domingo, 10 de abril de 2011

Homogeneidade

Uma das maiores e porventura a mais visível consequência da "recente" globalização é a imiscuição de culturas. A globalização permitiu o contacto mais frequente (e profundo) de pessoas de diferentes culturas e lugares, e a essência humana tratou (e trata) do resto. Seja por desejo de integração ou por simples troca e partilha, a história diz-nos que os iniciais conflitos culturais tendem para a homogeneização.

Excepção à regra são alguns países africanos e asiáticos, muitos dos quais aparentavam estar a aproximar-se de nós, para agora inexplicavelmente se afastarem com um safanão. Mas a maior parte desta resistência reside em factores religiosos e portanto não puramente culturais. Outros países, como a China, prezam tanto o seu passado e cultura que se fecham dentro dos possíveis ao mundo exterior.

Mas pelo menos aqui pela Europa a tendência é extremamente clara. É curioso ver como pessoas que vivem a mais de 4000Km se vestem da mesma maneira que nós, têm estilos de vida semelhantes, vêm os mesmos filmes e ouvem as mesmas músicas. Isto permite uma conectividade, um inter-relacionamento que de outro modo seria impossível: é difícil estabelecermos uma ligação com alguém que nada tem em comum connosco. As estrelas POP, os filmes comerciais e os Starbucks deste mundo servem assim de pontos a unir os europeus, por vezes até pontes inter-continentais (ou não fosse a Starbucks americana!).

É assim importante cada povo manter uma certa divergência cultural, ser uma unidade constituinte de um todo, e não um modelo standard num admirável mundo novo. Coisas como a língua materna (tema que me parece merecer um posto dedicado), a música e danças tradicionais, a comida, a maneira de pensar, enfim, tudo o que nos define enquanto povo deve ser resguardado. Por enquanto parece que isto está a ser conseguido: particularmente no capítulo da comida ainda se nota grande diferença (e ainda bem!) ao viajar por aí fora. Embora seja de facto irritante pedir um café e receber água castanha. Que ainda por cima é cara. Mas é como se costuma dizer, não há almoços grátis. Será que atingimos um equilíbrio ou todas estas particularidades estão destinadas a perderem-se no esquecimento? O tempo o dirá.

Uma última nota referente ao nosso caso particular. A maior parte do mundo considera que os portugueses são pessoas divertidas (embora preguiçosas, talvez) que vivem num lindo país, embora poucos saibam onde fica (os americanos têm especial tendência para nos colocar na América do Sul). No entanto, parece ser profundamente característico dos portugueses a "auto-flagelação", comiseração, despeito e desrespeito (é para meter um auto em tudo). É espantoso como continuamos a ter visitas (e muitas) quando o quadro que pintamos de nós e do nosso lar é tão grotesco e desacolhedor. Está na altura de olhar com olhos de ver, deitar um pouco da nossa infinita modéstia (se é que é disso que se trata) e apregoar tudo aquilo que temos de bom e fantástico. Esta "lixeira" tem dos locais mais belos do mundo para se visitar, já para não falar na gastronomia (sim eu gosto muito de comer) de fazer inveja a quase todo o mundo. Que raio, se temos mesmo de exagerar então que seja para puxar o lume à nossa sardinha!

Filipe Baptista de Morais

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