quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Indesejados

As sucessivas greves de metro obrigam muitos Lisboetas a procurar, ainda que temporariamente, alternativas de transporte para os seus locais de trabalho. No meu caso, e dado que nunca fui grande fã de autocarros, essa alternativa é a bicicleta. Seria de esperar que, após um tão grande investimento em ciclovias, os ciclistas se sentissem mais que à vontade a deambular pela cidade. Infelizmente tal (ainda não) acontece.

Na estrada somos, salvo o eufemismo, odiados. Não são raras as buzinadelas por "empatarmos" o trânsito e ainda menos os olhares desconfiados e furibundos, principalmente quando a nossa incapacidade para acelerar para 60Km/h quando o semáforo passa a amarelo leva a que algum automobilista tenha que esperar pelo próximo verde. Facilitar as mudanças de faixa é algo impensável, ainda para mais quando a maior parte dos condutores aparenta ignorar ou desprezar os sinais gestuais.

Tudo isto nos poderia levar a optar pelas passadeiras, mas também aí somos considerados um estorvo, desta feita pelos pedestres. E têm razão, já que de factor não pertencemos a esse lugar. Ainda assim poderia haver mais boa vontade quando não estamos, de todo a incomodar ninguém.

E chegamos assim, finalmente, à ciclovia: esse meio próprio a essa detestável criatura que é o ciclista. Mas até aí ele se sente um proscrito, já que a ciclovia se encontra repleta de pedestres a passear em todos os sentidos (directo, inverso) e direcções (longitudinal, perpendicular, aleatória), muitas vezes acompanhados do omnipresente carrinho de bébé. E não é que até aqui fazem má cara quando lhes passamos ao lado, tendo sido obrigados a abandonar a nossa gloriosa via porque não se quiseram dar ao trabalho de se desviar.

Por essas e por outras (eg: as 7 colinas) não me parece que Lisboa seja por enquanto uma cidade muito apetecível para os ciclistas. Mas talvez estejamos no bom caminho.


Filipe Baptista de Morais

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