sábado, 24 de setembro de 2011

Queremos Ser Úteis

O desejo de começar a trabalhar é algo que se instala em todos os estudantes ao longo do tempo. Acho eu.

Por um lado queremos deixar finalmente os livros para trás, embora isso provavelmente nunca aconteça realmente. Por outro a sensação de independência que advém de ganharmos o nosso próprio dinheiro. Mas claro que tudo isto deixa de ter importância quando obtemos o primeiro emprego, passando então a queixar-nos da falta de férias e suspirando pelos belos tempos em que andávamos de livros às costas.

Outra razão também preemente para essa ânsia é o desejo de ser reconhecido ou, melhor dizendo, útil. É que enquanto estudantes também nos fartamos de trabalhar, mas esse trabalho não serve para nada. Bom, serve-nos a nós, que precisamos dele para continuarmos (com sucesso) os nossos estudos. Pode servir àqueles professores mais empenhados (os chamados malucos) que tiram satisfação do sucesso dos seus alunos, no fundo um reflexo do seu esforço próprio. Eventualmente poderíamos dizer que serve ao mundo que um dia irá necessitar dos conhecimentos que esse trabalho nos proporciona. Mas isso é já uma linha de raciocínio tão longa e rebuscada que se assemelha à teoria do caos.

Não, o que fazemos não serve para nada nem ninguém a não ser nós próprios, hoje e no futuro. O que já nem é mau de todo; egocentrismo à parte eu, pelo menos, preocupo-me bastante com a minha pessoa. Mas quando passamos a receber um cheque ao final do mês tudo é diferente. Ninguém gosta de dar dinheiro só porque sim (excepto, talvez, as avózinhas aos seus netinhos) e portanto se nos pagam é porque querem o nosso trabalho. Precisam dele. E nada faz tão bem ao nosso ego como sentirmo-nos úteis e necessários.


Filipe Baptista de Morais

2 comentários:

  1. João Gueifão:

    A mim dar-me-á satisfação tão grande a sensação de ser útil. Ser útil não apenas para uma empresa, mas para todos nós. Vejamos: ao termos uma determinada ideia, esta não será apenas boa para a empresa, mas sim para todos. Contribuir para o desenvolvimento, seja em que campo for. Todos nós usufruimos das ideias de cada um. Claro que, se somos úteis para alguma entidade, deveremos sempre ser reconhecidos por tal. No caso do trabalho para uma empresa, será o dinheiro ao fim do mês, ou aquela promoção que saberá tão bem ao fim do ano. Discordo um pouco ao dizeres que na Universidade o nosso esforço apenas nos serve a nós. Estamos agora a aprender, para um dia darmos o nosso contributo ao nosso desenvolvimento, enquanto sociedade. Na Universidade, também és reconhecido pelo teu esforço. Se tiveres um golpe de génio, a Universidade, se tiver como cabeça alguém empreendedor, prontificar-se-á a patrocionar a tua ideia. Todos nós beneficiamos.

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  2. Bom acho que quando defendes que o esforço na Universidade não serve apenas ao estudante não serve apenas ao estudante o fazes na mesma linha de raciocínio que referi no texto ("Eventualmente poderíamos dizer que serve ao mundo que um dia irá necessitar dos conhecimentos que esse trabalho nos proporciona."); certo, claro, mas não deixa de ser uma longa linha de raciocínio.

    Já quanto a essa eventual prontidão da Universidade em patrocinar projectos empreendedores discordo totalmente. Falando da instituição em si, não é essa a sua função, embora o possa encorajar. E de facto encorajam-no, pelo menos no IST, até em demasia e/ou de formas pouco relevantes do meu ponto de vista. Quanto a uma acção mais personalizada também não parece que seja provável ou comum. A maior parte dos professores influentes segue uma carreira académica e/ou mais ligada à investigação universitária, e não ao lançamento de novos projectos. Quanto aos que ainda se encontram ligados à Indústria ou, melhor dizendo, ao Mercado também geralmente se encontram numa fase de manutenção/progressão de carreira, não invenção ao lançamento de uma nova.

    De qualquer modo como referi não acho que esse seja um papel que a Universidade deva representar, nem como instituição nem como conjunto de indivíduos. Já há lá fora muitas outras formas de "patrocínios" e de certo, se de facto tem um espírito empreendedor (caso contrário toda a questão se torna irrelevante) o estudante não se importará de se mexer um bocadinho (fora da Universidade) para encontrar apoio. De facto creio que até é positivo que tal aconteça. Afinal, que melhor juíz para as necessidades do mundo, que decretam a (in)viabilidade de um projecto, do que o próprio mundo?

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