sábado, 24 de dezembro de 2011

O melhor possível

Pedro Boucherie Mendes acredita que "o que é mais motivo de orgulho nacional são aquelas pessoas que conseguem ser os melhores alunos das suas turmas, independentemente de terem 6 anos de idade, ou 18 ou 20 ou 25". Pessoalmente, não me identifico muito com esta ideia. Em primeiro lugar porque ser o melhor a aprender não é propriamente aquilo de que precisamos. Aprender, pelo menos neste conceito escolar, aparece sempre ligado a coisas que já existem, que já são sabidas; ora que é preciso é fazer e descobrir coisas novas, como esta recente ânsia pelo empreendedorismo apregoa tão acertadamente. Claro que não se faz o novo sem saber o velho, mas a relação não implica a causalidade, que de facto não existe. Outro ponto premente é o facto da expressão "o melhor da turma" implicar um nível de competitividade que, a meu ver, ultrapassa o saudável e revela-se um pouco obsessivo.

Nas mesmas declarações, Mendes especificou estar a falar de "pessoas que não deixam de acreditar que devem ser sempre o melhor possível naquilo que fazem". Proferido na sequência da ideia anterior, este discurso parece-me a mim uma necessária e apropriada correcção. Creio que temos que apontar a ser melhores, em oposição a os melhores. Isto parece-me uma ambição mais saudável, já que não exclui um trabalho colectivo para atingir os seus fins. Nem todos podemos ser os melhores e um objectivo tão relativo pode levar a dissabores ainda que estejamos a sair-nos lindamente. Também pode suceder o inverso, isto é, o nível geral ser tão mau que nos satisfazemos com a nossa mediocridade. Não, superar-nos continuamente é sempre melhor do que tentar superar os outros. Enquanto praticamente amador de atletismo acho que consigo perceber com mais clareza quão diferentes são os dois conceitos.

Nessa diferença reside ainda um ponto fulcral já abordado neste blog; o brio. Por vezes parece que tudo o que fazemos é para superar ou agradar a outros. Então onde param as nossas expectativas, os nossos objectivos, as nossas exigências? É a exigir mais de nós mesmo que conseguimos superar-nos e ser melhores pessoas, ou simplesmente melhores numa coisa qualquer. Já o filósofo grego Epicuro dizia "Faz tudo como se alguém te contemplasse". A meu ver, é precisamente esta ideia de que apenas nos esforçamos para fazer o que está certo ou para melhorarmos quando alguém nos está observar que é preciso combater. Mais do que a ideia, é preciso mostrar que isso é mentira. Toda a motivação de que precisamos está dentro de nós próprios, e tentaremos sempre fazer o melhor possível.

Filipe Baptista de Morais

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