quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

São Silvestre de Lisboa

Nome da Prova: São Silvestre de Lisboa
Comprimento: 10Km
Data: 26 de Dezembro de 2o10
Objectivos Mínimos: -42min
Desafio Pessoal: -39m 42s
Melhor Tempo em Provas Semelhantes: 39m 42s

Finalmente a tão badalada corrida de São Silvestre de Lisboa, prova para a qual tinha grandes esperanças e expectativas, nomeadamente melhorar o tempo obtido na Corrida do Tejo. Tendo feito prestações satisfatórias nos treinos indoor no ginásio e no Grande Prémio de Natal (apenas uma semana antes) estava confiante de que me iria superar mais uma vez. Infelizmente tal não se verificou mas ainda assim quero deixar aqui o meu balanço e apreciação da prova.


Partida: Ponto positivo para a organização por dividir as zonas de partida por tempos. Ponto negativo para o grande número de atletas que simplesmente ignoraram as indicações para partir mais à frente. Claro que se pode partir da zona dos -40 e acabar por fazer pior (como foi o meu próprio caso) mas não acredito que alguém que já tenha feito menos de 40 minutos (ou que se proponha a fazê-lo) reaja à partida com uma passada de caracol. A estreiteza da rua (de lembrar que estavam cerca de 8000 atletas!) não ajudou obviamente criando-se o já habitual caos neste tipo de eventos.

Ponto de Apoio (5Km): Aqui tenho infelizmente que deixar um comentário depreciativo em relação à organização, pelo facto de o ponto de apoio estar posicionado unicamente num dos lados da estrada e prolongar-se apenas por uns escassos metros. Ora já vi isto acontecer algumas vezes em provas de menos aluência, como é o caso das meias-maratonas, sem nenhum mal daí advir. Agora numa prova deste tipo acontece que é tanta a confusão que os desafortunados atletas que tenham a infeliz ideia de correr do lado oposto podem não conseguir aceder às águas sem interromper a sua marcha. Foi o que me aconteceu, tendo decidido após rápida reflexão que preferia passar o posto em branco a quebrar o ritmo.
Nesta altura ainda estava em condições de atingir o meu objectivo, mas a partir daqui foi o descalabro. Talvez por ser de noite (primeira vez que corria nestas condições), talvez pelo desgaste do piso irregular (género calçada), talvez pelo frio (FRIO!), talvez por falta de sono ou até excesso de treino (2 provas em semanas consecutivas realmente é de evitar) talvez por outra razão qualquer o facto é que a partir deste ponto comecei realmente a quebrar fisicamente. Ainda assim creio que estaria em perfeitas condições de cumprir (pelo menos) os objectivos mínimos fosse o terreno plano. Mas não o era, como saberia se tivesse consultado o gráfico de altimetria que agora disponibilizo aqui:

Peço aqui ao meu caro leitor para ver o que passa a partir do 6º quilómetro. Pois. Subir,subir,subir,subir,subir até ao malfadado marquês que parecia manter-se sempre à mesma distância. Ao chegar ao cimo ainda pensei que, impondo um ritmo hercúleo, ainda conseguiria recuperar o tempo perdido. Mas ainda nem ia a meio da descida quando tais aspirações se desvaneceram com o aparecimento de uma súbita e fulminante dor de burro que me obrigou a abrandar consideravelmente. Ainda consegui tornar a acelerar no final para cruzar a meta a um ritmo mais que decente (há que ficar bem nas fotografias que, nem a propósito, ainda não estão disponíveis), mas o mal estava feito. Terminei assim a prova com uns espantosamente maus 43min 19s, que me valeram um já não tão mau 470º lugar. Há aqui uma lição a tirar, e nos próximos tempos vou certamente esforçar-me por descobrir qual é e aprendê-la.

Filipe Baptista de Morais

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Época de Paz

Estamos em plena época de Natal que, como sempre, equivale a dizer que estamos em época de paz. Ou talvez devesse diver pasmaceira visto que o tempo ranhoso não deixar realmente fazer grande coisa. Não que me esteja a queixar, nada como terminar o ano com uns calmos dias de ociosidade para recarregar baterias.

Parece que os únicos locais que fogem a esta bruma de calma são os centros comerciais. Mais, parecem estar a ser assaltados por um frenesim consumista sem precedentes. Ainda hoje tive que ir ao El Corte Inglês levantar o dorsal para a corrida de S.Silvestre (nada como correr 10Km dia 26 para queimar logo todo o doce espírito Natalício que se impregnou em nós) e vi-me envolto num mar de caos e ruído. Parecia uma daquelas batalhas d' O Senhor dos Aneis. Ou um concerto dos Rise Against.
Já agora aproveito para, Natal à parte, expressar o meu desagrado por esse centro comercial em particular. Genial obra prima do marketing, não tem verdadeiramente lojas no seu sentido físico: os produtos estão espalhados (numa ordem estatísticamente optimizada acredito) por todo o lado, transformando todo o centro numa única e gigante loja. Ora isto é tudo muito bonito para os comerciantes, mas eu pessoalmente não gosto de sair das escadas rolantes e ver-me subitamente emboscado e encurralado por perfumes e roupa de mulher. Cada coisa no seu lugar.

Filipe Baptista de Morais

domingo, 19 de dezembro de 2010

53º Grande Prémio de Natal

Nome da Prova: 53º Grande Prémio de Natal
Comprimento: 9Km
Data: 19 de Dezembro de 2010
Objectivos Mínimos: 40min
Desafio Pessoal: -
Melhor Tempo em Provas do Mesmo Comprimento: -

Prova atípica pela sua díspar distância (9Km, onde é que já se viu?), o 53ª Grande Prémio de Natal apenas me chamou a atenção por ser de facto em plena Lisboa, permitindo-me assim correr em ambiente "competitivo" sem ter que ir a cascos de rolha. Não é que não goste de cascos de rolha (alguns são muito agradáveis) mas, já se sabe, "home sweet home" e sou de facto alfacinha de gema. No entanto não encarei esta prova com muita seriedade, servindo mais como um treino (quanto mais não seja aquecimento para a semana - S.Silvestre de Lisboa). E parece que desta vez o mundo estava em sintonia com a minha condescência, visto que não tinha disponível nenhum do equipamento que usualmente levaria para estas provas de Inverno (calças de lycra, casaco de corrida, Nike + Ipod, luvas de corrida, relógio com cronómetro, polar). Até foi bom para me (re)lembrar que para correr só precisamos dos nossos pés. É incrível como podemos ler fascinados livros de centenas de páginas*, concordar com quase tudo o que está escrito e ainda assim não aprender nada.
Fui assim para a prova sem velocímetro, pedómetro, nada dessas mariquices. Nem um raio de um cronómetro tinha! Embora não o tivesse planeado, revelou-se interessante para ver como se está a moldar o meu ritmo pessoal. Completei a prova em cerca de 35mins, o que revela que ando à volta dos 4mins/km que é um dos objectivos que tenho em vista para corridas futuras. Só falta conseguir mantê-los por 21Km.
Digo "cerca" de 35mins porque de facto não sei muito bem, como já referi não tinha cronómetro e ainda não lançaram os tempos oficiais, apesar de tal ter sido anunciado para as 16 horas. Parece que está na moda anunciar lançamentos só porque sim.
Quanto à prova em si não há muito a dizer, apenas um posto de abastecimento como seria de esperar para uma prova tão curta e um percurso quase inteiramente plano, se bem que de todo não do meu agrado. Isto porque fazíamos a Av.República nos dois sentidos, com os seus horríveis túneis que, apesar de representarem uma inclinação que apenas dura uns segundos, me conseguem quebrar completamente o ritmo.


*Neste caso referia-me ao livro (também já abordado aqui) "Nascidos Para Correr" que tanto implica com as mariquices que hoje em dia utilizamos para correr.

Filipe Baptista de Morais

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

À Falta de Melhor

Neste momento devia estar aqui a pôr imagens e a comentar a experiência da minha primeira maratona (nesta vida), realizada no passado domingo. Não querendo desiludir as expectativas, vou cumprir a 1ª parte:

Pois é, para mim a maratona não passou disso: acordar estremunhado às 7 da manhã (tinha dormido menos de 20 horas nas últimas 3 noites somadas) apenas para verificar que Lisboa sofria os efeitos de chuvas torrenciais, ventos (quase) ciclónicos e trovoada. Felizmente para a minha saúde, não fui louco o suficiente para sair de casa. Mas houve quem fosse, como por exemplo Vasco Azevedo que venceu a prova, embora com uma performance fraquinha, devido (segundo à organização) "ao vento e humidade que se faziam sentir na capital", que é como quem diz que estavam a voar árvores e choviam dilúvios.
Mas chega de desculpas, a verdade é que não me levantei da cama quando outros o fizeram, e por isso tenho menos uma medalha (e menos muitas dores nas pernas também). Bolas. Guardo no entanto a T-shirt, que por acaso é muito engraçada.
Para quem ainda não notou chamo agora a atenção para o facto de ainda não ter escrito nada de interessante: apenas tagarelice e queixumes de um velhote de 20 anos. No entanto enchi meia página (and counting!), numa bela execução daquilo que se chama a arte de falar (ou escrever) sem dizer nada.
À falta de algo melhor para dizer (tirando o tema das suecas que prefiro guardar como trunfo) aproveito ainda para dizer que as últimas semanas têm sido loucas em termos de trabalho, porque alguém da coordenação de cursos do IST se esqueceu que os dias só têm 24horas (e as semanas 7 dias) quando pôs quatro cadeiras com laboratórios e uma com projecto no mesmo semestre. Tal levou a picos (negativos) de performance da minha parte, chegando a fazer um fabuloso record de 2.52 numa avaliação (de 0 a 20). Parece que alguém vai ter que estudar para os exames...Alheios a este frenesim parecem estar os nossos professores, com testes para corrigir à mais de um mês quando a 2ª ronda começa já no sábado. Bah. Ao menos que alguém se divirta nesta altura suponho.
Numa nota mais positiva, estamos quase de férias! E com as férias o Natal e consequentes prendas (adequadas aos tempos de crise) e ano novo, e com ele vida nova. Vida nova, que (desejo) não entre em ruptura com a actual de que tanto gostei este ano!

Filipe Baptista de Morais

domingo, 28 de novembro de 2010

Respect

Há poucas horas atrás esta eu a ver a final do Masters Finals (ARROTA NADAL!) quando reparei (como já havia feito várias vezes noutras ocasiões, inclusivamente em assistir em partidas ao vivo) na pacífica convivência dos adeptos. Vi inclusivamente, num daqueles instantes em que filmam as pessoas nas bancadas e transmitem pos escrãs gigantes, uma linha de adeptos com a bandeira da Espanha logo ao lado doutros com cartazes a apoiar o Federer, todos eles apenas preocupados em serem vistos e apoiarem, e não com os seus "opositores".

Porque será que não se consegue ter o mesmo pacifismo no futebol? A O2 Arena, onde teve lugar o torneio que referi acima, tem capacidade para quase vinte mil pessoas, e esteve cheia durante toda a semana. No entanto não ouvimos falar de pessoas a atirar pedras, golas de golf ou maçãs. Será pela falta de competitividade? Certamente que não, dado tratar-se dum torneio onde apenas entram os 8 melhores tenistas da actualidade, ambiente mais competitivo seria impossível. Rivalidades? O "duelo" Nadal-Federer já se arrasta há anos, sendo a rivalidade mais famosa do tenis e porventura uma das mais marcantes de sempre de qualquer desporto. A diferença está apenas na forma como as pessoas encaram estas rivalidades, que no ténis tem tendência (felizmente) a ser bem mais pacífica que no futebol. A razão de ser disto escapa-se-me. Talvez se deva ao facto de o ténis ser ainda hoje considerado um desporto um pouco elitista. Creio que a maior parte das pessoas imaginaos jogadores de ténis a sairem do court, tomarem o seu baninho, vestirem o fato e gravata e irem para o escritório: o típico executivo. Ainda que tal fosse verdade para os praticantes, continuava a nada dizer sobre os seus adeptos.

O fanatismo (neste caso refiro-me ao desportista mas podia sem perda de generalidade falar do religioso, ou de qualquer outro tipo de facto) nunca traz nada de bom, e o respeito é essencial. Neste caso, o respeito pelo adversário. Dirigentes futebolistas passam a vida a apelar para o mesmo, poderiam talvez aprender algo com o exemplo do ténis. Ver o que se passa nesse desporto (embora só passe na SportTv500 porque em as outras estão a passar 3ª divisao chinesa de futebol), perceber onde reside a diferença, e explorá-la.

sábado, 20 de novembro de 2010

Nada.Tudo.

Há uns tempos vi um filme fabuloso que não poderia deixar de recomendar aqui. Chama-se "Watchmen" e é baseado numa banda desenhada com o mesmo nome e que recomendo com ainda maior veemência.
Sendo um filme de super-heróis mascarados baseado numa BD, tudo nos levaria a pensar tratar-se de um filme para crianças. Essa impressão começa a desintegrar-se à medida que nos vemos envolvidos num enredo extremamente profundo e intrigante, a acrescentar a cenas de violência que não poderiam ter representação num filme para os mais novos.
Não querendo estragar a experiência àqueles que se interessam e irão ver o filme limito-me a referir que é passado num tempo alternativo, durante a guerra fria, em que se forma nos EUA um grupo de corajosos (e mascarados) cidadãos para levar a justiça às ruas. O aparecimento posterior de um verdaderio superherói (no sentido em que tem de facto super poderes) traz toda uma nova dimensão à história. Através da representação de diferentes perspectivas, "Watchmen" faz-nos repensar os conceitos de bem e mal, justiça e o direito de a empregar, e até que ponto os fins justificam os meios. No final, heróico e monstruoso confundem-se de tal maneira que se torna difícil perceber que realmente define um e outro. Absolutamente fabuloso.

A um dado ponto no filme, a (ex-)namorada do quase omnipotente super-herói (agora desinteressado de tudo) tenta convencê-lo a impedir uma guerra nuclear, argumentando que toda a vida na Terra poderia ser extinta. A sua resposta dá muito que pensar "Sim. E o Universo nem daria conta". O facto de algo tão castastrófico como a destruição do nosso planeta ser visto como desprezável pode deixar-nos atónitos, mas só até pensarmos nas dimensões do Universo e nos inserirmos nele. Os nossos problemas, por muito importantes que nos pareçam, reduzem-se à medida que afastamos a perspectiva, e nem precisamos de sair da nossa cidade para que ninguém (ou nada) queria saber deles. É curioso reparar como o mundo pode agoniar quando resplandescemos de energia, ou alegrar-se em festa quando tudo parece desmoronar-se à nossa volta.
A vida é importante, temos um propósito? A vida é importante e para si mesma, não para o contexto em que vive. Quanto ao nosso propósito, acreditando ou não nele, apenas nos diz respeito a nós, sendo indiferente a tudo o resto. Em "Reino dos Céus" o significado da religião é bem espelhado pelas palavras de Saladino, ao ser inquirido sobre qual o valor de Jerusalém: Nada.Tudo.

Filipe Baptista de Morais

sábado, 6 de novembro de 2010

Tru(e) Blood

Está aí a nova série do momento, True Blood (maravilhosamente traduzida para "Sangue Fresco"). Na verdade já saíu há algum tempo e vai para a 4ª temporada, mas assim a apresentação tem mais impacto.
É uma série que tem tudo aquilo que se pretende hoje em dia: gente jovem, violência, sexo e vampirinhas (e sexo com vampirinhas já agora). Aborda em sub-plano muitos temas interessantes, nomeadamente a solidão da diferença, o racismo, o medo do desconhecido, envelhecimento, drogas e religião. Envolvendo toda esta panóplia filosófica sob um frenético véu de acção, violência e sensualidade True Blood consegue assim manter-nos pregados ao ecrã para uns fáceis e descontraídos momentos de diversão, permitindo-nos ainda debruçarmos a mente sobre o seu intrincado conteúdo se estivermos para isso. Para mim, 5 estrelas.

Faria aqui uma breve exposição sobre o enredo da série, mas não quero que me acusem de spoiler. Vejam.

Filipe Baptista de Morais

domingo, 24 de outubro de 2010

Corrida do Tejo

Nome da Prova: Corrida do Tejo
Comprimentos: 10Km
Data: 24 de Outubro de 2010
Objectivos Mínimos: - 45m
Desafio Pessoal: - 42m
Melhor Tempo em Provas do Mesmo Comprimento: 42m 34s

Embora pudesse parecer demasiado ambicioso o objectivo de baixar a minha marca dos 42minutos (após ter feito 46minutos na última prova do género) é preciso ter em conta que essa foi a primeira prova da época, para além de que como referi na altura não me preocupei então muito com o tempo nem me senti especialmente cansado no final. Para além disso, o bom resultado na meia maratona do Porto deu-me confiança, sendo que de qualquer modo me sentia em forma. A organização da prova foi, como nos restantes anos, impecável; dois apoios ao longo da prova (aos 3Km e aos 7Km), a zona de partida organizada por tempos (atletas mais rápidos partem à frente de modo a evitar o caos inicial), porta-estandartes e T-shirt técnica e muito gira também. Para quem não sabe do que estou a falar, um porta-estandarte é um atleta contratado pela organização que corre a um ritmo regular uma bandeira por cima a dizer o tempo que vai fazer, podendo os restantes atletas guiar-se assim por eles.

Sendo o meu melhor tempo à data 42m34s, tal deu-me acesso (davam-nos umas pulseiras tipo as das discotecas no algarve) à zona de partida dos sub 45, mas mantendo-me ainda afastado das mais desejadas zonas dos sub 42 e sub 40. Tal revelou-se muito relevante, visto que havia cerca de onze mil participantes e portanto a confusão era muita. Antes da partida avistei mais à frente (na tal cobiçada zona de partida dos sub 40) o porta-estandarte respectivo e decidi tentar acompanha-lo. No entanto após o tiro de partida a confusão na minha zona (faltou a pulseira para a guest zone!) era tanta que o perdi imediatamente de vista. Logo por azar (tosquice vá) os atacadores do ténis esquerdo desapertaram-se perto do marco do 3ºKm, pelo que tive que fazer uma pequena paragem para os voltar a atar. Mais que o tempo perdido (cerca de 15s) conta o esforço (essencialmente mental) que tive de fazer para voltar a entrar no acelerado ritmo que me impunha. Já perto do marco do 6ºKm consegui finalmente avistar (ao loooooonge) o porta-estandarte que tinha decidido acompanhar, e fui gradualmente encurtando a distância. Por volta do 7ºKm passei no segundo posto de apoio, mas nesta altura outra necessidade sobrepunha-se à necessidade de beber: a necessidade de respirar. Rejeitei assim as bebidas que me ofereciam de modo a tentar manter o fôlego. No último quilómetro já me encontrava a uns meros 30m do porta-estandarte, pelo que decidi acelerar para tentar ultrapassá-lo. Má ideia como se veio a revelar: certamente que cheguei perto (10-15m) mas então os pulmões (ou as pernas?) resolveram finalmente dar de si, e cruzei a meta já uns bons 15 segundos após a minha presa. No entanto fiz mesmo assim um excelente tempo para aquilo que tinha vista (39m e 42s), estabelecendo um novo record pessoal, cumprindo o desafio que tinha proposto para prova e ao mesmo tempo aquilo que queria atingir até ao final da época (-40m). Para efeitos estatísticos posso revelar que fiquei em 377º (pode parecer mau mas se nos lembrarmos que são 11000 atletas é top 5%).

Gostaria ainda de agradecer ao compatriota atleta anónimo que me deu boleia até meio caminho do parque dos poetas (que no mapa parecia bem pertinha mas afinal era longe como o raio).

Filipe Baptista de Morais

sábado, 23 de outubro de 2010

Os opostos atraem(-me)

No outro dia perguntaram-me qual era o meu desporto favorito. Uma pergunta pertinente, já que me é difícil escolher de entre as minhas actividades desportivas preferidas: ténis, futebol e corridas de fundo (aqui ordenadas pela frequência com que as pratico). Isto fez-me pensar em como são diferentes os três desportos (não sei se as corridas de fundo são tecnicamente um desporto mas whatever). Decidi assim fazer uma breve exposição sobre a minha forma de ver estas três actividades, as suas diferenças e aquilo que me atrai nelas.

A mais óbvia e porventura importante diferença é o número de intervenientes: futebol é um desporto de equipa, no ténis estamos sozinhos com o nosso adversário e no atletismo (visto de um modo mais abstracto) nem precisamos de adversário. Isto tem várias consequências que são (a meu ver) interessantes. O facto de jogarmos em equipa é em si um forte factor de motivação: queremos impressionar os nossos companheiros, não queremos de todo desiludi-los e apenas temos que ter cuidado em manter os interesses da equipa acima dos nossos interesses pessoais. Podemos dar e receber indicações, (é comum a expressão "patrão da defesa") facilitando a vida ao colectivo. O jogo em equipa cria também um certo clima de camaradagem e convívio, tornando-se facilmente num agradável hobby. No ténis temos que criar a nossa própria motivação, através (por exemplo) de um ardente desejo de vencer. No atletismo tal pode revelar-se ainda mais difícil, já que (pelo menos na forma como eu o pratico) raramente competimos com alguém em particular que não nós próprios. É assim necessário termos um forte espírito auto-competitivo, uma forte vontade de nos superarmos a nós mesmos. A falta de adversário leva-nos ainda a outra elação: não há provas fáceis no atletismo. No futebol e no ténis há sempre aqueles jogos/partidas em que o adversário simplesmente não está à altura, não requerendo portanto grande esforço. Quando somos o nosso próprio adversário temos assim a certeza de que iremos ser confrontados com um desafio e que temos que dar tudo. Os jogos de equipa têm ainda esta componente: quando falhamos pode haver alguém que compense a nossa falha. Neste sentido um court pode tornar-se um local solitário quando as coisas não nos correm de feição. Mas claro que sentirmos que estamos a comprometer toda uma equipa também não é de todo, sensação desagradável compensada pelo hero status sou o rei do mundo quando elas nos correm de feição.

Outra grande diferença é o sistema de pontuação. O futebol é um desporto quente, um jogo que pode durar mais de uma hora mas resolver-se em meia dúzia de momentos chave. Isto faz com que seja um desporto vivido muito intensamente, capaz de provocar grandes alegrias e também grandes tristezas. Por outro lado isso torna-o também "injusto", podendo-se ganhar e perder jogos com lances fortuitos irrepetíveis. No ténis tudo é diferente. Para chegar a um match point é necessário toda uma construção de jogo que implica várias vitórias parciais. No entanto não ganha o jogador que vencer mais pontos, de facto chegou-se estatisticamente à conclusão que o factor mais determinante para a vitória são as séries de quatro pontos consecutivos. Mesmo assim parece-me um sistema mais equilibrado, sendo relativamente raro considerarmos (imparcialmente) o desfecho de um encontro "injusto". O facto de o sistema de pontuação não ser simplesmente uma contagem linear provoca esse pequeno grau de "injustiça", mas cria toda uma nova dinâmica de relevância dos pontos que torna o desporto muito mais interessante ao nível psicológico, uma componente que obviamente tem que se considerar inerente ao próprio. Focando outro aspecto, no ténis não há empates, o que elimina certas opções estratégicas que geralmente são adoptadas quando tal é permitido. No atletismo (amador, repito) trata-se mais de estabelecermos os nossos próprios objectivos pelo que, de certo modo, somos nós que decidimos se ganhámos ou perdemos. Daí que (como podem constatar nos relatos que faço das provas) eu ache necessário importante definir metas antes das corridas. É também (à semelhança do ténis) um desporto de continuidade: não são os últimos cem metros que definem o tempo que demoramos a percorrer dezenas de quilómetros.

Gostaria também de fazer uma breve reflexão sobre o equipamento necessário para cada actividade e o que isso implica. Para correr necessitamos apenas da vontade de o fazer. É algo que nos é inerente, natural. Todos corremos: mais rápidos, mais lentos, durante mais tempo ou num breve sprint, e acredito que a maioria ficaria surpreendida ao ver aquilo de que é capaz. E podemos fazê-lo em qualquer lado, sendo que marcar a partida e meta em casa surge como uma escolha relativamente óbvia. Para jogar futebol já precisamos de uma bola e de um recinto próprio, isto é, de um meio adaptado para essa prática. Isto geralmente significa que um jogo implica uma deslocação, geralmente tornada agradável pela companhia do resto da equipa. Mais uma vez a componente de convívio sobressai neste desporto. O ténis vai ainda mais longe: além do court e das bolas precisamos da raquete, que tem de funcionar como uma extensão do nosso corpo. Isso torna-o um desporto mais artificial, fabricado, cujos movimentos são pouco naturais e têm de ser aprendidos. Criar algo assim é semelhante a uma invenção física: requer uma profunda reflexão com um intuito em vista, neste caso criar algo divertido. Este afastamento em relação à nossa natureza torna-o também mais elitista, facto agravado pelos custos que o desporto comporta. É ainda, quando praticado pelas pessoas certas, um desporto extremamente elegante, faz-me lembrar o ski por acaso.

Por último, a duração. O futebol tem uma duração temporal delimitada o que permite fazer uma certa gestão de esforço (físico e mental) em função disso. Já no ténis tal não acontece, a partida só termina quando vencido o adversário (ou o oposto) o que a mim me parece um conceito mais interessante, especialmente em termos psicológicos. No atletismo a duração também é sempre variável (já não falando no comprimento da prova) consoante o esforço que despendemos e a forma como o fazemos. É curioso que o esforço aumenta tanto com a velocidade a que corremos, como com o tempo que corremos, mas este último varia inversamente com a velocidade. Podemos assim considerar o esforço uma espécie de variável a duas incógnitas, cujas valores temos de descobrir para optimizar a performance. É isto que é difícil e interessante nas corridas. Nada nos diz qual é o nosso tempo máximo, e não podemos simplesmente fazer "o melhor possível". Pois para isso é necessário conhecer esse melhor, e então fazê-lo concretizar-se. E talvez não seja de facto "o melhor", apenas não nos ocorreu que pudéssemos ir mais além. É difícil melhorar os nossos tempos, temos acima de tudo que acreditar em nós próprios, sem nos sobreestimar, o que nem sempre é tão fácil quando se poderia pensar. Melhorar no atletismo implica portanto um processo de auto-conhecimento que apenas vem com a experiência. Sabemos que conseguimos percorrer a distância x em y tempo quando o fizermos. E para o fazermos temos que o decidir fazer antes, pois a corrida começa da linha de partida e é a partir daí que temos que marcar o ritmo. O meu treinador de atletismo costumava dizer que quando chegamos à meta vamos sempre estar todos rebentados, portanto mais vale irmos rebentados desde o início que chegamos mais depressa. Claro que treinávamos essencialmente distâncias curtas (100m,200m,400m) mas mesmo nas longas distâncias a experiência começa a mostrar-me o que ele queria dizer.

Filipe Baptista de Morais

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Pelos teus lindos olhos

Certamente que já todos repararam que hoje em dia são imensas as pessoas que usam óculos e/ou lentes de contacto. Tal deve-se a uma data de razões das quais conheço decerto apenas uma pequena parte e que também não me interessam muito.
O que eu acho mais curioso são as pessoas que deixam os óculos em casa (ou decidem simplesmente não ir ao oftalmologista não vá ele prescrevê-los) apenas por razões estéticas. É certo que ninguém gosta de usar óculos: são incómodos em determinadas situações e raramente fazem algum bem à nossa aparência (embora hoje em dia já haja modelos muitos estilosos). Mas não será a capacidade de ver mais importante que tudo isto? De facto acho curioso alguém poder preocupar-se mais com a forma como o mundo o vê do que o contrário. A meu ver, a funcionalidade deve sempre sobrepôr-se à estética. Por isso é que hei-de ser engenheiro e não artista, suponho.

Filipe Baptista de Morais

domingo, 10 de outubro de 2010

Meia Maratona Sportzone


Nome da Prova: Meia Maratona SportZone aka Meia Maratona do Porto e Gaia
Comprimento: Meia Maratona (21km)
Data: 10 de Outubro de 2010
Objectivos Mínimos: - 1h 40m
Desafio Pessoal: - 1h 35m
Melhor Tempo em Provas do Mesmo Comprimento: 1h 35min 14s

De um modo geral foi uma prova bastante agradável, o percurso é em termos práticos o melhor que já percorri aka é plano (e quem me manda viver na cidade das 7 colinas?) e de resto também era extremamente agradável, sendo sempre ao longo da marginal do Douro de ambos os lados (Porto e Gaia). Uma zona extremamente bonita criando assim a perigosa vontade de parar para a absorver melhor. Os apoios não foram maus embora pudessem ser bem melhores: havia apenas um de 5 em 5Km (creio que é o mínimo regulamentar) e apenas davam águas (definitivamente o mínimo regulamentar). No entanto tinham gente suficiente em cada para garantir que todos os atletas recebiam a(s) sua(s) bebida(s) em todos os postos, a sua eficiência garantindo assim a sua suficiência para a prova. Palmas para o Powerade azul na meta (adoro de facto esta bebida). Uma caprichosa sorte permitiu-nos correr sem chuva, embora as inconstâncias do tempo nos últimos dias me tivessem obrigado a levar tanto o equipamento de verão (calções, T-shirt e Pegasus) como o de inverno (calças, casaco e Glide-GTX) para o Norte. O solzinho a espreitar na manhã da prova levou-me a decidir-me pelo equipamento veraneano com a T-shirt da prova. O facto de correr sozinho permitiu focar-me mais nos aspectos técnicos adquiridos em leituras e pela minha curta passagem pelo atletismo universitário: costas direitas, braços soltos, passada larga, calcanhares acima e toda essa treta. Segue uma discrição mais aprofundada da prova.

Partida: confusão é a palavra do momento (para variar um pouco). Os Rise Against susurravam-me (na realidade berravam mas com tanto barulho…) aos ouvidos standing no change to win but we’re not running, o que me pareceu bastante adequado: claro que não havia grandes hipóteses de bater a dezena de quenianos e etíopes que se dignaram a passar por Portugal, e no meio de tanta gente de facto não se corria grande coisa, sendo o início da prova mais parecido com uma desesperada demanda para arranjar espaço para nos conseguirmos mexer (e respirar já agora).

Decidido a não passar a prova inteira a compensar uns primeiros quilómetros desastrosos (como vem sendo habitual) acelerei mal me foi possível de modo a completar o primeiro quilómetro com o parcial de 4m e 31s (geralmente demoro acima de 5m no 1º Km devido ao encavalgamento inicial).

10º Km: Já do lado Gaia a inversão de sentido confrontou-nos com um súbito e agressivo vento-contra. Não querendo comprometer a prova com um mau parcial decidi fazer um esforço extra para me manter no ritmo. Power song on (para esta prova escolhi “Sucked In” dos Jerk) e carrega no pedal. Acabei assim por fazer o meu melhor parcial (consultar tabela abaixo) naquele que foi o quilómetro com as condições mais adversas.

12º Km: Agora eram os Dragonforce quem me tentavam animar (for victory we ride!) mas a minha mente deambulante decidiu reparar na letra da música sobre cavalgadas o que me fez pensar como seria bom ter um cavalinho para correr por mim naquele momento. Mas imediatamente me lembrei que de facto os seres humanos têm mais resistência que os cavalos (e que qualquer outro animal terrestre já agora, em termos de ultra-fundo), e da curiosa teoria segundo a qual os nossos antepassados se limitavam a perseguir as suas presas (aka jantar) até estas simplesmente desmaiarem de exaustão*. Estes pensamentos animaram-me, assim como umas rápidas contas que me fizeram ver que estava bem lançado para cumprir o desafio que me havia proposto.

16º Km: Dor de burro. Burro por no 15º Km ouvir o Ipod (graças ao chipzinho da Nike) anunciar um fabuloso ritmo de 4m/Km e achar que o poderia manter. Felizmente mal voltei a assentar os pés na terra a dor sumiu-se juntamente com as esperanças de ficar preto e correr que nem uma gazela. Bah.

Últimos 100m: Ao ver a linha da meta, ala que se faz tarde! A acabar assim em grande com um (quase) sprint e múltiplas ultrapassagens nos últimos segundos. Terminei assim com uma média de 4m21s/Km, o que corresponde a 13.793Km/h.

Como estava no comboio de regresso a casa sem nada de especial para fazer, fiz estas bonitas tabelinhas com os tempos registados em todos os quilómetros.

-

Parcial de Km

4m31s

4m29s

4m14s

4m22s

4m25s

Cronómetro

4m31s

9m0s

13m14s

17m36s

22m2s

-

10º

Parcial de Km

4m21s

4m19s

4m27s

4m38s

3m53s

Cronómetro

26m23s

30m43s

35m10s

39m48s

43m31s

-

11º

12º

13º

14º

15º

Parcial de Km

4m37s

4m16s

4m21s

4m20s

4m3s

Cronómetro

48m 18s

52m 34s

56m 56s

1h 1m 16s

1h 5m 20s

-

16º

17º

18º

19º

20º

Parcial de Km

4m25s

4m26s

4m22s

4m24s

4m5s

Cronómetro

1h 9m 45s

1h14m12s

1h18m34s

1h22m58s

1h27m4s

-

21º (Meta)

Parcial de Km

4m29s

Cronómetro

1h31m 33s

(há uma discrepância de 12s entre o meu cronómetro e o tempo oficial)

*Estas e muitas mais coisas em Nascidos para correr, brilhante livro de Christopher McDougall.


Filipe Baptista de Morais