segunda-feira, 9 de abril de 2012

Pior

No outro dia tirei esta fotografia à entrada
da minha Universidade. “Nós não somos a Grécia”. As palavras, repetidas seis vezes na parede, pareceram ressoar muitas mais na minha cabeça. Achei-as profundamente entristecedoras, por razões que passo a explicar.

Para começar o ato de escrever nas paredes de uma Instituição Pública é já em si bastante questionável. Não sei quanto tempo e dinheiro se gasta numa brincadeira dessas, mas suponho que não se compare aos custos que a câmara teria que acartar para a desfazer. Como costume, é mais fácil destruir do que restaurar. É triste que tenhamos tão pouca consciência e respeito pelo nosso património, ainda para mais quando nos queixamos insistentemente do seu pobre estado. Num momento em que é tão necessária a união de esforços no nosso país tais atos de vandalismo (pois é disso que se trata) são ainda mais incompreensíveis e inaceitáveis.

A frase reflete ainda uma característica aparentemente muito própria da nossa sociedade atual: a incapacidade de analisar ou criticar pela positiva. Ao verem-se confrontados com uma situação
que consideram injusta, os seus autores protestam argumentando não com as nossas qualidades e valores mas sim chamando à atenção traços (que consideram) ainda mais negativos de outros. Lamentável a meu ver.

Por último o desabafo representa uma falta de empatia para com o povo grego que dificilmente consigo subscrever. Muitas vezes nos queixamos da austeridade que nos é imposta pelo resto da União Europeia, lamentando a errada imagem que parecem ter de nós como um bando de preguiçosos, corruptos e incompetentes. Ora eu orgulho-me de ser português e não me considero corrupto nem preguiçoso, nem me sinto isolado nessa condição. Mas, apesar de experienciarmos da pior maneira as injustas bases e nefastas consequências dessa ignorante estereotipização, não
hesitamos em fazer o mesmo à Grécia. Tal como nós, os Gregos estão a ser chamados a pagar uma dívida pela qual não se sentem responsáveis, enquanto a maior parte dos responsáveis pela mesma escapam (ou escaparam) impunes, gerando um sentimento de injustiça que em nada ajuda a situação. O facto de nós, acima de todos os outros, não conseguirmos simpatizar com a situação na Grécia entristece-me e ensombra as minhas esperanças de que a Europa encontre o seu caminho nesta encruzilhada. No nosso caso, releva bem a dualidade da nossa posição; por um lado pedimos confiança e que nos estendam a mão, mas ao mesmo tempo olhamos de esguelha e apontamos acusadoramente o dedo a outros em situação semelhante à nossa.

Para terminar gostaria de poder reforçar a minha posição com alguns exemplos concretos. Não de Portugal, penso que todos os que vivem neste país conhecem exemplares que cheguem para formar uma boa opinião sobre os seus habitantes. Infelizmente nunca estive na Grécia nem conheço tantos Gregos quanto isso. Na verdade conheço apenas uma pessoa desse país, mas posso atestar que não aparenta ter nenhuma das características acima mencionadas. De facto tenho a certeza que é uma pessoa empenhada e briosa naquilo que faz, para além de possuir um sentido crítico tão aceso em relação àquilo que considera estar errado no seu país que raia o antipatriótico. Posso estar enganado, ou posso ter tido a sorte de conhecer a única pessoa na Grécia que não é corrupta, preguiçosa, nem incompetente. Cada um que acredite no que
quiser.


Filipe Baptista de Morais

PS: Não é curioso que a intervenção na parede esteja tão perto do caixote do lixo?

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