sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Books

Para quem gosta de ler, os livros são uma inesgotável fonte de entretenimento e aprendizagem. Claro que há muitos tipos de livros, e cada pessoa tem os seus géneros e autores favoritos. É engraçado notarmos o quanto os livros que lemos dizem sobre nós, sendo que muitas vezes eles próprios podem ser catalisadores de mudanças no leitor. É por isso comum apegarmo-nos aos livros que lemos, guardando-os como troféus.

Mas infelizmente os troféus ocupam espaço, por vezes demasiado espaço. Tive por isso que extraditar muitos dos meus antigos livros, de modo a fazer espaço para outros. Foi neste contexto que me ocorreu que seria interessante fazer uma biblio-biografia, um alinhamento de livros marcantes por ordem cronológica, ainda que por vezes a memória faça algumas viagens no tempo. Esta tarefa seria muito interessante se fosse extensiva e pormenorizada, processo que levaria demasiado tempo e exigiria registos que não possuo. Ainda assim, não posso deixar de imaginar como seria maravilhoso ver o desenrolar de todos os títulos que uma pessoa leu, indicando a altura da leitura e o seu impacto. Penso que o resultado seria algo muito semelhante à prática exposta no filme "The Final Cut" (A Última Memória), que já agora aproveito para recomendar.

Os primeiros livros que me lembro de ler são as banda-desenhadas de Calvin & Hobbes; extremamente divertidas e por vezes também profundamente reflexivas foram a introdução perfeita para o mundo das leituras. Podem facilmente perceber o alcance da sua influência pelo título do meu blog, e pela sua explicação. Havia também uma colecção de BD da Disney, com as histórias em português nas páginas do lado esquerdo e a sua tradução do lado direito, uma ideia genial para ajudar as crianças a aprender a língua. A minha incursão pelo mundo das BDs prosseguiu com as revistas do Homem-Aranha, X-Men e Wolverine que coleccionava, ordenava e guardava religiosamente e agora não faço ideia onde estão.

Gradualmente o meu apetite pela literatura fantástica foi-se dispersando para o campo dos romances, tendo devorado com especial apetite os livros da colecção Via Láctea. Destes tenho que destacar Lobo Branco, que considero um dos melhores livros do género que já li; O Mistério de Alaizabel Cray, que na altura me inspirou imagens visuais extremamente nítidas, eu que geralmente ignoro as partes descritivas dos livros, e por fim os Guardiões da Noite/Dia/Crepúsculo, que lançam três perspectivas distintas do mesmo tema, questionando as etiquetas do bem e do mal de uma forma pouco comum em obras do género. Já agora menciono também Crónicas de Allaryia e A Dança de Pedra do Camaleão, obras que se destacam por serem de autores portugueses e pouco ou nada ficarem a dever às de origem estrangeira. O Senhor dos Anéis não ficaria fora de nenhuma lista que se preze, visto que por detrás dos livros estão não apenas histórias fragmentadas mas sim a criação de todo um novo Mundo, com História, Geografia e Línguas próprias.

Algures pelo meio da incursão pelo mundo fantástico deu-se a minha introdução ao suspense, através de O Assassinato de Roger Ackroyd, para mim ainda hoje o melhor livro policiar que já li. O Cão dos Baskerville também não podia ficar de fora, sendo em torno do mítico Sherlock Holmes que mais uma vez aparece para explicar o inexplicável. Em torno da mesma personagem, A Sabedoria dos Mortos explora os seus limites assim como os que separam o credível do fantástico, um pouco da semelhança das primeiras temporadas da popular série LOST.

Uma pequena menção a Os Maias, que para mim foram inigualavelmente dolorosos e inclusive me fizeram abandonar as leituras por uns tempos.

Numa fase em que comecei a interessar por psicologia e sociologia Não nos estamos a entender fez-me compreender porque não vale a pena tentar entender as mulheres, enquanto que Vencer com as Pessoas me relembrou que em qualquer área temos sempre coisas para aprender e melhorar, mesmo algo tão intuitivo e natural como os relacionamentos pessoais e profissionais. Certamente uma das obras mais marcantes que já li, Admirável Mundo Novo pôs em causa muitas das minhas crenças em relação ao rumo que a Humanidade deveria tomar.

Breve História de Quase Tudo faz jus ao seu nome, se considerarmos 484 páginas breve. Está cheio de factos e curiosidades interessantes, a maioria dos quais infelizmente já não retenho.

Para voltar ao género fantástico seriam precisas duas grandes (muito grandes mesmo, quase mil páginas) obras; Jonathan Strange & o Sr.Norrell cativou-me por enquadrar solenemente o fantástico no mundo real, resultando numa fascinante ficção histórica que é também notável pela verosimilhança das personagens e do tratamento que lhes é dado; já Dune é uma obra de ficção apenas comparável ao Senhor dos Anéis em termos de background fornecido. As suas conotações políticas e sociais também me deram que pensar.

Estado de Pânico veio recordar-me um dos mais importantes princípios do verdadeiro conhecimento e do método científico: questionar tudo. História fictícia justaposta sobre dados reais, semelhantes ao método empregado pelo tão aclamado Dan Brown, é capaz de tornar qualquer pessoa num céptico em relação ao aquecimento global.

Talvez influenciado pela faculdade, comecei a interessar-me mais pela ficção científica, onde são inúmeros os livros marcantes, tanto para mim como para a História da Literatura. Só para dizer alguns nomes, Eu, Robot e Sonham os andróides com ovelhas mecânicas? exploram sublimemente algumas questões éticas ligadas à robótica e à Ciência no general, assim como da condição humana, dando ao leitor muito em que pensar, enquanto que Fahrenheit 481 e Relatório Minoritário são dois exemplos do que o futuro nos reserva se as evoluções tecnológicas não forem olhadas com cuidado, assim como o seu potencial impacto social. Em ambos as obras notei um conceito de bem geral semelhante ao de Admirável Mundo Novo.

Um dos livros que mais me pesa não ter lido na versão original, Lolita é perturbadoramente belo na forma como consegue gerar empatia com um pedófilo, e na consciência que o mesmo tem de si próprio.

Nascidos Para Correr é um must para qualquer adepto de atletismo, seja amador ou profissional. Contextualizando o ser humano e a sua evolução enquanto animal, encontra-se repleto de factos biológicos que têm tanto de desconhecido como de fascinante, assim como de histórias impressionantes e motivadoras.

Num contexto em que os vampiros aparecem associados a ridículas séries e livros, Minha Besta (Uma História de Amor) veio com o seu humor mostrar que ainda são um tema que pode ser explorado com qualidade.


Para finalizar, Portugal na hora da verdade veio como que fruto da actual situação de crise nacional e internacional, assim como a minha (algo patética) tentativa de melhor as compreender.

Estes foram os títulos que me ocorreram, hoje, de caneta na mão e papel à frente. Provavelmente se escrevesse isto para o ano os nomes seriam outros. Talvez assim os livros escolhidos representem não só um pouco do que fui como também do que sou agora.

Filipe Baptista de Morais



sábado, 24 de dezembro de 2011

O melhor possível

Pedro Boucherie Mendes acredita que "o que é mais motivo de orgulho nacional são aquelas pessoas que conseguem ser os melhores alunos das suas turmas, independentemente de terem 6 anos de idade, ou 18 ou 20 ou 25". Pessoalmente, não me identifico muito com esta ideia. Em primeiro lugar porque ser o melhor a aprender não é propriamente aquilo de que precisamos. Aprender, pelo menos neste conceito escolar, aparece sempre ligado a coisas que já existem, que já são sabidas; ora que é preciso é fazer e descobrir coisas novas, como esta recente ânsia pelo empreendedorismo apregoa tão acertadamente. Claro que não se faz o novo sem saber o velho, mas a relação não implica a causalidade, que de facto não existe. Outro ponto premente é o facto da expressão "o melhor da turma" implicar um nível de competitividade que, a meu ver, ultrapassa o saudável e revela-se um pouco obsessivo.

Nas mesmas declarações, Mendes especificou estar a falar de "pessoas que não deixam de acreditar que devem ser sempre o melhor possível naquilo que fazem". Proferido na sequência da ideia anterior, este discurso parece-me a mim uma necessária e apropriada correcção. Creio que temos que apontar a ser melhores, em oposição a os melhores. Isto parece-me uma ambição mais saudável, já que não exclui um trabalho colectivo para atingir os seus fins. Nem todos podemos ser os melhores e um objectivo tão relativo pode levar a dissabores ainda que estejamos a sair-nos lindamente. Também pode suceder o inverso, isto é, o nível geral ser tão mau que nos satisfazemos com a nossa mediocridade. Não, superar-nos continuamente é sempre melhor do que tentar superar os outros. Enquanto praticamente amador de atletismo acho que consigo perceber com mais clareza quão diferentes são os dois conceitos.

Nessa diferença reside ainda um ponto fulcral já abordado neste blog; o brio. Por vezes parece que tudo o que fazemos é para superar ou agradar a outros. Então onde param as nossas expectativas, os nossos objectivos, as nossas exigências? É a exigir mais de nós mesmo que conseguimos superar-nos e ser melhores pessoas, ou simplesmente melhores numa coisa qualquer. Já o filósofo grego Epicuro dizia "Faz tudo como se alguém te contemplasse". A meu ver, é precisamente esta ideia de que apenas nos esforçamos para fazer o que está certo ou para melhorarmos quando alguém nos está observar que é preciso combater. Mais do que a ideia, é preciso mostrar que isso é mentira. Toda a motivação de que precisamos está dentro de nós próprios, e tentaremos sempre fazer o melhor possível.

Filipe Baptista de Morais

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Determinação

Nunca desistir é um traço que muitos afirmam ter mas a que poucos correspondem. É também sempre um pouco exagerado, já que nunca é um conceito demasiado absoluto para se aplicar nestas situações e tem de ser relativisado. O próprio conceito de desistência pode revelar-se extremamente subjectivo; afinal, onde se faz a fronteira entre o desistir e o ser derrotado?

A essência do desistir está na admissão da derrota, na aceitação de que fomos superados e não conseguimos vencer. Claro que esta derrota, certa como o destino aos nossos olhos, nunca o é realmente. Apenas a determinamos com a nossa falta de persistência. O que o nosso cérebro está a fazer, ainda que por vezes inconscientemente, é gestão de esforço. Confrontado com tão poucas chances de triunfar, decide que mais vale pouparmo-nos o esforço de sequer tentar. Faz sentido?

Claro que sim, já que o mais provável seria não atingirmos o nosso objectivo de qualquer maneira, diferindo da desistência somente por uma maior exaustão.
Porquê, então, lutar até ao fim? Bom, em primeiro lugar porque não somos tão espertos quanto julgamos. Por vezes avaliamos mal as situações, e desistimos quando estamos a um pequeno passo de sermos bem sucedidos. Outra importante motivação é a de prevenir a angústia da dúvida. Embora no nomento saiba sempre bem desistir e descansar, posteriormente não deixaremos de nos perguntar E se? Por último, a eternidade do sucesso face à efemeridade do fracasso. Pode muito bem ser que, ao tentar aquele último esforço, fracassemos 999 em cada mil vezes. E ficamos cansados e abatidos, ainda que de consciência tranquila, durante uma semana ou duas. Mas não são esses fracassos que nos vão ocupar a mente passada uma década. Não, passado tanto tempo vamo-nos recordar apenas daquela única vez em que, quando tudo parecia perdido, nos re-erguemos dos destroços e rumámos à vitória. Os maiores feitos são os mais difíceis e improváveis, e são também os mais memoráveis. Nunca desistam.


Filipe Baptista de Morais

domingo, 20 de novembro de 2011

A União Faz a Força

É espantoso o que se consegue fazer ao juntar várias pessoas. Pessoa dizia "Deus quer, o Homem sonha, a Obra nasce." Acho que poderíamos adicionar que quando o Homem sonha em conjunto nascem Obras maravilhosas. Seja pela adição de força física, creatividade, conhecimentos ou simplesmente pelo facto que duas pessoas trabalham (geralmente) mais rápido que uma, a verdade é que os grandes feitos tendem a ser realizados em equipa. Talvez isso explique a naturaza social do ser humano, assim então uma simples característica que prevaleceu por selecção natural. Ou talvez deus apenas quisesse que fossemos todos amigos.

A União faz, portanto, a Força. Mas e o que faz a União? Em primeiro lugar, felicidade. Pessoas contentes e que partilhem as razões para esse contentamento têm tendência a unir-se para partilhar, fazer parte e perpeturar (d)essa felicidade. Outra possibilidade é a luta por uma causa em comum. Principalmente se exister um líder oratoriamente dotado que transforme causas não tão comuns assim em factores de união aos olhos dos seus ouvintes. E por último temos a infelicidade. O descontentamento extremo tende a unir os que o sentem na luta por melhorias, ainda que por vezes as causas do mesmo não estejam sequer relacionadas levando, portanto, a uma pobre escolha de alvo(s) para essa expressão de descontentamento.

Seja porque razão for, é sempre interessante ( ainda que nem sempre bonito) ver grandes uniões. Dou como exemplo o último jogo da Selecção Nacional. Tendo assistido ao vivo, posso garantir que é absolutamente fascinante ouvir 50000 pessoas gritar por Portugal a uma voz. Sense-te o seu entusiasmo. Sente-se a sua União. Sente-se o seu Poder. Curioso que apenas o futebol, os festivais de música e as manifestações contra o governo consigam juntar tantas pessoas.


Filipe Baptista de Morais

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Aleatório...ou não

É certo e (talvez não tão) sabido que os seres humanos não são grande espingarda a gerar sequências aleatórias. Isto no fundo é natural: é relativamente estúpido pensar em como geral algo que é aleatório, seria como pensar em não pensar. Também é engraçado perceber como somos maus a detectar essas mesmas sequências, o que seria de esperar que fosse mais simples.
Creio que isto se relaciona e se reflecte numa característica humana muito mais interessante: a dificuldade em ser conscientemente casual/natural. De facto parecemos estar mais uma vez confrontados com o mesmo dilema; agir casualmente implica exactamente agir sem pensar muito no assunto. Mas isso não explica que não consigamos agir casualmente de propósito. Parece intuitivo que, ao pensar no assunto, os resultados seriam melhores ou, quanto muito, iguais. Mas todos sabemos que não é esse o caso. Isto também se pode dever a outro facto totalmente diferente: a indefinição do que é realmente casual/natural. O que é à primeira vista totalmente óbvio pode revelar-se extremamente complexo após um escrutínio minucioso, complexidade essa que poderia então justificar a nossa capacidade de abordar racionalmente o problema.
Voltando um pouco atrás, faz sentido demorarmo-nos um pouco numa questão que ficou pendente: como se reconhece uma sequência gerada aleatoriamente? De facto, considerando resultados independentes e equiprováveis, todas as sequências são portanto equiprováveis e, logo, igualmente válidas. Parece então um pouco estúpido da minha parte (bom, da parte deles na verdade) dizer que não somos bons a gerar ou reconhecer sequências aleatórias. Seria como as pessoas que teimam na sua opinião de que não se deve apostar {1,2,3,4,5} no totoloto ou euromilhões porque sequências desse género nunca acontecem*. Mas, na verdade, há certas propriedades que (probabilisticamente) uma sequência de números aleatórios deve cumprir. Estranho não é, atribuir propriedades a algo completamente aleatório? Bom, se pensarmos bem, a aleatoriedade pode ser vista como uma propriedade, que por sua vez se reflecte em várias outras. Analisando sequências de sequências (só para confundir mais um pouco) essas propriedades tornam-se ainda mais preementes. E nós, geralmente, não as satisfazemos. Mas claro, é tudo uma questão probabilística.

*Na verdade, apesar de a probabilidade de saída de qualquer sequência de números ser igual, isso não as torna igualmente boas. Isto porque o prémio é dividido por todos os vencedores, e portanto é pior apostas nas sequências que as pessoas escolhem com mais frequência. Mais uma vez, tentar conscientemente contornar isto irá provavelmente piorar a situação. Podemos sim, evitar sequências tremendamente óbvias como {1,2,3,4,5} ou, pior ainda, a popular {4,8,15,16,23,42} (tornada famosa pela série LOST). Apostando numa sequência deste género, arriscamo-nos a ganhar um fabuloso primeiro prémio de 30cêntimos. O melhor é, claro, gerar os números aleatoriamente (ou "aleatoriamente"**) num computador.

** Aleatoriamente é algo que não faz qualquer sentido para um computador. Estas gerações são, isso sim, realizadas através de funções (determinísticas) que, pegando num valor inicial (chamado "seed"), o transformam noutro completamente diferente. Claro que se usarmos repetidamente a mesma "seed" obtemos sempre os mesmos números. Usam-se portanto "seeds" variáveis, sendo uma escolha comum a data actual (geralmente ao nível dos milisegundos).

domingo, 23 de outubro de 2011

Corrida do Tejo 2011

Nome da Prova: Corrida do Tejo
Comprimento: 10Km
Data: 23 de Outubro de 2011
Objectivos Mínimos: - 42m
Desafio Pessoal: - 40m
Melhor Tempo em Provas Semelhantes: 39m 45s

Esta prova era a minha grande aposta desta época para melhorar o meu tempo nos dez quilómetros. Tem um bom percurso, excelente organização e é suficientemente perto para não ter que me levantar na véspera para estar na partida a horas. Apesar disto e como não podia deixar de ser, uma série de factos afectaram a minha prestação nesta edição:
- Maratona de Futsal no IST no Sábado. Geralmente não me inscreveria em dois eventos tão cansativos em dias consecutivos, mas gosto tanto de qualquer um destes que não consegui decidir e optei por ir aos dois. Tendo o torneio de futebol chegado e primeiro e como contenção de esforço não é um conceito que eu abarque facilmente cheguei obviamente um pouco debilitado a Domingo. De facto, senti mesmo aquela sensação de pernas cansadas após uma boa corrida. Só que antes da partida.
- O vento. Embora tenhamos tido sorte por a chuva esperar um bocadinho, o vento foi implacável a formar uma barreira invisível que nos fazia ter a sensação de estarmos a correr numa passadeira.

Como sempre e como acredito que deva ser feito ignorei estes dois factores à partida, concentrando-me nos meus objectivos. A partida foi um bocado mais confusa do que estava à espera, dado que tive o privilégio de partir na zona dos sub 40 (minutos, não anos): certamente que muitos dos que lá estavam não tinham razões para tal. Nomeadamente os miúdos de 12 anos com as mães. Enfim, mesmo assim a partida foi bem (BEM) melhor do que é normal em provas deste género (mais uma vez saliento o exemplo da organização desta prova), e só perdi 18s no primeiro quilómetro. Segundos esses que recuperei rapidamente ao correr o 2ª Km em apenas 3m 32s, agora 30s abaixo da minha média objectivo.

A partir daí consegui encontrar o meu ritmo estável à volta dos 4m / Km, não oscilando mais do que +/- 5s por Km. Mas apesar de as ignorar e fazer por as esquecer as condicionantes estavam lá, e acabaram por se fazer notar. A meio do sexto quilómetro, começaram-me a faltar a força às pernas, e o ritmo foi abrandando. Terminei assim a prova em 42m 39s, falhando em bater o meu record e também mais uma vez em atingir os objectivos mínimos por muito pouco. Mesmo assim e dadas as condições, não fiquei de todo descontente com o meu desempenho.

Filipe Morais


sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Politiquices

Hoje decidi quebrar uma das (ocultas) regras deste blog e falar sobre política. Embora seja muito mais interessante em conversa do que por escrito, mandar bitates é sempre engraçado e portanto vou deixar aqui uns quantos.

Neste momento os portuguese revelam-se indignados com as novas medidas de austeridade anunciadas pelo novo Governo. A indignação das pessoas é perfeitamente perceptível face à postura dos políticos portugueses. Quando estão no poder (descartando uma ou outra situação mais dúbia) esforçam-se for atinar as contas com medidas de austeridade e invocam o interesse nacional. O que faz sentido. Mas a oposição apenas diz (sempre) que nos estão a roubar, que querem matar o povo, ou a classe média, ou os professores, ou seja o que for que estão a cortar na altura (já que, estando na oposição, podem dizer o que lhes apetecer então aproveitam para dizer aquilo que dá votos). Depois muda o partido no poder e trocam simplesmente.

Se virmos os discursos do PS de agora parecem os do PSD de há uns meses atrás e vice-versa. Portanto claro, se estamos anos a ouvir X a dizer que Y é um cretino e um ladrão por estar a fazer cortes e quando o metemos no poder corta ainda mais é normal que se estranhe e custe a entranhar. Claro que era mais que óbvio que isto ia acontecer, e era bastante fácil filtrar a demagogia política de entre os discursos. Vem-me particularmente À cabeça o debate Sócrates-Coelho em que o actual PM insistiu repetidas vezes que a descida da TSU não precisava de ser compensada por outros factores. Agora diz que não o pode fazer (em números não desprezáveis vá) porque não o consegue compensar. Lá está, já era perfeitamente óbvio que aquilo era treta e é bom que as pessoas se vão habituando a filtrar e a pensar e procurar informação individualmente o máximo possível para se resguardarem desses casos. E também é importante perceber que nem Sócrates era uma espécie de demónio satânico que nos queria roubar o dinheiro todo nem Passos Coelho é algo anjo enviado para nos salvar. Ambos são somente homens e acredito que, regra geral, ambos tentaram/tentam fazer aquilo que julgam melhor para o país.

Essa diferença entre o dito e o feito a que vulgarmente se chama politiques é consequência directa da democracia, só se vai para o poder se votarem em nós e os votos ganham-se com palavras. E não digo isto num sentido de critíca negativa. Imaginemos uma situação hipotética em que somos uma espécie de Deus, isto é, somos dotados da verdade absoluta e sabemos exactamente que medidas tomar para salvar/melhorar o estado do país. Mas também sabemos que, se as anunciarmos, nunca chegaremos a ter os votos que precisamos para as implementar. Não seria nosso dever moral mentir para obter os votos que nos permitiriam então chegar ao "bem maior"?

Claro que essa hipotética situação é, no mínimo, desviada da realidade e, vá, estúpida. Mas ilustra bem aquilo que quero dizer. Há uma linha que separa o patriotismo e a coragem da arrogância, desonestidade e obstinação. Mas não é uma linha toda colorida como as da ZON, é bem cinzenta e por vezes difícil de discernir. Há falta de confiança nos políticos em Portugal? Sim, certamente. Essa falta de confiança tem razões de ser? Sim também provavelmente. Essa desconfiança é exagerada? Sem dúvida. Há, a meu ver, também muita incompreensão da classe política e com os seus difíceis dilemas. Não é fácil lutar contra repetidas reinvidicações irrealistas da oposição, dos sindicatos e, por vezes, do próprio povo. E não é fácil gerir um país só por si. Existe corrupção? Certamente que sim. Mas a (incomparavelmente) maior parte dos nossos problemas não vem daí mas sim da repetida má gestão que temos tido temos o início da 2ª República. Desde 1974 que não tivémos um único (1!!!!) ano sem défice. Nem um único ano com execução orçamental positiva. E contam-se pelos dedos de uma mão os anos em que este foi menor que 3% . Para melhor ver e compreender este e outros problemas crónicos do nosso país aconselho todos os leitores interessados a lerem o livro do nosso actual ministro da economia, Portugal na Hora da Verdade (até porque é interessante ver algumas diferenças entre o que apregoava no livro e o que se está a fazer agora).

Outra questão interessante de analisar é a da forma de corrupção mais comum, isto é, o compadrio. Todos nos revoltamos contra as situações em que são atribuídos cargos importantes e bem remunerados a pessoas pela sua afiliação política e/ou ligaçãos de amizade/família. Mas ninguém se queixa do empregado da MacDonald's que não regista o hamburguer que oferece ao seu amigo. Ninguém se queixa do amigo que atende o amigo da vizinha que está doente sem consulta marcada, passando à frente de todos os que já lá estavam à espera. pelo contrário, será mal visto pelos vizinhos e amigos e familiares se se recusar a fazer estes "favores". Que mais não são do que a mesma forma de corrupção. Apenas se altera o cargo, e portanto a amplitude dos favores que conseguem fazer. Não quero com isto sugerir que se prendam estas pessoas ou se desculpem as outras. Apenas acho que é bom avaliar tudo de uma perspectiva mais geral e imparcial, de modo às nossas críticas não perderem o seu valor.

E pronto, em pouco mais de 10 minutos já deu para encher isto tudo, o que só prova a facilidade com que se mandam bitates de política neste país. Aproveitem que o tema não volta a entrar aqui tão cedo.


Filipe Baptista de Morais

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Incompreensível

Em Julho morreu atropelado em Portugal um jovem de 17 anos. Para tornar a notícia ainda mais triste só sabendo o que causou o acidente: o fenómeno de tourear carros.

Para os que na tranquilidade das suas férias* ainda não ouviram falar em tal coisa passo a explicar. Tourear um carro consiste, como o nome indica, em pegar num pano vermelho, vestir (ou não) uma daquelas jaquetas ridículas, saltar para o meio de uma via rápida ou auto-estrada e fingir que os carros são touros.

Que leva as pessoas, maioritariamente jovens, a arriscar a vida desta maneira? Ao contrário do D.Quixote que fazem relembrar estes cavaleiros do século XXI não têm perturbações mentais. Pelo menos não no sentido convencional do termo. Também não são pagos para o fazerem, o que poderia explicar tudo pois os efeitos da ganância já são mais do que conhecidos. Aparentemente tudo o que pretendiam ganhar com essa aventura era um grande número de views no youtube, ou likes no facebook.

É o desejo de fama tão intenso que leva as pessoas a cometer estes actos, para serem vistas por milhões de pessoas que nunca se darão ao trabalho de saber o seu nome e passado uma semana provavelmente já nem se lembra do vídeo? Sentir-se-iam tão sozinhos que ansiavam de modo intenso qualquer contacto ou reconhecimento, ainda que virtual, com outros seres humanos? Nunca conheci nenhum destes toureiros e, portanto, a resposta escapa-se-me. Se é que há resposta. Por vezes há coisas que estão simplesmente para lá da nossa compreensão.

No mesmo mês em Oslo, Noruega, um fanático cristão com um ainda mais fanático ódio xenófobo plantou uma bomba no centro da cidade, antes de se dirigir à ilha de Utoya e matar dezenas a tiro. No total as mortes quase que ascenderam a uma centena.

À primeira vista isto não parecia fazer sentido nenhum. Como é que o ódio pelos estrangeiros leva ao assassínio dos seus compatriotas? Depois veio a explicação, a bomba foi plantada para atingir o gabinete do primeiro-ministro e a ilha estava ocupada pela juventude do partido no poder, partido esse que era defensor das fronteiras abertas. Mas isto não explica nada. Noventa e dois mortos não fazem sentido e não há explicações que possam mudar isso. Pessoalmente, é um alívio estes actos serem de todo incompreensíveis: seria assustador se entendêssemos de algum modo estes monstros.

Seria de pensar alguém capaz destes actos nunca teve um momento de felicidade na vida, para ser capaz de privar tantos da sua. Mas não, como começa a ser costume nestes casos os vizinhos dizem tratar-se de uma pessoa perfeitamente normal, simpático e sorridente. Enfim, incompreensível.



Filipe Baptista de Morais

* Este texto foi escrito originalmente a 9 de Agosto (em papel), daí o aparente desfasamento temporal. De facto, raramente escrevo directamente aqui no blog pelo que as datas de publicação (quase) nunca coincidem com as verdadeiras datas de escrita. Nunca mencionei isto antes porque é daqueles facto que não interessam a ninguém; neste caso no entanto pareceu-me oportuno explicar a alusão às férias em meados de Outubro.

Maratona do Algarve

Este fim-de-semana decidi finalmente experimentar correr a maratona completa, em toda a sua extensão.
As condições não eram más: o vento ajudava a suportar o calor, o percurso era bastante plano e havia postos de abastecimento de 5 em 5 Kms. Curiosamente eram proibidos auriculares na prova, pelo que tive de deixar de parte o meu Ipod (e portanto também as suas funções de pedómetro e velocímetro) e levei apenas o meu cardiofrequencímetro.

A prova começou bastante bem, sentia-me confiante e ao terminar a 1ª volta (21Kms) estava em óptimas condições de cumprir com o meu desafio pessoal. No entanto esta confiança revelou-se excessiva (porventura consequência da minha inexperiência), o que aliado ao meu passo demasiado irregular (que podem verificar nas tabelas abaixo) e ao forte calor que se começou a fazer sentir comprometeu irremediavelmente o meu desempenho.

Assim, pelo 28º Km comecei a “morrer” (mais uma vez podem verificar as tabelas) e ao chegar ao 35ºKm já mal conseguia andar com as dores nas pernas e decidi que não tinha condições para terminar a prova. Desisti portanto. Curiosamente esta era a powersong que tinha escolhido para a corrida.

Mais do que as dores nas pernas (escrevi isto no comboio de regresso, portanto ainda as sinto) magoa o orgulho ferido. Nunca tinha desistido numa prova de atletismo, e acreditava realmente que nunca o faria. Mas pronto, há-de haver outras oportunidades. Embora provavelmente não me meta noutra tão cedo, hei-de completar uma maratona.

Só numa de despejar algumas estatísticas tão engraçadas quantos inúteis: durante o exercício os meu BPM médios foram 158, com 195 de máxima e 58 em repouso antes de iniciar a prova. Isto significa que o meu coração bateu 28782 vezes enquanto corria. Parece ainda que queimei 2227KCal, o que pode explicar porque é que estava cheio de fome no final.


Tabelas:



Filipe Baptista de Morais

PS: embora não me tenha afectado a mim devido à desistência houve um incidente algo grave que provavelmente afectou a prova de muitos atletas. Um atraso numa das carrinhas de abastecimento fez com que os postos de apoio esgotassem as suas águas, pelo que não havia águas a partir do 31º Km. É chato.
PS2: um agradecimento especial ao voluntário da carrinha de abastecimento que me deu boleia até à meta, e me deixou usar o seu telemóvel.

sábado, 1 de outubro de 2011

Meia Maratona de Portugal

Nome da Prova: Meia Maratona de Portugal
Comprimento: 21Km
Data: 25 de Setembro de 2011
Objectivos Mínimos: -1h35m
Desafio Pessoal: -1h30m
Melhor Tempo em Provas Semelhantes: 1h31m45s
Uma vez vi um atleta de alta de competição dizer para a televisão que numa prova nunca estamos a 100%. Ou a época de preparação não correu como queríamos, ou o pequeno-almoço caiu-nos mal, ou a nossa namorada de há 7 anos acabou connosco, ou está demasiado frio, etc, etc... Há sempre um rol interminável de desculpas que podemos usar para justificar os nossos desaires, assim como para continuar a acreditar que poderíamos fazer melhor. Assim sendo também posso deixar aqui tudo o que correu mal nesta prova: a época de preparação (ou falta dela), não dormi bem nem na véspera nem nos dois dias anteriores, não consegui encontrar a minha braçadeira para levar o Ipod (lá se foi o velocímetro) e, mais importante, estava demasiado (!) calor. Para além dos problemas recorrentes destas provas, como o percurso com algumas subidas estrategicamente colocadas e o sempre presente caos na momento da partida.


Seja como for consegui não perder muito tempo na confusão dos primeiros 3Km, tendo recuperado essa diferença até ao 7º Km. De notar que nesta altura estava a apontar para uma média de 4m15s / Km, que me permitiria atingir a marca de 1h30m com ainda alguma folga. Fiquei bastante feliz por, mesmo sem o velocímetro, ser capaz de definir o meu ritmo de corrida aos valores necessários. Assim, após recuperar o atraso, consegui fazer vários quilómetros com parciais a variar entre 4m7s - 4m22s
.

Foi quando cheguei perto dos 12Km (infelizmente apaguei sem querer o meu registo dos parciais, pelo que não posso fazer uma análise detalhada) que tudo começou a descarrilar, já que as pernas começaram a deixar de responder. Aqui tentei um pouco de tudo: pastilhas da Isostar, Powerade no ponto de apoio dos 12Km, banana e laranja no dos 13Km. Mas tudo isto não fez mais do que permitir breves alívios, e no final terminei a prova já com parciais acima de 5m / Km. Cruzei a meta com o cronómetro a marcar 1h35m17s pelo que, não tendo batido o meu record pessoal, bati o meu record nesta prova e fiz o meu 2º melhor tempo de sempre. Não foi (demasiado) mau portanto.

Filipe Baptista de Morais

sábado, 24 de setembro de 2011

Queremos Ser Úteis

O desejo de começar a trabalhar é algo que se instala em todos os estudantes ao longo do tempo. Acho eu.

Por um lado queremos deixar finalmente os livros para trás, embora isso provavelmente nunca aconteça realmente. Por outro a sensação de independência que advém de ganharmos o nosso próprio dinheiro. Mas claro que tudo isto deixa de ter importância quando obtemos o primeiro emprego, passando então a queixar-nos da falta de férias e suspirando pelos belos tempos em que andávamos de livros às costas.

Outra razão também preemente para essa ânsia é o desejo de ser reconhecido ou, melhor dizendo, útil. É que enquanto estudantes também nos fartamos de trabalhar, mas esse trabalho não serve para nada. Bom, serve-nos a nós, que precisamos dele para continuarmos (com sucesso) os nossos estudos. Pode servir àqueles professores mais empenhados (os chamados malucos) que tiram satisfação do sucesso dos seus alunos, no fundo um reflexo do seu esforço próprio. Eventualmente poderíamos dizer que serve ao mundo que um dia irá necessitar dos conhecimentos que esse trabalho nos proporciona. Mas isso é já uma linha de raciocínio tão longa e rebuscada que se assemelha à teoria do caos.

Não, o que fazemos não serve para nada nem ninguém a não ser nós próprios, hoje e no futuro. O que já nem é mau de todo; egocentrismo à parte eu, pelo menos, preocupo-me bastante com a minha pessoa. Mas quando passamos a receber um cheque ao final do mês tudo é diferente. Ninguém gosta de dar dinheiro só porque sim (excepto, talvez, as avózinhas aos seus netinhos) e portanto se nos pagam é porque querem o nosso trabalho. Precisam dele. E nada faz tão bem ao nosso ego como sentirmo-nos úteis e necessários.


Filipe Baptista de Morais

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

US Open 2011

Como adepto e praticante da modalidade achei que não podia deixar de comentar aqui os acontecimentos no final do US Open, de tão ricos e interessantes.

Em primeiro lugar, o comportamento da finalista derrotada Serena Williams. Mais uma vez a atleta teve um comportamento inqualificável, ao insultar descarada e repetidamente a árbitra de cadeira no encontro, provavelmente porque estar mal-disposta devido à grande tareia que estava a levar. Podem ver o vídeo aqui. Concorde-se ou não com a decisão da árbitra (a meu ver perfeitamente justificada, já que Serena claramente dá o grito de vitória antes de terminado o ponto, desconcentrando a adversária) o que se a passa a seguir não tem justificação. Serena a descarregar toda a raiva e frustração que o encontro lhe estava a causar de forma irracional na árbitra; ou então é simplesmente agressiva e arrogante por natureza. Numa grande campeã (como ela inegavelmente é) um pouco de classe nunca fica mal. Nisto Serena poderia aprender muito com Federer, Nadal ou mesmo com a maior parte das suas colegas do circuito feminino.

Em segundo lugar o encontro de Roger Federer com Novak Djokovic nas meias-finais. Federer a entrar bem e nos dois primeiros sets mostrou (mais uma vez) porque é considerado por muitos o melhor tenista de todos os tempos e continua a ser o preferido do público. Nos dois seguintes a facilitar um pouco, talvez um pouco displiscente como é frequentamente acusado, embora também não se possa tirar o mérito todo ao esforço e à subida de nível de Djokovic. O 5º set foi sem dúvida o mais interessante, com ambos os jogadores a darem o seu máximo para se deslocarem à final. E aqui se viu bem como o ténis vive de momentum e como tudo pode mudar de um momento para o outro. A servir para igualar o set (estava a perder 4-3) Djokovic vê o suiço dar uma madeirada, mas a bola cai dentro e Federer acaba por ganhar o ponto, arrancando aplausos da multidão que torcia por ele. Irritado por aplaudirem um ponto conquistado com sorte (há que reconhecer) e também provavelmente por o público claramente se inclinar para a vitória de Federer (apesar do seu estatuto de nº1 mundial) o sérvio manisfestou o seu desagrado ao público e perdeu muita da essencial concentração. Permitiu assim rapidamente o break ao adversário. A servir para ganhar o encontro Federer mantém o ascendente e rapidamente chega ao 40-15: duplo match point. E é aqui que tudo se transforma. Irritado e descrente na vitória, Djokovic responde ao serviço com uma displiscente agressiva padeirada na bola, que por sorte (mas lá está, é preciso talento para ter sorte...) ou destino beijou a linha, salvando assim o 1º de encontro. Já o segundo foi perdido pelo suiço, que tendo ocasião de fechar o encontro vê o seu ataque ir de encontro à tela e a bola a sair para fora. E pronto, perdendo dois match points desta maneira e certamente com o encontro do ano passado bem vivo na memória (em que Federer também perdeu com Djokovic em 5 sets, após desperdiçar 2 match points) o nº3 mundial cedeu à pressão, oferecendo o break com uma dupla falta. O resto do encontro ficou também selado com as dúvidas e os medos do suiço, que se revelou (compeensívelmente) inconsolável na conferência de imprensa. No entanto não concordo com os que criticam os seus comentários após o jogo, creio se revelou apenas sincero e honesto e que de modo nenhum foi incorrecto para com o adversário. Como sempre, um grande campeão. Mesmo na derrota.

Para terminar, a tão aguardada final masculina: Djokovic (1) vs Nadal (2). Quem diz que foi uma jogo desapontante pelo claro desiquilíbrio (e não são poucos os que o dizem) ou não viram o jogo ou não percebem nada de ténis. Confesso que não vi o 1º set, portanto é possivel que o parcial 6-2 reflita uma certa diferença de nível. Já o 2º e o 3º set, com os parciais de 6-4 e 6-7, foram de um nível estratosférico, do melhor ténis que já tive oportunidade de ver. Pontos extremamente disputados, bolas de um excelente nível com ambos os jogadores a deixarem tudo o que tinham no court. No 4º set o nível desceu devido ao (desumano) desgaste que os jogadores já tinham sofrido, mas ainda assim o parcial de 6-1 não reflecte o momento inicial em que Nadal quase consegue o break, e que poderia muito bem relançá-lo no encontro. Devo também dizer que nunca tinha visto o incansável Nadal tão cansado, nem desistir de uma bola como aconteceu no match point. Há que tirar o chapéu ao campeão, que o conseguiu deixar nesse estado mostrando porque lidera o ranking. Mas não podemos de modo algum dizer que foi uma final de apenas um sentido, isso seria um total desrespeito não só para com o runner-up Nadal, que deu tanto no court e jogou ténis de alto nível, como também para a própria modalidade em si, já que foram jogados alguns dos pontos mais emociantes e com maior entrega de sempre. De realçar também que o árbitro de cadeira neste extremamente importante (e também complicado de "apitar" ) encontro era o português Carlos Ramos.

Filipe Baptista de Morais

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Sacrifícios

Creio que umas das coisas que diferenciam o ser humano dos restantes animais é o facto de treinarmos. Seja o bisonte no ginásio, o miudinho a dar toques na bola ou a executiva a ensaiar o discurso em frente ao espelho a questão é sempre a mesma: fazemos algo que não precisamos no momento de modo a o conseguirmos fazer melhor no futuro.

É claro que isto pressupõe uma capacidade que (geralmente) não se atribui aos animais: a projeção no futuro. Ou, semelhante, a análise do passado e estabelecimento de relações de correlação entre acontecimentos passados e presentes. Afinal, distinguir passado e presente de presente e futuro passa apenas por uma questão de perspectiva.

Um conceito interessante aliado a esta questão é o do sacrifício. Por norma, sacrifício consiste em abdicar de algo para obter outra coisa. Tudo isto se torna mais interessante quando a recompensa vem apenas no futuro. É assim esta capacidade de pensar na recompensa futura que permite às mulheres as suas dietas e aos homens os seus dolorosos treinos de ginásio, a ânsia por algo positivo no futuro sobrepõe-se ao sofrimento do momento.

Vi há algum tempo numa TED Talk um cientista que, após algumas experiências, chegou à conclusão que a principal característica que leva ao sucesso é precisamente essa capacidade de sacrifício em prol de uma recompensa futura. Numa das experiências, crianças muito novas (creio que na ordem dos 4 anos) eram deixadas sozinhas numa sala com um bombom sendo-lhes dito que, se passados alguns minutos ainda não o tivessem comido, então teriam direito a dois. Anos mais tarde foram verificar a sua evolução e constataram que as crianças que tinham aguentado a sua gula para receberem o prémio eram as que ocupavam mais importantes, para além de se acharem mais satisfeitos com as suas vidas profissionais e pessoais. Claro que é um estudo algo redutor, no sentido em que relaciona algo que depende de inúmeros factores com apenas uma característica. No entao, se bem me lembro a amostra era suficientemente elevada para levar até os mais cépticos terem de admitir uma correlação (infelizmente não me recordo mesmo dos números). Para além de que não é qualquer estudo que tem direito a ser apresentado numa TED Talk. De qualquer forma não deixa de ser também interessante quanto de nós já cabe dentro da nossa mini versão de quatro anos.

Filipe Baptista de Morais

PS: Vai ter lugar brevemente uma TED-Like Talk aqui mesmo em Lisboa. Podem consultar o cartaz em http://tedxedges.com/

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Lar do Bikini

Acho que ninguém percebe muito bem a postura das mulheres em relação à praia. Para começar, adoram expôr o corpo que tanto se esfporçam por esconder no resto do ano. Nada contra, obviamente. Só é engraçado ver como usam um bikini e horas depois se preocupam se deviam apertar mais um botão na blusa, ou se o vestido é curto de mais.

Mas mas curioso que isso, que vão elas lá fazer sequer? Geralmente limitam-se a dormir, ou a estender-se ociosamente numa toalha a ler a Caras. Ora sempre achei que uma pessoa está muito mais confortável numa cama ou sofá do que deitada num monte de areia irregular. E como toda a gente sabe as mulheres odeiam areia. O que também é estranho porque é precisamente essa a definição de praia: um monte de areia junto à água que, claro, está sempre demasiado fria.

Também não é pelo sol, já que há sol em todo o o lado, e deus as livre de se exporem a ele! Impensável estar debaixo desse escaldante e malvado astro causador de rugas sem um toldo ou um guarda-sol para protecção. Excepto, claro, na já referida praia.

Poder-se-ia pensar que é apenas para trabalhar no bronze, mas também esse raciocínio tem falácias, já que significaria que os solários destronariam a praia. Pois já que se trata de um sacrifício não será melhor fazê-lo deitado num cubículo durante umas horas do que na areia durante dias a fio? Mas não, as utilizadoras de solários são encaradas com desprezo como se fossem criminosas e não como mulheres modernas que abraçaram o futuro, pelo que geralmente escondem esse facto inventando uma viagem ao Brasil ou Cabo Verde.

Se pensarmos bem em tudo aquilo que uma praia representa (sol, areia, água fria, bolas de volley e raquetes perdidas a acertar nas pessoas, estarem expostas a olhares labregos e cobiçosos) vemos que é precisamente tudo aquilo que odeiam. E, no entanto, adoram-na. vá-se lá perceber as mulheres.




Filipe Baptista de Morais

PS: Outra coisa que não percebho nas mulheres em relação à praia, embora off-topic, é a sua postura relativamente ao topless. Opõem-se veemente à ideia nos seus 18s e 20s quando o incentivamos, mas muitas libertam-se desses pudores lá pelos 50 quando, sinceramente, já ninguém quer ver isso. É como dizem no mundo do marketing: a ideia certa na altura errada torna-se uma ideia errada.

terça-feira, 28 de junho de 2011

Ténis e paixão

Em entrevista ao Expresso, o antigo número 1 mundial Mats Wilander comentou que "Jogar ténis é como estar apaixonado". E depois continuou, argumentando que uma partida de ténis é como que uma conversa, e que tal como numa relação amorosa a piada advém de não sabermos o que a pessoa do outro lado irá dizer a seguir. Sem dúvida, a possibilidade de sermos surpreendidos é inclusivé por vezes referida como a razão da nossa existência. No entanto a frase parece ter uma certa profundidade que vai para além da razão apontada pelo comentador.

O ténis, como a paixão, joga com e depende de outras emoções, exigindo tanto quanto dá. Confiança, determinação, esforço, sacrifício, orgulho, alegria. Claro que provavelmente poderíamos aplicar isto a muitas outras coisas, mas são estas as circunstâncias que temos.

Tanto um como o outro são perfeitos exemplos de coordenação racional-emocional. Mais, fazem-no da mesma maneira: racionalizar no prelúdio e agir por impulso no momento. O que quero pretendo dizer é que, tanto no ténis como quando estamos apaixonados, tendemos a pensar e repensar o próximo passo, o que fazer quando o outro faz (ou não faz) isto ou aquilo; mas, quando chega a hora H, o melhor é abstrair-nos de toda essa complicação e agir por instinto ou impulso.

Outro aspecto que, apesar de porventura rebuscado, me parece pertinente é o sistema de pontuação. No futebol por exemplo se fizermos uma jogada que termina com um remate à trave não conta, mas também não nos faz mal nenhum. Um ponto no ténis é muito mais parecido com aquilo que acontece quando estamos apaixonados. Vamos construindo o ponto calmamente, conduzindo o adversário (o termo obviamente deveria ser alterado), ganhando confiança e esperando uma oportunidade; quando esta chega arriscamos um bocadinho mais para desequilibrar a balança, subimos no court para defender o território conquistado e... winner! Ou então a bola vai um bocadinho fora, e estragámos tudo. E depois há as madeiradas claro, que são tão ao lado que se torna humilhante e o melhor é nem pensar mais nelas.

Filipe Baptista de Morais

PS: Na mesma entrevista Mats referia ainda que ganhar um ponto com um ás (serviço ganhante) é como dizer ao nosso adversário "Vai-te foder!" (acho que ele não usou estas palavras, mas era essa a ideia). Se é ou não não sei dizer, mas lá que é isso que a gente pensa...

domingo, 19 de junho de 2011

Marginal à Noite

Nome da Prova: Marginal à Noite
Comprimento: 8Km
Data: 18 de Junho de 2011
Objectivos Mínimos: -32m
Desafio Pessoal: - 30m
Melhor Tempo em Provas Semelhantes: -
Média de BPM: 183
Power-Song utilizada: Aniway You Want It , Rise Against

Farto de tempos medíocres e das desculpas esfarrapadas que ia arranjando para os justificar e vendo que provavelmente não irei participar em mais nenhuma prova até Setembro (com uns bons treinos em Agosto para voltar em grande espero) decidi encarar esta prova com seriedade, apesar de não ser uma das distâncias standard. Sendo assim estabeleci como objectivo mínimo (tempo máximo) 32m, o que equivale ao meu melhor ritmo em provas de 10Km (na passada Corrida do Tejo) e apetrechei-me com o todo o equipamento ao meu dispor.

Amigos meus que já conheciam a prova disseram-me que não era muito amistosa para os tempos, já que a confusão à partida era mais que muita. Mas não deixei que isso me perturbasse. Muito. Fiel aos relatos, a partida foi muito complicada, visto que se realizada numa subida o que tornava ainda mais complicado ziguezaguear por entre e ultrapassar todas aquelas pessoas que gostam de partir na fila da frente a passo de caracol, ou sprintar nos primeiros 200m para depois fazer o resto a andar. Enfim, nada de novo aqui.
O primeiro marco encontra-se ao 3ºKm, com o meu cronómetro já a marcar 12m e 55s, quase um minuto a mais do que devia... Mas agora a marginal estendia-se em toda a sua largura e permitiu-me manter uma passada mais rápida e constante. Passei o 4ºKm aos 16m37s, tendo portanto já recuperado 18 dos 55 segundos de atraso, o que me animou bastante. De modo a me concentrar na corrida só voltei a olhar o cronómetro ao chegar ao último quilómetro, vendo agora já 28m23s. Tinha portanto 23s para recuperar no derradeiro troço...acelerei nas medidas do possível e com um sofrido esforço na recta final consegui cruzar a meta com 32m02s. Derrota inglória por apenas 2 unidades mínimas, mas com um forte sabor a vitória devido às condições.

Quando à organização da prova nada de especial a apontar. Não tinham divisões na partida como gostaria mas também é raro isso acontecer, apenas um posto de apoio a meio da corrida o que também era de esperar para uma distância tão curta. O percurso era sempre razoavelmente plano e bastante agradável, como todas as corridas ao longo da marginal, com o toque especial de ser durante a noite. E aqui não havia problemas de iluminação, como na Corrida de São Silvestre infelizmente. Apenas tenho que deixar uma nota negativa relativamente aos brindes, já que não deram medalha que eu tanta questão faço de coleccionar. A T-Shirt é, por outro lado, tão boa quanto se poderia esperar.

Tudo somado, sem dúvida uma prova a não perder para o ano!

Filipe Baptista de Morais

domingo, 12 de junho de 2011

Mais Do Que Palavras

Alguns posts atrás tinha deixado a ideia que iria escrever sobre a importância da linguagem na nossa identidade cultural e pessoal; nunca querendo desiludir os leitores é o que vou (tentar) fazer.

A nossa língua materna é um dos símbolos mais importantes de pertença a um povo, a uma nação. É simultaneamente algo que nos unde aos nossos compatriotas e algo que não só nos distingue como afasta de todos os outros, resguardando-nos numa ilha cultural a que não podem aceder. Nesse sentido consido um privilégio falar uma língua muito raramente falada (*), sendo portanto tão mais especial.
Aprender uma língua estrangeira é, portanto, uma demonstração de afecto e tentativa de aproximação a uma cultura, sendo um acto que geralmente cai muito bem ao viajar. Aprender pelo menos Inglês é assim a meu ver fundamental, já que nos permite entrar neste mundo globalizado com as portas escanracadas pelas novas tecnologias.

Agora uma nota (quase) off-topic relativamente aos sotaques. Na edição deste mês da NG é referido que "o discurso é mais importante do que o aspecto físico quando as pessoas rotulam alguém com base em apenas duas características. Os sotaques podem ser fundamentais para a integração social, pois afectam a forma como o ouvinte identifica o seu interlocutor: como um dos seus ou como membro de outro grupo (...) os sotaques podem influenciar a nossa preferência por alguém ou a confiança que sentimos num interlocutor." Este é também um ponto crucial relativo a este tema. Assim como nós distinguimos o brasileiro do português os ingleses fazem questão de se destacar dos americanos, etc. etc. Não precisamos sequer de ir tão longe, por cá temos os os alentejanos, os nortenhos, os madeirenses, os alfacinhas, os algarvios, os açoreanos, todos com os seus sotaques e respectivas conotações (todos sabemos, por exemplo, que os primeiros são molengas e os segundos labregos). Num mundo onde já é considerado errado discriminar pela aparência física, é natural que nos centremos noutros aspectos, ainda que sejam tão injutos e irracionais como os anteriores.
Por outro lado, os sotaques e línguas podem causar uma impressão que nada tem a ver com preconceitos. Eu pessoalmente acho extremamente irritante ouvir espanhol e francês, e tolero mal o italiano. Já o inglês adoro, mas não falado pelos próprios, provavelmente devido em grande parte ao dilúbio de filmes e séries americanas a que somos expostos. Podemos assim, sem haver nenhuma conotação de grupo ou generalização, simplesmente não conseguir simpatizar com esta ou aquela pessoa devido à sua maneira de falar. Isto, apesar de lamentável, acontece e é difícil de contornar. Afinal como podes sentir empatia para com uma pessoa, se não conseguimos suportar ouvi-la?

Como nota de encerramento posso referir que há poucos anos atrás era ainda um fervoroso defensor da uniformização da linguagem, nomedamente pondo toda a gente a falar inglês ou o mal amado esperanto, que a propósito não sei falar ou escrever. Esta última lançava um forte apelo ao meu lado mais prático e racional, visto ter sida verdadeiramente criada com o objectivo de ser eficaz, principalmente a nível da fácil aprendizagem. Mas hoje considero que tal representaria uma incalculável perda, não só cultural como também de diferenciação pessoal. Por isso mantenham as línguas inúteis e as insuportáveis, junto com os sotaques irritantes ou engraçados. Afinal de contas, se falar fosse só juntar palavras mandava antes um SMS.


Filipe Baptista de Morais


* Estou obviamente ciente do facto de que a Língua Portuguesa é a 6ª mais falada no mundo inteiro. No entanto tendemos a ter um contacto mais estreito apenas com a Europe (onde é de facto quase totalmente desconhecida) e não tanto com África e o Brasil, onde se localizam a maior parte desses falantes. Daí o comentário aparentemente errado.

domingo, 5 de junho de 2011

Corrida do Oriente

Nome da Prova: 10ª Corrida do Oriente
Comprimento: 10Km
Data: 5 de Junho de 2011
Objectivos Mínimos: -/
Desafio Pessoal: - 40m
Melhor Tempo em Provas Semelhantes: 39m 45s

Fui a esta prova com um amigo e com intenção de o acompanhar ao longo da prova, pelo que não defini objectivos mínimos. Como desafio pessoal, claro, quebrar o meu record, e com isso em mente decidimos arrancar forte. Mas como sabemos entre o decidir e o cumprir vai todo um mar de problemas, a começar pelo atraso de cerca de 20mins na partida (lá se foi o aquecimento) e no extremo aglomerado e afunilamento que se verificou logo a seguir à linha de partida. Nunca me canso de me queixar as pessoas que, não tendo intenções de arrancar a um ritmo elevado, se chegam à frente na linha. Por favor deixem-nos passar...

Enfim, devido ao já referido chegámos aos 2Km já com 9m30s (um minuto e meio de atraso já), o que parecia muito comprometedor. Cerca dos 5Km perdi o meu companheiro sem dar por isso, e creio que aí perdi um pouco o ritmo (embora na altura não tenha dado conta disso) provavelmente também devido a não ter levado o meu Ipod para motivar e guiar. Na placa dos 6Km já ia com 28m 40s, o que representava um irrecuperável atraso de 4mins e 40s (relativamente a 6Km*4m/Km= 24m). No entanto, devido a um erro de contas (cansaço apenas, garanto que não houve estupefacientes envolvidos) julguei que devia estar nos 24m, calculando portanto o meu atraso como de apenas 40s. Senti-me assim extremamente motivado em recuperar esse atraso mais os 15s que me permitiriam superar a minha anterior prestação. Com isto em mente desfiz os dois Km seguintes em menos de 7m, num ritmo muito acima ao ritmo médio necessário para bater o dito record. Mas ao cruzar a placa do 8º Km voltei a olhar para o cronómetro, que agora marcava pouco mais de 35 minutos. Desta vez fiz as contas como deve ser e finalmente apercebi-me do meu erro, e de que mesmo com este esforço e a manter este ritmo não faria melhor do que 42minutos aos 10. O desânimo foi total e abrandei consideravelmente, terminando a prova com uns modestos 45m 6s. Não me abstive, no entanto, de dar o característico spring final na chegada à meta.

Quanto à organização, nota negativa no atraso da partida; embora seja uma situação relativamente frequente é sempre chato ainda mais quando não há qualquer tipo de aviso prévio. De resto impecável, em termos de pontos de apoios e de brindes que, embora escassos, são o que se poderia esperar de uma prova que requeria apenas 5 euros e meio de entrada.

Filipe Baptista de Morais

sábado, 4 de junho de 2011

O Gafanhoto Será Um Fardo

O Gafanhoto Será Um Fardo é uma citação da bíblia, mas não sei em que capítulo, versículo ou contexto aparece. De facto nem sei se as divisões da bíblia se chamam capítulos e versículos, ou antes cantos ou sermões, ou antes outra coisa qualquer. Para além disso, O Gafanhoto Será Um Fardo é também um livro; ou melhor dizendo, um livro dentro de um livro.

Antes que isto se torne demasiado confuso passo a explicar: o dito Gafanhoto é um livro fictício presente no livro (esse sim disponível nas livrarias) O Homem Do Castelo Alto (The Man In The High Castle). Esta obra, do renomeado escritor Philip K. Dick, é um dos marcos da ficção científica e dos romances de história alternativa. Leva-nos até um mundo onde os nazis e os japoneses venceram a 2º Guerra Mundial, os pretos foram mortos ou escravizados e os judeus que restam se escondem sob identidades falsas para sobreviver. Neste mundo onde liberdade e igualdade são apenas palavras prospera um best seller ( O Gafanhoto Será Um Fardo ), um livro de ficção que fala de um mundo onde os EUA e os Aliados venceram a guerra. Como seria de esperar trata-se de um livro proibido e repudiado pelos alemães, mas ainda assim as páginas chegam às mãos de pessoas por todo o mundo e as suas ideias são um tema recorrente nas ruas das cidades. Pode parecer arrogância do autor, glorificar no seu livro uma obra que no fundo reflecte a sua própria, mas apenas para quem não leu todo o livro, ou outro qualquer da sua autoria. K. Dick é simplesmente genial, tanta na forma como nos consegue embrenhar nas história paralelas que se cruzam quase imperceptívelmente (faz um pouco lembrar o género de filmes que se tem vindo a tornar popular nos últimos anos) como pelos temas que aborda ao longo do livro, embrenhando-se cada vez mais questões filosóficas que vão bem para além do que é a moralidade ou o livre arbítrio. No final, chegamos a questionar o que é a própria realiade. Gosta de saber um pouco mais sobre a origem do titlo do livro do Gafanhoto (provavelmente estará relacionado com o contexto em que a frase aparece na bíblia) mas seja ela qual for acho interesse a antítese porventura não intencional que advém de associarmos algo tão insignificante como um gafanhoto a um objecto que influencia a maneira de pensar e assim a vida de milhões de pessoas.

Para além deste notável romance, recomendo ainda do mesmo autor os muito curtos Minority Report (Relatório Minoritário) e Do Androids Dream Of Electric Sheep? (Sonham Os Andróides Com Carneiros Eléctricos? ). O primeiro originou o filme com o mesmo nome, já o segundo serviu de inspiração ao épico Blade Runner , que apesar de ser um filme brilhante não consegue atingir a profundidade da questão exposta no livro: o que é ser humano? Foram ainda inspirados em obras deste mesmo escritor os filmes "Total Recall", "Screamers", "Paycheck", "Next" e "A Scanner Darkly". Como tanto talento, é só escolher.

Já que estou nesta onda de recomendações literárias, aproveito para falar de outras das minhas leituras recentes: Dune. Cada vez mais tento ler as versões originais dos clássicos, já que é inmensurável a perda que advém de os passar de uma língua para a outra. Nem sempre é possível (vêm-me à cabeça as obras de Dostoievky por exemplo) mas neste caso tive o prazer de me debruçar sobre esta obra prima de Frank Herbet no seu formato original em inglês. A trilogia (composta por Dune, Dune Messiah e Children of Dune) encontra-se condensado num único assustadoramente grande calhamaço de 890 páginas, e foi também adaptada ao cinema num único filme com o mesmo nome, que contou com a presença de Sting num papel importante. Não me vou alongar sobre o livro, apenas quero referir que o esforço (e seu resultado) na criação de todo um novo mundo é apenas comparável (dentro dos meus limitados conhecimentos literários claro) ao The Lord Of The Rings de Tolkien, tal é o detalhe do mundo em que o autor nos mergulha. Mas Dune é muito mais do que um livro de entretenimento, sendo que o leitor mais atento encontrará no aparentemente tão diferente mundo um reflexo do nosso próprio, analogia usada para fazer uma incisiva e inteligente crítica social e ao nosso estilo de vida. Mais uma vez, genial é a palavra.

Filipe Baptista de Morais

sexta-feira, 20 de maio de 2011

O preço dos sonhos

Para os mais desatentos, na passada 4ª feira aconteceu algo inédito: uma final da liga Europa entre dois clubes portugueses. Mais, um deles nunca tinha sido (nem foi este ano) campeão nacional. Estou a falar, é claro, do caso atípico do Braga.
O Braga espantou todos o ano passado quando, sob a liderança de Domingos Paciência, quase roubou o título ao Benfica. Na verdade talvez fosse mais correcto dizer que foi o Benfica que lhes roubou o título, mas essa é outra questão. Aí dizeram "Prontos, tiveram o seu momento, agora o treinador sai para um clube de jeito e voltamos a ter o Braguinha do costume". A realidade foi muito diferente; o treinador ficou e, contra todas as expectativas, o Braga chegou às finais de uma competição Europeia. Mas perdeu. E agora? Confesso que eu pertenço ao grupo dos agoirentos e descrentes, que acham que o treinador vai sair e que a equipa se vai abaixo, tendo perdido uma oportunidade única. Mas a questão interessante aqui é outra, é esta sensação de que "perderam" algo. Na verdade fizeram algo impensável, indo mais longe do que alguém acreditaria. Mas então o sonho morreu, e que será que as pessoas irão recordar? O mesmo sucedeu há pouco tempo com o Sporting, há poucos anos. E que se lembram as pessoas? Que o Sporting perdeu uma final, perdeu uma oportunidade, tendo o treinador inclusivelmente sido despedido ainda que a presença numa final Europeia não seja assim tão comum quanto isso. É aquela questão levantada por um grande senhor da música, "Is a dream a lie if it don't come true, or is it something worse?"


Deus quer, o Homem sonha, a Obra nasce. Mas e quando sonhamos demasiado alto ou a obra não quer nascer, como é? Até porque todos sabemos que Deus é um sujeitinho misterioso e portanto vá-se lá saber o que ele quer e porquê. É nessa situação que temos que ter atenção à atitude a tomar. Pois é, quantas vezes ao falhar os nossos objectivos pensamos (e acima de tudo sentimos!) que mais valia nunca ter começado? Que todo o esforço não levou a lado nenhum? Esta espécie de paradoxo sentimental tem um nome em psicologia, que eu como é óbvio esqueci. Também está estudado que em todo o competiçaõ de competições, geralmente a equipa/pessoa a ocupar o 3º lugar no pódium está mais feliz do que a no 2º. Isto porque sentem que quase perderam mas conseguiram atingir esse lugar de destaque, em vez de sentirem que quase conseguiram o primeiro lugar e portanto falhar. Sendo isto algo interior, é necessário combatê-lo com racionalidade, relembrarmo-nos de como tudo começou, da falta de expectativas iniciais e de como fomos crescendo e melhorando, cada pequena vitória intermédia e cada alegria que ela nos deu. Porque não é vergonha nenhuma "quase" ganhar; vergonha é nunca chegar a tentar e só não tem desilusões quem não quer ter alegrias.

Filipe Baptista de Morais

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Seca

Porque será que quanto menos fazemos, menos vontade temos de fazer seja o que for? Instala-se esta letargia que tem tanto de irritante como viciante, e que subsiste vá-se lá saber como. E não nos conseguimos concentrar, por mais interessante que seja a aula. E todas as horas parecem poucas, ainda que passem tão devagar. E todas as palavras soam mal, ainda que o problema não esteja na escrita.

Como uma seca que ataca a terra e leva a um ciclo vicioso de falta de chuvas, este síndrome tem de ser contrariado antes que leve a melhor. Para tal há diversas e variadas estratégias: uma boa noite de sono, umas horas de desporto intenso (se a chuva deixasse...), fazer algo de divertido com amigos, beber umas jolas. Isto toda a gente sabe, claro. Mais interessante é, o que leva ao surgimento deste fenómeno?

A meu ver a resposta é simples: mudanças de ritmo. Dormir pouco e trabalhar muito para dar aquela sensação de exaustão seguidas de umas horinhas vazias em casa para o cérebro se pôr a divagar sem na verdade ter energia para fazer algo de jeito. Obviamente tenho sofrido um pouco disto para estar a escrever este texto sensaborento. Talvez esteja na hora de aplicar alguns dos meus próprios remédios!

Filipe Baptista de Morais

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Deixem-nos Falar

Ainda há pouco estava a ver o frente a frente que opunha Paulo Portas a Jerónimo de Sousa. Digo opunha visto defenderem ideologias tão diferentes, ainda que no fundo tenham os mesmos objectivos. No entanto o que me chamou mais atenção (pela negativa devo dizer) não foram as teses ou argumentos que cada um apresentou, ou talvez devesse dizer tentou apresentar. É ridículo o ritmo a que têm de falar para expressar as suas ideias e responder a perguntas, sempre sob a constante pressão do apresentador. Se perguntassem a Deus como salvar o mundo, duvido que a resposta se pudesse resumir em 30 segundos. Mas é isso que é constantemente pedido aos nossos políticos hoje em dia.

Bem sei que hoje em dia a vida tem outro ritmo, o frenesim da cidade etc,etc... E creio que todos sentimos um pouco falta de tempo para tudo, nomedamente para nos mantermos informados. É portanto cada vez mais difícil estarmos a par do que se passa no país e no mundo, nomedamente na política. Mas isso é ainda mais agravados quando, felizes por termos arranjado um tempinho para ver um debate político, parece que são eles que não têm tempo para falar. E não têm! Que será que a televisão tem de mais importante para transmitir do que as mensagens daqueles que pretendem vir a governar o país, ainda para mais num momento de crise? A resposta é simples: telenovelas, talk shows, outros programas de entretenimento e jogos de futebol. As transmissões televisivas reprensentam um mercados de um valor incalculável, e portanto é inevitável que os canais se vejam cada vez mais como empresas que, como qualquer aluno de gestão aprende rapidamente, têm como objectivo principal o lucro. Mesmo as do Estado, infelizmente.

Deixem-nos falar...


Filipe Baptista de Morais

PS: Não estou de todo a criticar os moderadores (creio que em cima usei erradamente o termo apresentador, mas sou demasiado preguiçoso para o emendar) que apenas fazem o seu trabalho. De facto não estou a criticar ninguém em particular, apenas certos aspectos deste mundo que parecemos tão empenhados em construir.

terça-feira, 3 de maio de 2011

Aberto Mas Restrito


Durante a semana passada decorreu o Estoril Open 2011, um dos maiores eventos desportivos a tormar parte neste pequeno país. Como não podia deixar de ser dei lá um saltinho, tanto para ver umas partidas de ténis como para "roubar" mais um chapéu de palha. Tenho assim algumas notas referentes a essa experiência:

- Em primeiro lugar creio que é imperativo falar do cartaz, que foi de excelente qualidade (tanto a nível de tenistas como das meninas dos brindes). Em época de crise seria de esperar falta de "incentivos" que permitissem trazer cá os melhores; no entanto creio que a ausência de Federer permitiu financeiramente a presença de muitos outros, pelo que tivémos o prazer de receber grandes nomes do circuito actual (uma palavra que, curiosamente, já não se usa) como Verdasco, Soderling, Tsonga, Simon ou o vencedor Del Potro. Parabéns a ele já agora. Apenas no circuito feminino talvez se pudesse esperar um pouco mais.

- Toda a logística operacional esteve também, a meu ver, impecável. Daí que, apesar das fortes e intermitentes chuvadas, as perturbações ao decorrer do torneio foram mínimas.

- A prestação portuguesa também não foi de todo decepcionante, com um número record de portugueses a integrar o quadro principal e o nosso Gil a ser apenas travado pelo finalista Verdasco, já nos quartos-de-final. Sentiu-se no entanto a falta de Michelle de Brito.

-Deixei para o final a única crítica negativa que tenho para fazer: os bilhetes, que a meu ver foram demasiado caros. De facto, paguei mais por um bilhete para o Estoril Open do que para o Masters Final na O2 Arena (Londres). Certo que este último apenas nos permitia assistir a dois encontros, mas ainda assim... Isto explica, a meu ver, as bancadas vazias ao longo de todo o dia que lá estive. De facto, não são poucas as pessoas que conheço que gostariam de ter ido mas não o fizeram devido ao preço dos bilhetes. Mais gritante ainda é o vácuo que se observa nas chamadas bancadas VIP, com bilhetes oferecidos pela organização. Ano após ano insistem em oferecê-los a figuras públicas que preferem passear-se pela Sponsor's Village, usufruindo das comodidades (pagas com os bilhetes do resto de nós suponho) e sorrindo para as câmaras do que assistir de facto a alguma partida. É lamentável.



Filipe Baptista de Morais

quinta-feira, 21 de abril de 2011

A Estrelinha Teimosa


Quando era pequeno era extremamente difícil tirar-me da cama. Não era pois de todo incomum tentarem convencer-me dizendo que já todas as estrelas se tinham ido embora. Levantava-me então, hesitante, e dirigia-me para a janela madrugadora... apenas para constatar invariavelmente que uma trémula luz solitária permanecia no ainda escuro céu: a estrelinha teimosa. Mais teimoso do que a estrela, servia-me dela como pretexto para voltar para a minha caminha até que ambos, estrela e eu, tínhamos que nos render ao nascer de um novo dia e abandonar os nossos confortáveis lares.

Quando cresci um pouco e comecei a ter alguma noção de quão ingénuo e inocente era antes (mas ainda sem qualquer noção de quão ingénuo ainda era) prometi escrever um livro sobre a estrelinha teimosa. O livro ainda está para vir, mas achei que um post era melhor que nada.

Hoje já não preciso que me tirem da cama; as minhas responsabilidades e vontades tratam são suficientes para isso. E se não forem também não preciso de estrela, teimosa ou não, para me render à preguiça. Até porque quando me levanto, hesitante, e me dirijo para a janela madrugadora apenas vejo a comum azáfama matinal de pessoas e carros, não está lá nenhuma estrela. Talvez nunca tenha estado, e a teimosia fosse toda minha...


Filipe Baptista de Morais

domingo, 10 de abril de 2011

Homogeneidade

Uma das maiores e porventura a mais visível consequência da "recente" globalização é a imiscuição de culturas. A globalização permitiu o contacto mais frequente (e profundo) de pessoas de diferentes culturas e lugares, e a essência humana tratou (e trata) do resto. Seja por desejo de integração ou por simples troca e partilha, a história diz-nos que os iniciais conflitos culturais tendem para a homogeneização.

Excepção à regra são alguns países africanos e asiáticos, muitos dos quais aparentavam estar a aproximar-se de nós, para agora inexplicavelmente se afastarem com um safanão. Mas a maior parte desta resistência reside em factores religiosos e portanto não puramente culturais. Outros países, como a China, prezam tanto o seu passado e cultura que se fecham dentro dos possíveis ao mundo exterior.

Mas pelo menos aqui pela Europa a tendência é extremamente clara. É curioso ver como pessoas que vivem a mais de 4000Km se vestem da mesma maneira que nós, têm estilos de vida semelhantes, vêm os mesmos filmes e ouvem as mesmas músicas. Isto permite uma conectividade, um inter-relacionamento que de outro modo seria impossível: é difícil estabelecermos uma ligação com alguém que nada tem em comum connosco. As estrelas POP, os filmes comerciais e os Starbucks deste mundo servem assim de pontos a unir os europeus, por vezes até pontes inter-continentais (ou não fosse a Starbucks americana!).

É assim importante cada povo manter uma certa divergência cultural, ser uma unidade constituinte de um todo, e não um modelo standard num admirável mundo novo. Coisas como a língua materna (tema que me parece merecer um posto dedicado), a música e danças tradicionais, a comida, a maneira de pensar, enfim, tudo o que nos define enquanto povo deve ser resguardado. Por enquanto parece que isto está a ser conseguido: particularmente no capítulo da comida ainda se nota grande diferença (e ainda bem!) ao viajar por aí fora. Embora seja de facto irritante pedir um café e receber água castanha. Que ainda por cima é cara. Mas é como se costuma dizer, não há almoços grátis. Será que atingimos um equilíbrio ou todas estas particularidades estão destinadas a perderem-se no esquecimento? O tempo o dirá.

Uma última nota referente ao nosso caso particular. A maior parte do mundo considera que os portugueses são pessoas divertidas (embora preguiçosas, talvez) que vivem num lindo país, embora poucos saibam onde fica (os americanos têm especial tendência para nos colocar na América do Sul). No entanto, parece ser profundamente característico dos portugueses a "auto-flagelação", comiseração, despeito e desrespeito (é para meter um auto em tudo). É espantoso como continuamos a ter visitas (e muitas) quando o quadro que pintamos de nós e do nosso lar é tão grotesco e desacolhedor. Está na altura de olhar com olhos de ver, deitar um pouco da nossa infinita modéstia (se é que é disso que se trata) e apregoar tudo aquilo que temos de bom e fantástico. Esta "lixeira" tem dos locais mais belos do mundo para se visitar, já para não falar na gastronomia (sim eu gosto muito de comer) de fazer inveja a quase todo o mundo. Que raio, se temos mesmo de exagerar então que seja para puxar o lume à nossa sardinha!

Filipe Baptista de Morais

terça-feira, 5 de abril de 2011

Trilhos do Almourol


Nome da Prova: Trilhos do Almourol
Comprimento: 39Km
Data: 3 de Abril de 2011
Objectivos Mínimos: Terminar
Desafio Pessoal: Terminar inteiro
Melhor Tempo em Provas Semelhantes: NA



Esta foi uma prova de atletismo especial para mim: foi a primeira prova de trilhos que realizei, assim como a primeira com uma distância superior a 21Km. Devo confessar que para mim um trilho era uma estrada plana de terra batida, e não isto que se vê aqui na foto. De notar que essa nem era das piores partes, já que em grande parte do circuito o relevo era tão acentuado ou os trilhos tão estreitos e repletos de obstáculos que se tornava impossível correr. Tudo isto levou a que completasse a prova numas estonteantes 5h 59m 35s, num esforço que não me julgava capaz de exercer. Mas não me arrependo de nenhum segundo: o percurso é simplesmente lindíssimo e a organização esteve impecável, quer na sinalização do percurso quer no conteúdo dos postos de abastecimentos. Pena não ter tido tempo no final para usufruir dos massagistas.


Depois disto fiquei cheio de vontade de me testar numa maratona de estrada. Quem sabe talvez dê um saltinho a Faro para a Maratona do Algarve.


Filipe Baptista de Morais


quinta-feira, 31 de março de 2011

Apenas Um Pretexto

No outro dia ocorreu-me que a vida gera à nossa volta. Não me refiro à vida no seu conceito mais lato, com toda aquela metafísica e descrições complexas que usam palavras como ecossistemas e metabolismo. E por nós também não me estava a referir a mim e ao meu alter-ego. Não, referia-me antes e simplesmente às nossas vidas, "àquilo que fazemos com o tempo que nos é concedido." É que parece-me que por muitas coisas que haja para ver e experimentar por esse mundo fora, nada consegue ser tão interessante como conhecer pessoas e culturas novas, ou aprofundar a relação com as que já conhecemos. É como se a Terra fosse apenas um cenário e a vida uma oportunidade, um pretexto para nos conhecermos uns aos outros. É espantoso o que aprendemos sobre os outros quando juntos descorimos coisas novas, pois cada comentário, cada perspectiva revela tanto sobre o seu objecto como sobre a pessoa que o pronunciou. E nada pode ser tão enriquecedor como uma conversa, tão belo como um sorriso, ou tão gratificante como fazê-lo acontecer. Ao falar nisto a uma amiga minha, ela comentou que conhecer pessoas novas era também uma excelente maneira de nos conhecermos a nós próprios, o que me deixou surpreendido. Não pela ideia em si, mas por não me ter ocorrido antes, de tão óbvia que é. Se as projecções que fazemos de objectos/coisas inanimadas permitem aos outros penetrar um pouco na nossa concha pessoal, é natural que a projecção que outros fazem de nós seja a melhor maneira de nos conhecermos. Os únicos espelhos que podem aspirar a reflectir-nos são os olhos dos outros, numa cópia (deformada) daquilo que só a nós pertence, e só em nós existe. E assim podemos ver-nos, ou pelo menos ver o que o mundo vê. E talvez seja isso que importa, e não a nossa indefinível existência que a todos é inacessível e aparente não ter significado físico. Que pode ser mais verdadeiro do que aquilo que a todos é aparente?

Filipe Baptista de Morais

sábado, 26 de março de 2011

21ª Meia Maratona de Lisboa

Nome da Prova: Meia Maratona de Lisboa
Comprimento: 21Km
Data: 20 de Março de 2o11
Objectivos Mínimos: - / (eliminados devido às circunstâncias)
Desafio Pessoal: - / (eliminado devido às circunstâncias)
Melhor Tempo em Provas Semelhantes: 1h 31m 45s

Esta prova correu tão mal que vou tentar não me alongar muito. Apesar de ser a Meia Maratona com o percurso mais favorável e de ser por isso ideal para melhorar tempos pessoais, circunstâncias externas afastaram qualquer hipótese de isso acontecer. Cheguei na véspera à noite a Portugal, vindo de um curso programa de intercâmbio de uma semana, estando por isso completamente esgotado. Ainda assim não quis deixar de participar e na manhã seguinte lá me dirigi para a partida.
Determinado a não me dar como derrotado à partida, tentei correr como se me encontrasse em condições normais. Nos primeiros 5Km fiz um tempo bastante mau, quase a atingir os 25mins (velocidade média pouco acima dos 12km/h) mas tal deveu-se sobretudo à extrema confusão existente na área de partida. No entanto consegui acelerar nos quilómetros seguintes e recuperar o tempo perdido, chegando ao 12ºKm em cerca de 54m. Isto significa que entre o 5º e o 12º Kms consegui manter uma velocidade média de cerca de 14.5Km/h, o que já é extremamente bom. Demasiado até (pelo menos nesse dia) pois foi nesse ponto que morri completamente. As pernas começaram a desobedecer por completo, fui abrandando sucessivamente e no final já me encontrava a correr abaixo de 10Km/h. É engraçada a enorme quantidade de coisas que nos passam pela cabeça nesses momentos como "olha se desistir aqui posso apanhar o metro" ou "mas porque é que a música vai ficando melhor ao longo da prova? Assim não dá vontade de correr..." . Por uma questão de brio pessoal não podia deixar de completar a prova, obtendo assim o terrível tempo de 1h48m46s. Isto significa que a minha velocidade média entre o 12º e o 21º Kms foi de uns espantosamente baixos 9.15Km/h!!! Ainda assim fiquei contente comigo mesmo: contente por me ter levantado na cama quando tinha tantas horas de sono para repor, contente por ter ido correr sabendo que não ia correr bem, contente por chegar ao fim não sei bem com que forças e contente por trazer mais uma medalha para casa. Hei-de fazer melhor para a próxima!

Filipe Baptista de Morais

PS: Todas as contas foram feitas à pressa de cabeça ou na calculadora do portátil, portanto se houver algumas incorrecções não é de estranhar.

quinta-feira, 24 de março de 2011

Hoje vi uma mulher a ler um livro na na fila entre a caixa para pagar e o balcão para receber a comida. Achei extremamente singular que alguém aproveitasse um tempo (no máximo!) de poucos minutos para tentar ler alguma coisa, como se tivesse medo que as páginas lhe fugissem. Até porque a leitura é conhecida como uma actividade intelectual que requere alguma paciência, calma e conforto: de todo desenquadrada numa cadeia de fast food.
Mas talvez o mais estranho seja que tenho percebido perfeitamente a senhora. Vivemos em tempos loucos, com cada vez mais coisas para preencher um dia que resiste teimosamente a manter as suas 24h. Fazemos os possíveis: ficamos só mais 2 minutinhos na cama em vez de 5, lavamos os dentes com mais força mas mais depressa, comemos à pressa nalguma cadeia de fast food ou uma sandes no balcão de um bar, em vez de confortavelmente sentados; dormimos 6 horas em vez de 10. Não é portanto de todo incompreensível que alguém tente aproveitar todos os segundos mortos perdidos na fragmentação do dia e os tente aproveitar através de um agradável hobby. Mas será este estilo e ritmo de vida para nós? Às vezes penso que eventualmente teremos que abrandar...

Filipe Baptista de Morais

sexta-feira, 11 de março de 2011

Nerd Worm


Não se fala de outra coisa. Nas ruas, nas universidades, nos cafés, nas discotecas, no bairro alto e nos lares de 3ª idade. Não sendo apologista da lógica das massas ao início tentei ignorar o fenómeno mas tal começa a ser agora impossível: parece que a(o?) Nerd Worm veio mesmo para ficar.

Como há sempre malta aparentemente escondida num bunker qualquer a quem estes fenómenos lhes passa ao lado vou agora explicitar o que é isso do(da?) Nerd Worm. Peço portanto desculpa aos restantes milhares de leitores que irão apanhar uma grande seca ao ouvir isto tudo mais uma vez. Ou então podem saltar o próximo parágrafo.
O Nerd Worm é um jogo para telemóvel (Windows Phone 7 actualmente), criado pela Jiahosoft, empresa que aparentemente vai mudar de nome numa óbvia tentativa de evasão fiscal. Dando ao utilizador o controlo de uma minhoca nerd (tão fofo não é?) este tem que apanhar letras para formar palavras, ganhando assim pontos ao alimentar a minhoca da intelectualidade deste mundo. O jogo está ainda repleto de power-ups, devido em grande parte à genialidade e ao talento do programador da Jiahosoft que se auto-encarregou desse aspecto.
Embora tal não seja do conhecimento público, posso aqui garantir que este projecto foi fruto do trabalho de apenas quatro estudantes do IST. Gostaria agora de poder referir tratarem-se de quatro génios com o sonho de mudar o mundo...mas não: tratam-se de quatro estudantes perfeitamente banais (um bocadinho mais bem parecidos que a média vá) com o sonho de comer pizza à pala. Isto porque a nossa amiga (e grande concorrente da Jiahosoft) Microsoft organizou na passada 6ª feira mais uma XNA Pizza Night, um concurso para programadores de jogos "Indies" (amadores por assim dizer) onde todos os participantes podem comer pizza à pala. Ou melhor dizendo, à pala da Microsoft o que é ainda melhor.
Fazendo-se representar pela sua secção lusitana, a Jiahosoft conseguiu neste evento arrecadar vários prémios:
- Equipa a chegar mais atrasada ao local;
- Equipa a comer mais pizza em menos tempo;
- Equipa com mais piada;
- Record individual de chamada telefónica mais longa (rumores apontam para cerca de 1h30min)

Para além destas importante distinções, o Nerd Worm garantiu-lhes ainda o 2º lugar na competição, e daí a sua recente popularidade. Os interessados podem ver a (curta) reportagem sobre o evento aqui, podendo inclusivamente ver breves imagens do jogo e ainda os quatro elementos da representação portuguesa da Jiahosoft.
Gostaria agora de vos deixar com algumas das frases inspiradoras proferidas no seu discurso de apresentação, mas infelizmente o vídeo desse acontecimento parece ter-se perdido no caos deste país, uma perda cultural incalculável para as gerações futuras. Assim sendo deixo-vos antes com um pequeno teaser:



Filipe Baptista de Morais

PS: Não vale a pena irem a correr para as lojas porque o jogo ainda não está disponível para venda. Em princípio estará disponível no Microsoft MarketPlace dentro de poucos meses, pelo que ficarei atento para vos avisar quando tal acontecer.

terça-feira, 8 de março de 2011

Uma Questão de Respeito

Aparentemente os Homens da Luta ganharam a edição deste ano do festival da canção. Digo aparentemente porque não segui a edição deste ano (nem a de nenhum outro já agora). E também nunca tinha ouvido falar nos ditos Homens da Luta, mas uma pesquisa rápida no youtube permitiu-me ficar a conhecer algumas das suas músicas e, sinceramente, achei-os muito fraquinhos. Com uma sonoridade algo pimba e letras (a meu ver) baratas e não tão bem conseguidas quanto isso não me conseguiram de todo convencer. No entanto é certo que também não precisaram do meu voto para vencer, e portanto uns sinceros parabéns para eles. Ainda bem que (ainda) não temos todos os mesmos gostos.
Mas não queria aqui divagar muito sobre os meus gostos musicais ou os do resto do país. O que realmente me interessou nesta história foi o facto de os referidos vencedores terem sido vaiados a reclamar o prémio. Isso é perfeitamente ridículo e demonstra uma atitude desrespeitadora para com eles e todos aqueles que votaram neles, o que é algo triste. Poder-se-ia até dizer que tudo isto é extremamente lamentável. Infelizmente não é caso único ou raro. Posso referir também aqui, por exemplo, a final do Estoril Open do ano passado em que o vencedor Alberto Montanes foi por duas vezes vaiado: a primeira ao derrotar o sempre favorito do público Roger Federer, a última ao derrotar na final o nosso Frederico Gil. Todos temos o direito a torcer por quem nos apetecer, mas parece-me que em que todo o tipo de eventos devemos prestar o devido respeito aos vencedores. Quem não desejar nem ficar satisfeito com a sua vitória tem mais é que ficar calado, e não andar a assobiar e a apupar. Mesmo quando se trata de defender os interesses da casa, como no caso Montanes vs Gil. Posso até referir que, no decorrer do mesmo evento, assisti ao vivo ao jogo em que a nossa Michelle Brito foi eliminada pela romena Sorana Cirstea e achei extremamente lamentável o comportamento de grande parte do público, constantemente a assobiar e a apupar nos serviços da romena, a mostrar claramente o seu desagrado com a vitória da mesma no final. Não é preciso degradar os adversários para apoiarmos os nossos favoritos. Neste âmbito nem vale a pena entrar no mundo do futebol, claro, esse está há muito perdido. Mas ver essa indecência a propagar-se para outros desportos e agora também para o mundo da música e, quem sabe, muitos outros sítios é algo que me desagrada profundamente.

Filipe Baptista de Morais

segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Trabalho em Equipa


O trabalho em equipa é uma ferramenta importante (e recorrente) ao longo da nossa vida, especialmente a nível profissional. Juntando diferentes competências e ideias ou simplesmente adicionando horas de trabalho conseguimos realizar projectos mais complexos que individualmente estariam fora do nosso alcance. No entanto há alguns problemas bastante comuns a que devemos ter atenção:

-Distracção. Creio que já todos tivemos daquelas reuniões para (supostamente) trabalhar em equipa e que acabam (e começam também) em animada conversa. Não quer isto dizer que não devemos trabalhar com amigos; antes pelo contrário: um bom ambiente de trabalho é meio caminho andado para que as coisas corram bem. Mas é preciso saber dividir o tempo entre diversão e trabalho.

-Abertura. Não nos podemos integrar numa equipa se não conseguirmos aceitar opiniões ou métodos diferentes dos nossos. Embora tal possa ser difícil, particularmente quando não nos conseguem convencer de que estamos errados, temos que ter consciência que por vezes é necessário largar o boneco. Para resolver conflitos, nada como obter uma maioria; quando tal não é possível pode ser extremamente importante uma figura líder para o desempate. Claro que o líder se pode enganar tanto como os outros, mas a sua decisão deve ainda assim ser acatada de modo a prevenir a anarquia. Daí a sua grande responsabilidade: não pode usar os seus privilégios para fazer valer o seu ponto de vista sistematicamente, ou para proveito próprio.

-Comunicação. É de extrema importância que cada membro saiba o que os outros andam a fazer, tanto para não realizar trabalho redundante como para ter noção do andamento do projecto no seu geral.

-Confiança. Não me refiro aqui à confiança que temos em nós próprios (embora isso também seja sem dúvida um aspecto importante) mas à confiança que depositamos nos outros membros da equipa. Este aspecto, a meu ver fundamental, é o que tantas vezes falha. Falta de confiança gera preocupações, stress, limitações à liberdade de trabalho individual e consequentemente falta de "magia" no projecto e, porventura, hostilidade no grupo de trabalho; tudo coisas a evitar. E como garantir esta confiança? Bom, creio que aqui o melhor conselho possível seria o de escolher os colegas com cuidado. Afinal, é mais fácil confiarmos em pessoas que sejam, de facto, confiáveis.



Filipe Baptista de Morais

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Negro Mundo Cor-de-Rosa

Esta semana passou na SIC uma reportagem muito interessante sobre o estado do país no diz respeito à empregabilidade dos jovens, que quem não viu pode certamente encontrar no site da estação.
Um dos aspectos mais marcantes, senão o central, desta reportagem é o contraste entre os testemunhos capturados pelos jornalistas com o discurso (em directo) feito pelo presidente do IST. Enquanto que os testemunhos e os comentários jornalísticos pintavam um negro quadro apocalíptico, o nosso caro presidente parecia ter dificuldades em distinguir Portugal do País das Maravilhas da Alice. Ora isto pode não parecer novidade nenhuma, as pessoas sempre gostaram de se queixar e pedinchar (especialmente na televisão), as estações sempre gostaram de transmitir desgraças (palmas para os pioneiros na TVI)e os presidentes sempre adoraram polir o lustro à suas organizações. O que me deixa intrigado é porque raio é que foram introduzir um discurso tão optimista numa reportagem com o intuito aparente de causar o desespero. Ou vice-versa. Em primeira análise poderia dizer tratar-se de uma enorme gafe jornalística, ao falhar totalmente na criação de uma estrutura de base na qual assentar a reportagem, criando ao invés disso uma estranha amálgama incoerente. Mas não, muito pouca coisa se faz por acaso hoje em dia, menos ainda em televisão. Há-de haver alguma razão para tal, ainda que me escape.

Acontecimentos deste género fazem-nos reflectir em como, sem mentir (espero), se pode fazer pender a balança para o lado que nos convir. Essa linha de pensamento pode levar-nos a compreender o verdadeiro alcance e poder dos media. Assustador.

Já agora aproveito para dizer que não gostei de todo, das declarações do presidente António Serra ao incentivar o estudo da Física e Matemática dizendo que "vale a pensar sofrer e estudar Matemática e Física". Isto parece indicar que enveredar por estas áreas é um sacrifício com vista em proveitos futuros, em vez de um interesse ou vocação, uma perspectiva assaz desagradável. Mais, parece dar a entender uma certa superioridade dos estudiosos destas áreas, como se os restantes não as seguissem por falta de capacidades. Isto é obviamente um absurdo, cada pessoa tem os seus gostos e talentos, e não podemos julgar ou tentar adaptar os outros aos nossos moldes.

Filipe Baptista de Morais

PS: Para os que se interrogam se todos aqueles estudantes lá atrás se encontravam no técnico apenas para aparecer na televisão posso também eu responder a essa questão como me aprouver (sem mentir obviamente). É que é verdade que todos recebemos um e-mail a apelar à nossa presença no pavilhão de civil nessa noite, de modo a "mostrar um Técnico fervilhante de actividade mesmo às 20 horas da noite!". Mas também é um facto que se desenrolava nessa altura um projecto de arquitectura, designado Semana Relâmpago Arquitectura, que precisamente por ser um projecto curto de conclusão rápida implicava algum trabalho fora de horas. Pois é, parece que mais uma vez a verdade dá para os dois lados. Como sou um bocado indeciso, acabei por indicar os dois, agora escolhe o que te apetecer.