domingo, 8 de março de 2015

Morrer na Praia

Estava já há muito tempo para escrever um texto sobre a EMEL. Mais concretamente, sobre várias coisas que não me agradavam no sistema de parquímetros. O facto de não aceitarem pagamentos por cartão, por exemplo, levava a que frequentemente pagasse mais do que pretendia (já que as máquinas não permitiam seleccionar a quantia desejada e, logo, não dão troco). Por outro lado, o facto de não poder efectuar um estacionamento por tempo indefinido (pagando à saída, como nos parques com cancelas) leva a que uma pessoa tenha que adivinhar quanto tempo vai durar o seu estacionamento. Isto é frequentemente impossível, visto que muitas vezes depende de outros e leva a que sobreestimemos o tempo necessário (pagando mais), sob pena de os subestimarmos e corrermos o risco de ser multados. Tudo isto melhorou agora substancialmente com a app da EMEL (pelo menos para os utilizadores munidos de smartphones) que veio resolver os problemas acima mencionados e ainda trazer melhorias a nível de conveniência e também de foro ambiental. *

Vou fazer agora um pequeno desvio para falar de outro situação pessoal. Há pouco tempo faltei uma semana ao trabalho, por motivos de saúde. Sendo tudo isto ainda novo para mim, apenas me informei sobre os procedimentos a tomar após o meu regresso ao trabalho, tendo-me sido dito que necessitava de uma CIT (certificado de incapacidade temporária) passado pelo meu médico de família, e de o entregar na segurança social. Ora eu tinha uma CIT, mas passada pelo Hospital na qual tinha sido tratado e, visto que o meu médico de família nunca chegou sequer a ter conhecimento da minha situação, não me parecia lógico ter de o envolver nesta situação. Tentei informar-me. Do hospital disseram-me  que, de facto, a CIT passada por eles era inútil do ponto de vista do reembolso da parte da Segurança Social. Pesquisando na Internet encontrei a mesma informação. Não conformado com algo que me parecia francamente parvo, desloquei-me ao meu centro de saúde. Disseram-me que, de facto, a CIT tinha que ser passada pelo meu médico de família e, também, que não valia a pena marcar consulta para tal efeito já que esta teria que ter sido entregue na SS durante os primeiros cinco dias de doença (mais tarde confirmei esta informação junto da SS). Aproveitei para perguntar se, tendo a CIT, a poderia enviar em formato electrónico por e-mail ou semelhante; a resposta foi negativa (teria que a entegar em papel e pessoalmente, algo engraçado visto a pessoa estar de baixa).

Sendo que, felizmente, perder dois dias de ordenado não me faria assim tanta diferença e não estando para me chatear mais com o assunto decidi deixá-lo morrer. Passados alguns dias recebi no correiro um cheque com o re-embolso devido passado automaticamente.

Em ambas as histórias acima uma entidade prestadora de serviços identificou um problema/limitação e resolveu-o/melhorou-o. A diferença é que no caso da EMEL a solução (app para smartphones) foi amplamente promovida e publicitada, enquanto que no caso do SNS/SS não só não estava informado dos procedimentos necessários como fui constantemente mal informado, quer pelas páginas oficiais quer por funcionários das mesmas. Neste caso terminou tudo em bem, tirando o tempo que perdi (e fiz perder a outros). Mas se faltasse algum procedimento, poderia ter perdido o $ por me terem sido dadas (muitas) informações erradas. Ou, se não tivessem passados os ditos cinco dias, poderia ter faltado mais uma (duas?) manhãs no trabalho para ir pedir a CIT e entregá-la na SS, desnecessariamente.

 Há muita coisa que funciona mal no País, seja por falta de visão, competência, meios ou dinheiro. Isto pode ser revoltante, mas é também compreensível e acontecerá sempre em todo o lado, É mais frustante quando as soluções para os problemas existem, mas as pessoas as desconhecem e portanto não as utilizam. Bons exemplos disto são o cartão do cidadão, o portal da saúde e o software à disposição dos médicos no SNS. Todos têm funcionalidade muito úteis que ficam por utilizar por os seus utilizadores as desconhecerem. E isto é particularmente frustrante porque já se gastaram na mesma a maior parte dos recursos. Ter estas soluções e não as divulgar ou não dar a formação necessária à sua utilização é como escalar o Evereste e esquecer-te de plantar a bandeira e colher os louros.


Filipe Baptista de Morais

*Fica por resolver o não patrulhamento dos parques. No parque no exterior do Hospital Santa Maria, por exemplo, é preciso ter mesmo muitas moedas já que, para além do parquímetro, são também necessárias para apaziguar os arrumadores que por lá passeiam 24/7.

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