domingo, 12 de maio de 2013

Promiscuidade

Há pouco tempo li nas notícias que o Tribunal de Execução de Penas de Lisboa negou liberdade condicional a Vale e Azevedo por, entre outras razões, evidar dar uma “sensação de impunidade, o que comunitariamente é intolerável”. Podem ler a notícia completa aqui.

Ora eu não vou estar aqui a debater se o senhor devia ou não estar preso, já que não tenho nem conhecimento do caso nem competência para o julgar. Sinto no entanto que a razão apontada pelo tribunal para a decisão totalmente inaceitável. Citando o despacho do tribunal, a eventual libertação do ex-dirigente benfiquista tornaria “frustradas as expectativas de comunidade” e “daria uma sensação de impunidade, o que comunitariamente é intolerável”. Basicamente, o que o tribunal está a dizer é que a opinião popular e os julgamentos de rua têm uma palavra a dizer sobre as suas decisões. Isto é, a meu ver, gravíssimo, e espanta-me que nenhuma das notícia que tenha lido sobre o assunto tenha pegado no assunto.

Penso ainda que é um sinal de um problema maior que assola este país (mundo?): a promiscuidade de cargos e poderes. Parece que qualquer pessoa com um cargo com responsabilidade se sente incaçapaz de se limitar ao exercício as funções que lhe competem, sentindo-se obrigado a opinar sobre tudo e mais alguma coisa. Temos assim padres a fazer política, políticos a fazer filosofia e fantasia, jornalistas a fazer um pouco de tudo e sabe-se lá o mais quê. Faz-me lembrar aquelas instituições bancárias que usam figuras conhecidas do mundo do futebol para publicitar os seus produtos.

Agora, uma coisa é opiniar sem autoridade ou conhecimento. Outra é tomar decisões com base em razões erradas ou com poderes que não nos pertencem. Espero sinceramente que tudo não passe de uma infeliz questão de semântica. Mas duvido.


Filipe Baptista de Morais

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