sexta-feira, 29 de agosto de 2014

Autoridade Alheia

No início do mês o cardeal patriarca de Lisboa comparou o "BES ao jogo Mikado". Porquê, nem me dei ao trabalho de descobrir. Não interessa. O que me parece interessante perceber aqui é porque raio está um dos líderes religiosos do país a pronunciar-se sobre um caso que diz respeito à economia e, eventualmente, à justiça do país.

Verdade seja dita, a culpa nem é do pobre homem mas do jornalista que o consultou neste assunto. Porque não perguntar antes à Susana Félix, ao Bruno de Carvalho ou, já que claramente não existe grande critério, a mim? Poderíamos considerar o acto de responder como criticável em si (já antes escrevi aqui a tremenda promiscuidade existe entre política e religião, sendo óbvio que poderia ter incluído mais áreas na lista), mas hoje vou antes chamar a atenção para a importância que as pessoas (sejam os próprios meios de comunicação social, ou o consumidor final) deram às suas palavras.

Este fenómeno de extrapolar a autoridade que uma entidade possui num campo para outros é conhecido, sendo estudado pela psicologia e explorado pelo marketing. Explica porque temos treinadores e jogadores de futebol (assim como actores de telenovelas) a protagonizarem anúncios a produtos financeiros, por exemplo.

Precisamente por ser um enviesamento de raciocínio bem conhecido, os meios de comunicação social deviam fazer os possíveis por proteger os utentes dos seus efeitos. Infelizmente, vende mais ter uma cara conhecida na televisão a pronunciar-se sobre seja que for. Ou talvez os próprios jornalistas estejam alheios ao disparate em que estão a incorrer. Espero sinceramente que os entrevistados (neste caso o patriarca) estejam, caso contrário seria uma clara demonstração de má fé (no pun intended).

Seja intencional ou não, há uma crise enorme de autoridade alheia, auto induzida/proclamada como incentivada pelos media. Não contribuamos nós também com para esta totalmente arbitrária distribuição de autoridade; sejamos critícos e retiremo-la quando não merecida.


Filipe Baptista de morais

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