domingo, 28 de julho de 2013

Lei do mais comum

Provavelmente a maioria de vós liga a televisão de vez em quando e teve a infelicidade de deparar com o último anúncio da Danup, com o slogan "não é para chatos". Para os restantes sortudos, podem vê-lo aqui.

Se este anúncio não pretende fomentar o bullying, então pelo menos disfarça muito bem. Acho que por vezes as pessoas não se percebem que o problema do bullying não se limita aos agressores, os bullies, sendo que estes até são também muitas vezes crianças com problemas ou traumas. Já cantava a Katie Melua (vale mesmo a pena ouvi-la btw) na sua linda e reflexiva canção Spider's Web "Cause the bully is the victim, they say. By some sense they're all the same". Embora aqui algo descontextualizada, a frase assenta bem e aproveito para referenciar aos meus leitores algo com mais qualidade do que o anúncio da Danup.

O fenómeno do bullying, ou da mais suave exclusão social, é alimentada por todo o marketing em torno do cool/popular e do nerd/patético. São inúmeros os filmes sobre adolescentes no secundário ou universitários na faculdade em que estes aparecem claramente dividos em dois grupos: os fixes e os otários. De salientar que uma das coisas que nos torna fixes é gozarmos, excluirmos e/ou ignorarmos os otários. É certo que muitos desses filmes parece que "são contra" esses ideais, tanto quanto um filme tem vontade própria. É comum rodarem em torno de um/uma otário/otária e de como é injustiçado. Mas, se prestarmos atenção, o que acontece geralmente nestes filmes não é gerar-se e desenvolver-se um respeito pela diferença e pela maneira de estar desse grupo de excluídos. O que acontece é que o protaganista se vai tornando fixe, seja por começar a beber umas jolas, a ir às discotecas, a enrolar-se com a miúda mais gira e popular do liceu (esta é um clássico, e também funciona no outro sentido) ou por se tornarem particularmente bom num desporto. Seja como for, o que se mostra e incentiva não é o respeito pela diferença, mas uma suposta convergência para aquilo que é considerado o standard.

Na minha opinião, é triste ver tanto a indústria do entretenimento como o marketing aproveitarem-se destes estereótipos e, consciente ou inconscientemente, promoverem-nos e com eles a exclusão social que tão prejudicial pode ser. Aproveito para recomendar dois filmes: Elephant e Chronicle.  (hint: não é o tipo de filme que vão querer ir ver com a vossa namorada).

É certo que ninguém gosta de falar de censura, e portanto falar em proibir certo tipos de anúncios é chamar sarilhos e comentários desagradáveis. No entanto, a maioria das pessoas considera razoável a actual "censura" em não permitir conteúdos pornográficos nos anúncios. Pus as aspas no termo simplesmente porque a censura apenas o é quando a encaramos como tal. Isto prova que a sociedade está disposta, e incentiva, algumas restrições a conteúdos que hipoteticamente poderiam favorecer comportamentos menos saudáveis ou desejáveis. Talvez estivesse na altura de estender um pouco esses critérios. Ou pelo menos reflectir sobre e discutir o assunto.


Filipe Baptista de Morais

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