quinta-feira, 21 de abril de 2011

A Estrelinha Teimosa


Quando era pequeno era extremamente difícil tirar-me da cama. Não era pois de todo incomum tentarem convencer-me dizendo que já todas as estrelas se tinham ido embora. Levantava-me então, hesitante, e dirigia-me para a janela madrugadora... apenas para constatar invariavelmente que uma trémula luz solitária permanecia no ainda escuro céu: a estrelinha teimosa. Mais teimoso do que a estrela, servia-me dela como pretexto para voltar para a minha caminha até que ambos, estrela e eu, tínhamos que nos render ao nascer de um novo dia e abandonar os nossos confortáveis lares.

Quando cresci um pouco e comecei a ter alguma noção de quão ingénuo e inocente era antes (mas ainda sem qualquer noção de quão ingénuo ainda era) prometi escrever um livro sobre a estrelinha teimosa. O livro ainda está para vir, mas achei que um post era melhor que nada.

Hoje já não preciso que me tirem da cama; as minhas responsabilidades e vontades tratam são suficientes para isso. E se não forem também não preciso de estrela, teimosa ou não, para me render à preguiça. Até porque quando me levanto, hesitante, e me dirijo para a janela madrugadora apenas vejo a comum azáfama matinal de pessoas e carros, não está lá nenhuma estrela. Talvez nunca tenha estado, e a teimosia fosse toda minha...


Filipe Baptista de Morais

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