quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Sacrifícios

Creio que umas das coisas que diferenciam o ser humano dos restantes animais é o facto de treinarmos. Seja o bisonte no ginásio, o miudinho a dar toques na bola ou a executiva a ensaiar o discurso em frente ao espelho a questão é sempre a mesma: fazemos algo que não precisamos no momento de modo a o conseguirmos fazer melhor no futuro.

É claro que isto pressupõe uma capacidade que (geralmente) não se atribui aos animais: a projeção no futuro. Ou, semelhante, a análise do passado e estabelecimento de relações de correlação entre acontecimentos passados e presentes. Afinal, distinguir passado e presente de presente e futuro passa apenas por uma questão de perspectiva.

Um conceito interessante aliado a esta questão é o do sacrifício. Por norma, sacrifício consiste em abdicar de algo para obter outra coisa. Tudo isto se torna mais interessante quando a recompensa vem apenas no futuro. É assim esta capacidade de pensar na recompensa futura que permite às mulheres as suas dietas e aos homens os seus dolorosos treinos de ginásio, a ânsia por algo positivo no futuro sobrepõe-se ao sofrimento do momento.

Vi há algum tempo numa TED Talk um cientista que, após algumas experiências, chegou à conclusão que a principal característica que leva ao sucesso é precisamente essa capacidade de sacrifício em prol de uma recompensa futura. Numa das experiências, crianças muito novas (creio que na ordem dos 4 anos) eram deixadas sozinhas numa sala com um bombom sendo-lhes dito que, se passados alguns minutos ainda não o tivessem comido, então teriam direito a dois. Anos mais tarde foram verificar a sua evolução e constataram que as crianças que tinham aguentado a sua gula para receberem o prémio eram as que ocupavam mais importantes, para além de se acharem mais satisfeitos com as suas vidas profissionais e pessoais. Claro que é um estudo algo redutor, no sentido em que relaciona algo que depende de inúmeros factores com apenas uma característica. No entao, se bem me lembro a amostra era suficientemente elevada para levar até os mais cépticos terem de admitir uma correlação (infelizmente não me recordo mesmo dos números). Para além de que não é qualquer estudo que tem direito a ser apresentado numa TED Talk. De qualquer forma não deixa de ser também interessante quanto de nós já cabe dentro da nossa mini versão de quatro anos.

Filipe Baptista de Morais

PS: Vai ter lugar brevemente uma TED-Like Talk aqui mesmo em Lisboa. Podem consultar o cartaz em http://tedxedges.com/

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