sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Polémica

O Público publicou há pouco tempo uma notícia em que referia que o "Instituto Superior de Contabilidade e Administração de Lisboa (ISCAL) e o Instituto Politécnico de Leiria estão a subir as médias aos estudantes que terminem os respectivos cursos dentro do tempo previsto". Esta notícia gerou intensa polémica e reacções intempestivas de parte a parte. Dada a sua Natureza  e a interessante troca de argumentos de parte a parte pareceu-me que valeria a pena comentar este assunto. Se quiserem podem ler a notícia aqui.

Em primeiro lugar gostaria de dizer que, na minha opinião, não há caso para tanto alarido e preocupação, relativamente à "injustiça na entrada do mercado de trabalho" que tantos contestam. Isto porque os empregadores não se guiam única, exclusiva e cegamente pelas médias dos seus candidatos; far from it. É até sabido que muitas empresas dão preferências a estudantes de certas instituições, às quais atribuem credibilidade, em prol de outras. Ou à instituição da qual são provenientes. Ou àquela em que o primo por acaso trabalha. Ou simplesmente àquela que se encontra mais próxima do seu local de trabalho. Tudo isto é natural e dilui essa "injustiça", a existir. É certo que há casos, nomeadamente concursos públicos a bolsas de investigação, em que a média é o único determinante. No entanto, mais uma vez, não considero que esta notícia seja caso para grande alarme nesse âmbito. Isto porque há muitos outros factores que influenciam tanto ou mais a média. Não quero com isto afirmar que há faculdades que dão melhores notas que outras (nem que não as há; quem tiver esses dados que os comente), simplesmente pretendo salientar que as notas atribuídas a um aluno são extremamente relativas. Sendo eu próprio estudante Universitário posso comentar que, em cadeiras onde há alternância de Professores, é muito frequente haver (altas) oscilações nas notas de semestre para semestre. E não estou aqui a falar de 2 décimas. Parece-me portanto que também não é por aí que o caso se torna escandaloso.

Estas medidas de "incentivo" são sim dignas críticas mas porque, a meu ver, simplesmente não fazem qualquer sentido. Em primeiro lugar as notas de um aluno são, idealmente, um reflexo do conhecimento e capacidades que ele obteve/demonstrou. Não devem por isso ser adulteradas sob o pretexto de o incentivar. Em segundo lugar defendo que, sejam de que tipo forem, os incentivos apenas devem ser atribuídos a quem se destaque pela positiva. "Incentivar" os alunos que sejam aprovados a todas as cadeiras de um semestre ou que concluam a licenciatura em três ano é equivalente a dizer que tal não seria esperado deles, que é uma espécie de achievement. Ser aprovado a cadeiras e concluir o curso no tempo esperado deveriam ser a norma, e não a excepção. Isto é mandar uma mensagem clara aos estudantes de que apenas se conta com a mediocridade. De notar que este raciocínio em nada se prende com o tipo de incentivos utilizados, nem com as taxas de aprovação das cadeiras/cursos em causa. Ainda que apenas 1% dos estudantes concluí-se o a licenciatura no tempo previsto continuaria a defender que não faria sentido incentivá-los por isso. Finalmente acho que o 3º tipo de incentivo referido ("Quando a média do estudante for superior a 14, há ainda um incremento de meio valor na classificação final") merece um comentário especial. Subir a média de um aluno por este ter uma boa média é, perdoem-me a expressão, estúpido. Não faz qualquer tipo de sentido. É descaracterizar e retirar todo o sentido à média.

De modo a clarificar a minha posição, gostaria de salientar que não sou de todo contra o uso de incentivos aos estudantes exemplares. Não concordo (de todo) é com esta noção de exemplar ou, no último caso, com o tipo de incentivo usados. Ofereçam propinas, livros, cheques FNAC ou bilhetes para o Sporting. Os Presidentes de ambos os institutos justificaram as duas decisões referindo que são um incentivo aos estudantes a terminarem os estudos no tempo previsto, reduzindo assim os custos para o Estado. Isto é, na minha opinião, uma barata e demagógica tentativa de apelar ao sentido económico das pessoas que, neste tempo de crise,  tão sensível se encontra. Não misturem alhos com bugalhos.

Finalmente gostaria ainda de aproveitar para comentar a reacção da Direcção da Associação de Estudantes do Instituto Superior de Contabilidade e Administração de Lisboa (AEISCAL) à notícia do Público. Podem consultá-la aqui. Não vou criticar a sua posição, dado que já exprimi a minha opinião quanto aos incentivos usados. Critico sim o tipo de argumentos utilizados que, apesar de serem empregues com frequência e geralmente até bem aceites, são a meu ver falaciosos. Em primeiro lugar, o eterno argumento "ah, mas já se faz assim há muito tempo" (neste caso três anos). Nem tudo o que fez foi bem feito, tal como é certo que nem tudo o que se fará o será. Mas esse tipo de raciocínio apenas leva à perpetuação de erros. Em seguida, o talvez ainda mais típico "ah mas toda a gente faz!". Não sei se é verdade se não, já que não referiram quais as Instituições do Ensino Superior que o fazem. Sei que a minha não faz. Mas ainda que acreditando nisso (não há razões para não o fazer creio) temos que concordar que é um argumento fraquíssimo e, até, algo infantil. Apenas me faz lembrar as crianças que, ao serem apanhadas a fazer algum disparate, denunciam tudo e todos na sua tentativa de se ilibar. No caso das crianças muitas vezes tiram daí algum benefício: sempre arranjam companhia para o castigo. No caso da AEISCAL não percebo realmente o que pretendiam.


Filipe Baptista de Morais

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