Na televisão, na rádio, nos jornais, nos mexericos de café ou no metro não se ouve falar noutra coisa; a crise está aí e não é para brincadeiras. Não é preciso ir procurar os números, basta constatar que todos conhecemos pessoas que estão sem emprego, e não é preciso passear por ruas manhosas para ver sem-abrigo a dormir embrulhados em lençois de cartão.
Mas para um jovem estudante que tenha uma família com algumas posses tudo isto pode passar despercebido, se se esforçar o suficiente. Nos dias que correm nada é mais comum do que isolarmo-nos do mundo que não nos interessa ver, mas que não desaparece apenas por ser indesejável . Claro que se calhar já está fechado o café em frente de casa, a semanada já não dá para pagar tantas entradas na discoteca, os jantares de curso são no Caldas em vez de no Chimarrão, os jogos de Playstation já não se empilham infindavelmente e um IPhone é simplesmente algo que usa lá pelas Suécias. Mas nada disto é muito importante, nada disto afecta grandemente a qualidade de vida do afortunado estudante, a quem a crise económica passa quase despercebida.
Mas ninguém consegue fugir, por muito largos que sejam os seus bolsos, à crise pessoal. A melancolia que se abateu sobre as pessoas, o peso que todas parecem carregar nos ombros. Crise é amigos de há 20 anos despedirem-se antes de emigrarem, um roubo que nenhum imposto poderia replicar. Crise é a conversa no bar centrar-se em dizer mal de Portugal, numa total falta de orgulho Nacional que já nem a selecção de futebol consegue contrariar. Crise é vermos as caras de espanto quando manifestamos a nossa vontade de fazer a nossa vida aqui. Crise é a forma como os outros nos olham, e a forma como temos vergonha de nos ver ao espelho. A crise já não afecta simplesmente as pessoas. A crise são as pessoas.
Filipe Baptista de Morais
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Andamos muito nacionalistas, oh Morais!!
ResponderEliminarAqui deixo a minha contribuição:
http://www.youtube.com/watch?v=JLdA1ikkoEc
Não era esse o cerne da questão mas sim, um pouco de patrionismo não nos faria mal nenhum.
ResponderEliminar