sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Conhecimento

Desde sempre (ou desde que a palavra "sempre" tem algum significado para a humanidade) que o Conhecimento foi um dos temas preferidos da filosófica lupa humana. Parece-me portanto relevante (talvez até interessante) escrever algumas palavras sobre o tema.

Um dos aspectos sem dúvida mais abordados é o das origens do conhecimento. Certo filósofo (creio que David Hume, embora não o possa garantir) defendia que o verdadeiro conhecimento provinha apenas experiência pessoal, confiando assim (embora de modo indirecto) na nossa percepção sensorial. Uma ideia um pouco estranha, pois são inúmeros os casos em que (pelo menos aparentemente) essa confiança se revela injustificada. Claro que podemos sempre argumentar que a nossa percepção sensorial produz conhecimento verdadeiro para nós. O que à primeira vista parece um banal artíficio para justificar um raciocínio incorrecto pode revelar-se bem mais profundo. Afinal, o que é aquilo a que chamamos conhecimento verdadeiro? Intuitivamente partimos do princípio que existe uma verdade absoluta, perfeitamente independente e invariável qualquer que seja a perspectiva. Mas será que tal existe mesmo? Muitas vezes os sentidos (e seguidamente a experiência) de um ou mais indivíduos contrariam os de outros. Quem tem razão? Partimos do princípio que a maioria tem razão provavelmente dirão. Tal pode não ser sensato. Se visitarmos um hospital psiquiátrico é possível que vários pacientes estejam de acordo em relação a algo que nos parece absurdo, e nesse caso partimos do princípio de que nós (apesar de isolados) temos razão. E porque não? Afinal de contas eles são malucos e têem a capacidade de raciocínio afectada(isto é apenas um exemplo ilustrativo, não tem como objectivo atingir ou ofender ninguém). Mas não pensarão eles que somos nós malucos por não lhes darmos razão. Muito provavelmente. Portanto, que obtemos com isto? Partir do princípio de que a nossa perspectiva é a correcta é arrogante e insensato (pelo menos do ponto de vista de uma verdade absoluta). Atribuir a razão à maioria também não me parece ser metódicamente infalível. Existirá então uma verdade absoluta inatingível, que frustrantemente nunca poderemos definir? Parece-me perfeitamente aceitável acreditar que assim é. Mas também me parece que o conceito de verdade relativa não é de modo algum estúpido e irrelevante.
Por outro lado, Kant defendeu que o conhecimento verdadeiro apenas poderia ser obtido a partir da razão, a raciocínio lógico puro. Faz todo o sentido. Mas tem os seus problemas. Em primeiro lugar, o que garante o bom funcionamento do nosso raciocínio lógico? O que parece perfeitamente lógico a um indíviduo pode não o ser para outro. Mas algum deles há-de ter razão estará o leitor a pensar(se é que alguém se dará ao trabalho de chegar até aki :P). Concordo(afinal a lógica tem de ser objectiva), mas isso não resolve a questão, pois quem tem então razão? Atribuir a razão a nós mesmos é mais uma vez egocêntrico, enquanto que atribui-la à maioria é tão acertado como o era no exemplo anterior. Outro problema da teoria de Kant é o da criacção de novo conhecimento. Admitindo que a nossa capacidade de raciocínio lógico se encontra imaculada, que utilizaremos como base do raciocínio? Não podemos criar conhecimento a partir do nada, e se desprezarmos aquilo que a experiência nos ensina então podemos não ter as premissas necessárias para concretizar um raciocínio válido. A célebre citação "Penso, logo existo" parece ser o único raciocínio lógico que podemos efectuar sem medo de estarmos errados.

E prontos, chegamos assim ao fim desta divagação sem razão de ser. Muitas linhas e vários minutos depois, encontramo-nos novamente no ponto de partida sem termos chegado a lado nenhum. Não é bela a filosofia?

Filipe Morais

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