sábado, 20 de novembro de 2010

Nada.Tudo.

Há uns tempos vi um filme fabuloso que não poderia deixar de recomendar aqui. Chama-se "Watchmen" e é baseado numa banda desenhada com o mesmo nome e que recomendo com ainda maior veemência.
Sendo um filme de super-heróis mascarados baseado numa BD, tudo nos levaria a pensar tratar-se de um filme para crianças. Essa impressão começa a desintegrar-se à medida que nos vemos envolvidos num enredo extremamente profundo e intrigante, a acrescentar a cenas de violência que não poderiam ter representação num filme para os mais novos.
Não querendo estragar a experiência àqueles que se interessam e irão ver o filme limito-me a referir que é passado num tempo alternativo, durante a guerra fria, em que se forma nos EUA um grupo de corajosos (e mascarados) cidadãos para levar a justiça às ruas. O aparecimento posterior de um verdaderio superherói (no sentido em que tem de facto super poderes) traz toda uma nova dimensão à história. Através da representação de diferentes perspectivas, "Watchmen" faz-nos repensar os conceitos de bem e mal, justiça e o direito de a empregar, e até que ponto os fins justificam os meios. No final, heróico e monstruoso confundem-se de tal maneira que se torna difícil perceber que realmente define um e outro. Absolutamente fabuloso.

A um dado ponto no filme, a (ex-)namorada do quase omnipotente super-herói (agora desinteressado de tudo) tenta convencê-lo a impedir uma guerra nuclear, argumentando que toda a vida na Terra poderia ser extinta. A sua resposta dá muito que pensar "Sim. E o Universo nem daria conta". O facto de algo tão castastrófico como a destruição do nosso planeta ser visto como desprezável pode deixar-nos atónitos, mas só até pensarmos nas dimensões do Universo e nos inserirmos nele. Os nossos problemas, por muito importantes que nos pareçam, reduzem-se à medida que afastamos a perspectiva, e nem precisamos de sair da nossa cidade para que ninguém (ou nada) queria saber deles. É curioso reparar como o mundo pode agoniar quando resplandescemos de energia, ou alegrar-se em festa quando tudo parece desmoronar-se à nossa volta.
A vida é importante, temos um propósito? A vida é importante e para si mesma, não para o contexto em que vive. Quanto ao nosso propósito, acreditando ou não nele, apenas nos diz respeito a nós, sendo indiferente a tudo o resto. Em "Reino dos Céus" o significado da religião é bem espelhado pelas palavras de Saladino, ao ser inquirido sobre qual o valor de Jerusalém: Nada.Tudo.

Filipe Baptista de Morais

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