quarta-feira, 4 de abril de 2012

Altos e Baixos

A vida é feita de ciclos. Uns curtos, que nem damos por eles, outros tão extensos que até os encaramos como o estado "normal" das coisas. E nem têm que ser tão longos assim; creio que uns 3 meses bastam para adoptarmos um novo quotidianos como se nunca tivesse havido outro.

Qualquer mudança num ciclo estável implica algum risco, aquela incerteza de não sabermos muito bem aquilo que vai acontecer. Por vezes pode-nos parecer que não vale a pena correr esse risco, já que estamos satisfeitos com a nossa situação actual. O problema é que não podemos avaliar verdadeiramente uma situação sem conhecer as suas alternativas; tal como um infeliz não saberá que é infeliz até deixar de o ser. Deixar de o ser, sim; este processo de confrontação funciona apenas para o futuro e não com o distante passado: a nossa memória é demasiado curta para isso.

Há no entanto ainda outro problema com estas mudanças de paradigma, que é o agreste regresso à rotina. Todos, creio, já experienciámos isso; após períodos que se destacam com relevância do nosso quotidianos sentimos uma estranha apatia, uma extrema relutância em voltar a fazer aquilo que "sempre" fizémos. Isto é demais notável após um período extremamente positivo; tudo o que dantes fazíamos com gosto nos parece agora aborrecido, já que todos os momentos são preenchidos por uma pulsante saudade desse ciclo que não mais volta. Daí que não seja assim tão irracional o medo que certas pessoas aparentam ter da felicidade; ela pode de facto desgraçar-nos;

A meu ver esta questão deve ser desprezada por diversos motivos. Em primeiro lugar porque a referida apatia é (felizmente!) temporária, tendo frequentemente uma duração inferior ao ciclo que a originou. Em seguida porque a alternativa, isto é, a feroz e inamovível resistência a toda e qualquer mudança, tem consequência muito mais nefastas para a nossa pessoa: como já disse aqui a incerteza daquilo que poderia ter sido corrói a nossa mente mais facilmente do que a mágoa de qualquer acontecimento. Por último, talvez apenas para terminar de modo mais filosófico, simplesmente porque a vida existe apenas para ser vivida. Desta perspectiva a postura sugerida pelo parágrafo anterior não faz qualquer sentido. O morto não deve arrepender-se de ter vivido, assim como o velho não deve lamentar a sua infância. Devemos, isso sim, aproveitar o melhor que cada ciclo nos proporciona, sorrindo com as boas memórias que temos daqueles que já passaram, em vez de os chorarmos saudosamente.


Filipe Baptista de Morais

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