúvida. Embora no nomento saiba sempre bem desistir e descansar, posteriormente não deixaremos de nos perguntar E se? Por último, a eternidade do sucesso face à efemeridade do fracasso. Pode muito bem ser que, ao tentar aquele último esforço, fracassemos 999 em cada mil vezes. E ficamos cansados e abatidos, ainda que de consciência tranquila, durante uma semana ou duas. Mas não são esses fracassos que nos vão ocupar a mente passada uma década. Não, passado tanto tempo vamo-nos recordar apenas daquela única vez em que, quando tudo parecia perdido, nos re-erguemos dos destroços e rumámos à vitória. Os maiores feitos são os mais difíceis e improváveis, e são também os mais memoráveis. Nunca desistam.


Filipe Baptista de Morais