quinta-feira, 9 de julho de 2009

Man in the mirror

Conhecem "Os Sopranos"? Uma série bastante popular há algum tempo. A personagem principal, Tony Soprano, tenta manter a sua família unida por entre as "crises de identidade" da sua mãe, a rebeldia dos seus dois filhos adolescentes, a próxima relação que a sua mulher tem com um padre, e as suas próprias escapadelas. Tony esforça-se por ser um bom pai e um bom marido (dentro dos possíveis), é amigo de seu amigo, enfim, é um gajo porreiro. No entanto é também um líder da máfia local, capaz de brutais e impiedosos assassínios. Como se podem duas personagens tão diferentes concentrar num mesmo homem? E, estranhamente, o resultado é bastante verosímil. Tony demonstra preocupar-se apenas consigo e aqueles que o rodeiam, fechando os olhos ao resto do mundo. Mas este não desaparece apenas por o ignorarmos, e fazê-lo é apenas uma mostra de egocentrismo e egoísmo. No fundo todos temos um pouco de Tony dentro de nós, uma inescapável tendência para colocar os nossos interesses, e os daqueles que nos são próximos, à frente dos das outras pessoas. Pareceu mau, mas qual a alternativa? Uma conduta perfeitamente justa e imparcial transformarnos-ia em máquinas, clones mecânicos sem livre arbítrio. Por outro lado, o oposto permanece inaceitável. Esquecimento ou "não reparar" não podem ser aceites como desculpas, apenas servem para nos escudarmos atrás de uma amnésia selectiva.

Ninguém é perfeito e o mundo encontra-se lastimosamente longe de tal paraíso, como nao podia deixar de ser de uma soma quase infinita de tantas imperfeições. Algumas são demasiado grandes para as vencermos, embora possamos sempre lutar contra elas. Se vale a pena lutar por causas perdidas, marcar uma posição sem desejo ou hipótese de vencer, é outra questão. Outras porventura não nos caberá a nós julgar. Aquilo que podemos e devemos julgar e mudar somos nós próprios. Como cantava Michael Jackson, para mudar o mundo devemos começar com o homem que vemos no espelho, pois é ele que podemos tornar em tudo aquilo que desejarmos. Ainda que seja mais fácil tentar mudar os outros que a nós próprios, apenas em nós residem os meios para exteriorizar tudo aquilo que somos ou desejaríamos ser.

Filipe Baptista de Morais

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