sábado, 24 de setembro de 2011

Queremos Ser Úteis

O desejo de começar a trabalhar é algo que se instala em todos os estudantes ao longo do tempo. Acho eu.

Por um lado queremos deixar finalmente os livros para trás, embora isso provavelmente nunca aconteça realmente. Por outro a sensação de independência que advém de ganharmos o nosso próprio dinheiro. Mas claro que tudo isto deixa de ter importância quando obtemos o primeiro emprego, passando então a queixar-nos da falta de férias e suspirando pelos belos tempos em que andávamos de livros às costas.

Outra razão também preemente para essa ânsia é o desejo de ser reconhecido ou, melhor dizendo, útil. É que enquanto estudantes também nos fartamos de trabalhar, mas esse trabalho não serve para nada. Bom, serve-nos a nós, que precisamos dele para continuarmos (com sucesso) os nossos estudos. Pode servir àqueles professores mais empenhados (os chamados malucos) que tiram satisfação do sucesso dos seus alunos, no fundo um reflexo do seu esforço próprio. Eventualmente poderíamos dizer que serve ao mundo que um dia irá necessitar dos conhecimentos que esse trabalho nos proporciona. Mas isso é já uma linha de raciocínio tão longa e rebuscada que se assemelha à teoria do caos.

Não, o que fazemos não serve para nada nem ninguém a não ser nós próprios, hoje e no futuro. O que já nem é mau de todo; egocentrismo à parte eu, pelo menos, preocupo-me bastante com a minha pessoa. Mas quando passamos a receber um cheque ao final do mês tudo é diferente. Ninguém gosta de dar dinheiro só porque sim (excepto, talvez, as avózinhas aos seus netinhos) e portanto se nos pagam é porque querem o nosso trabalho. Precisam dele. E nada faz tão bem ao nosso ego como sentirmo-nos úteis e necessários.


Filipe Baptista de Morais

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

US Open 2011

Como adepto e praticante da modalidade achei que não podia deixar de comentar aqui os acontecimentos no final do US Open, de tão ricos e interessantes.

Em primeiro lugar, o comportamento da finalista derrotada Serena Williams. Mais uma vez a atleta teve um comportamento inqualificável, ao insultar descarada e repetidamente a árbitra de cadeira no encontro, provavelmente porque estar mal-disposta devido à grande tareia que estava a levar. Podem ver o vídeo aqui. Concorde-se ou não com a decisão da árbitra (a meu ver perfeitamente justificada, já que Serena claramente dá o grito de vitória antes de terminado o ponto, desconcentrando a adversária) o que se a passa a seguir não tem justificação. Serena a descarregar toda a raiva e frustração que o encontro lhe estava a causar de forma irracional na árbitra; ou então é simplesmente agressiva e arrogante por natureza. Numa grande campeã (como ela inegavelmente é) um pouco de classe nunca fica mal. Nisto Serena poderia aprender muito com Federer, Nadal ou mesmo com a maior parte das suas colegas do circuito feminino.

Em segundo lugar o encontro de Roger Federer com Novak Djokovic nas meias-finais. Federer a entrar bem e nos dois primeiros sets mostrou (mais uma vez) porque é considerado por muitos o melhor tenista de todos os tempos e continua a ser o preferido do público. Nos dois seguintes a facilitar um pouco, talvez um pouco displiscente como é frequentamente acusado, embora também não se possa tirar o mérito todo ao esforço e à subida de nível de Djokovic. O 5º set foi sem dúvida o mais interessante, com ambos os jogadores a darem o seu máximo para se deslocarem à final. E aqui se viu bem como o ténis vive de momentum e como tudo pode mudar de um momento para o outro. A servir para igualar o set (estava a perder 4-3) Djokovic vê o suiço dar uma madeirada, mas a bola cai dentro e Federer acaba por ganhar o ponto, arrancando aplausos da multidão que torcia por ele. Irritado por aplaudirem um ponto conquistado com sorte (há que reconhecer) e também provavelmente por o público claramente se inclinar para a vitória de Federer (apesar do seu estatuto de nº1 mundial) o sérvio manisfestou o seu desagrado ao público e perdeu muita da essencial concentração. Permitiu assim rapidamente o break ao adversário. A servir para ganhar o encontro Federer mantém o ascendente e rapidamente chega ao 40-15: duplo match point. E é aqui que tudo se transforma. Irritado e descrente na vitória, Djokovic responde ao serviço com uma displiscente agressiva padeirada na bola, que por sorte (mas lá está, é preciso talento para ter sorte...) ou destino beijou a linha, salvando assim o 1º de encontro. Já o segundo foi perdido pelo suiço, que tendo ocasião de fechar o encontro vê o seu ataque ir de encontro à tela e a bola a sair para fora. E pronto, perdendo dois match points desta maneira e certamente com o encontro do ano passado bem vivo na memória (em que Federer também perdeu com Djokovic em 5 sets, após desperdiçar 2 match points) o nº3 mundial cedeu à pressão, oferecendo o break com uma dupla falta. O resto do encontro ficou também selado com as dúvidas e os medos do suiço, que se revelou (compeensívelmente) inconsolável na conferência de imprensa. No entanto não concordo com os que criticam os seus comentários após o jogo, creio se revelou apenas sincero e honesto e que de modo nenhum foi incorrecto para com o adversário. Como sempre, um grande campeão. Mesmo na derrota.

Para terminar, a tão aguardada final masculina: Djokovic (1) vs Nadal (2). Quem diz que foi uma jogo desapontante pelo claro desiquilíbrio (e não são poucos os que o dizem) ou não viram o jogo ou não percebem nada de ténis. Confesso que não vi o 1º set, portanto é possivel que o parcial 6-2 reflita uma certa diferença de nível. Já o 2º e o 3º set, com os parciais de 6-4 e 6-7, foram de um nível estratosférico, do melhor ténis que já tive oportunidade de ver. Pontos extremamente disputados, bolas de um excelente nível com ambos os jogadores a deixarem tudo o que tinham no court. No 4º set o nível desceu devido ao (desumano) desgaste que os jogadores já tinham sofrido, mas ainda assim o parcial de 6-1 não reflecte o momento inicial em que Nadal quase consegue o break, e que poderia muito bem relançá-lo no encontro. Devo também dizer que nunca tinha visto o incansável Nadal tão cansado, nem desistir de uma bola como aconteceu no match point. Há que tirar o chapéu ao campeão, que o conseguiu deixar nesse estado mostrando porque lidera o ranking. Mas não podemos de modo algum dizer que foi uma final de apenas um sentido, isso seria um total desrespeito não só para com o runner-up Nadal, que deu tanto no court e jogou ténis de alto nível, como também para a própria modalidade em si, já que foram jogados alguns dos pontos mais emociantes e com maior entrega de sempre. De realçar também que o árbitro de cadeira neste extremamente importante (e também complicado de "apitar" ) encontro era o português Carlos Ramos.

Filipe Baptista de Morais

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Sacrifícios

Creio que umas das coisas que diferenciam o ser humano dos restantes animais é o facto de treinarmos. Seja o bisonte no ginásio, o miudinho a dar toques na bola ou a executiva a ensaiar o discurso em frente ao espelho a questão é sempre a mesma: fazemos algo que não precisamos no momento de modo a o conseguirmos fazer melhor no futuro.

É claro que isto pressupõe uma capacidade que (geralmente) não se atribui aos animais: a projeção no futuro. Ou, semelhante, a análise do passado e estabelecimento de relações de correlação entre acontecimentos passados e presentes. Afinal, distinguir passado e presente de presente e futuro passa apenas por uma questão de perspectiva.

Um conceito interessante aliado a esta questão é o do sacrifício. Por norma, sacrifício consiste em abdicar de algo para obter outra coisa. Tudo isto se torna mais interessante quando a recompensa vem apenas no futuro. É assim esta capacidade de pensar na recompensa futura que permite às mulheres as suas dietas e aos homens os seus dolorosos treinos de ginásio, a ânsia por algo positivo no futuro sobrepõe-se ao sofrimento do momento.

Vi há algum tempo numa TED Talk um cientista que, após algumas experiências, chegou à conclusão que a principal característica que leva ao sucesso é precisamente essa capacidade de sacrifício em prol de uma recompensa futura. Numa das experiências, crianças muito novas (creio que na ordem dos 4 anos) eram deixadas sozinhas numa sala com um bombom sendo-lhes dito que, se passados alguns minutos ainda não o tivessem comido, então teriam direito a dois. Anos mais tarde foram verificar a sua evolução e constataram que as crianças que tinham aguentado a sua gula para receberem o prémio eram as que ocupavam mais importantes, para além de se acharem mais satisfeitos com as suas vidas profissionais e pessoais. Claro que é um estudo algo redutor, no sentido em que relaciona algo que depende de inúmeros factores com apenas uma característica. No entao, se bem me lembro a amostra era suficientemente elevada para levar até os mais cépticos terem de admitir uma correlação (infelizmente não me recordo mesmo dos números). Para além de que não é qualquer estudo que tem direito a ser apresentado numa TED Talk. De qualquer forma não deixa de ser também interessante quanto de nós já cabe dentro da nossa mini versão de quatro anos.

Filipe Baptista de Morais

PS: Vai ter lugar brevemente uma TED-Like Talk aqui mesmo em Lisboa. Podem consultar o cartaz em http://tedxedges.com/

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Lar do Bikini

Acho que ninguém percebe muito bem a postura das mulheres em relação à praia. Para começar, adoram expôr o corpo que tanto se esfporçam por esconder no resto do ano. Nada contra, obviamente. Só é engraçado ver como usam um bikini e horas depois se preocupam se deviam apertar mais um botão na blusa, ou se o vestido é curto de mais.

Mas mas curioso que isso, que vão elas lá fazer sequer? Geralmente limitam-se a dormir, ou a estender-se ociosamente numa toalha a ler a Caras. Ora sempre achei que uma pessoa está muito mais confortável numa cama ou sofá do que deitada num monte de areia irregular. E como toda a gente sabe as mulheres odeiam areia. O que também é estranho porque é precisamente essa a definição de praia: um monte de areia junto à água que, claro, está sempre demasiado fria.

Também não é pelo sol, já que há sol em todo o o lado, e deus as livre de se exporem a ele! Impensável estar debaixo desse escaldante e malvado astro causador de rugas sem um toldo ou um guarda-sol para protecção. Excepto, claro, na já referida praia.

Poder-se-ia pensar que é apenas para trabalhar no bronze, mas também esse raciocínio tem falácias, já que significaria que os solários destronariam a praia. Pois já que se trata de um sacrifício não será melhor fazê-lo deitado num cubículo durante umas horas do que na areia durante dias a fio? Mas não, as utilizadoras de solários são encaradas com desprezo como se fossem criminosas e não como mulheres modernas que abraçaram o futuro, pelo que geralmente escondem esse facto inventando uma viagem ao Brasil ou Cabo Verde.

Se pensarmos bem em tudo aquilo que uma praia representa (sol, areia, água fria, bolas de volley e raquetes perdidas a acertar nas pessoas, estarem expostas a olhares labregos e cobiçosos) vemos que é precisamente tudo aquilo que odeiam. E, no entanto, adoram-na. vá-se lá perceber as mulheres.




Filipe Baptista de Morais

PS: Outra coisa que não percebho nas mulheres em relação à praia, embora off-topic, é a sua postura relativamente ao topless. Opõem-se veemente à ideia nos seus 18s e 20s quando o incentivamos, mas muitas libertam-se desses pudores lá pelos 50 quando, sinceramente, já ninguém quer ver isso. É como dizem no mundo do marketing: a ideia certa na altura errada torna-se uma ideia errada.