sábado, 21 de julho de 2012

Caixinha de Surpresas

É muitas vezes referido que uma das coisas que diferencia um ser humano de uma máquina é a sua capacidade de surpreender e ser surpreendido. Não há dúvida de que a vida seria muito mais aborrecida se não estivesse repleta de outras pessoas com essa habilidade de nos surpreender constantemente. Mas e quando as surpresas não são boas quanto isso? Essa impossibilidade de caracterizar e prever o comportamento dos outros tem tanto de fantástico como de assustador.

É verdade que não haveria grande proveito em ter amigos se fossemos perfeitamente capazes de prever o seu comportamento, perdendo assim aquilo que nos maravilha ou diverte. Mas a amizade, assim como as relações inter-pessoais  no geral, baseia-se na confiança que por sua vez deriva da nossa crença em que certas pessoas nunca farão isto ou aquilo. Perceber que essa crença é fracamente fundamente e que nos é requerida uma confiança cega pode ser aterrorizante. Ainda que não acreditemos nisto, ainda teríamos que responder à pergunta: quanto tempo leva a conhecer uma pessoa? Uma semana, um ano, uma década, uma vida? à medida que nos vamos aproximando da realidade começamos a assemelhar-nos àqueles que fazem prognósticos no final dos jogos de futebol.

Para complicar ainda mais a questão é certo e sabido que as pessoas podem mudar. Bom, talvez seja mais consensual dizer que há quem acredite nisso. Isto leva a que, mesmo que tenhamos absoluta confiança na nossa capacidade de análise, temos de estar sempre preparados para todo o tipo de surpresas. Levanta ainda uma questão interessante; quando os actos de uma pessoa não encaixam na ideia que tínhamos dela, será que foi mesmo por ter mudado? E se não, há quanto tempo estamos enganados a seu respeito?


Filipe Baptista de Morais

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