terça-feira, 24 de junho de 2014

Responsabilidade Promíscua

Para introduzir este tema vou recorrer a um recorte de jornal que tinha guardado precisamente para esse efeito, datado de 2 de Dezembro do ano passado. A pequena notícia, referente ao mediático caso Prestige, dizia assim "O vice-presidente da Xunta da Galiza, Alfonso Rueda, garantiu ontem que governo galego vai recorrer do caso Prestrige até que se encontre alguém que seja responsabilizado pelo desastre ambiental de 2002.

Quando se trata de justiça não me agrada, de todo, que se utilizem expressões como a citada. Até que se encontre alguém que seja responsabilizado parece apelar a uma cruzada para encontrar algo que apazigue a turba que clama por sangue: não o responsável mas alguém que seja responsabilizado. Mesmo ignorando esse pequeno detalhe (que provavelmente advém apenas de uma terminologia menos inspirada, parece-me haver uma premissa interessante de analisar. Até que se encontre alguém assume claramente que há culpado. Curiosamente, alguém indica precisamente que não fazem a menor ideia de quem seja o dito. Assumir à partida que há culpado para um desastre é, infelizmente, muito comum. Particularmente em desastres de grandes proporções, em que as consequências são mais trágicas, ninguém quer que a culpa morra solteira. Mesmo que ela não tenha um par à altura.

Outro erro muito comum é o de julgarmos que quando as coisas correm mal é necessário mudar algo. Ou, de forma equivalente, que não é preciso mudar nada quando tudo parece estar a correr bem. No fundo, subestimamos largamento o papel do acaso nos eventos que nos rodeiam, sobreestimando o controlo que exercemos sobre os mesmos.

Ambas as situações requerem uma cuidadosa análise dos pares causa-efeito presentes, assim como da informação e meios disponíveis na altura das descisões*, não podendo nunca ser considerados apenas os outcomes.

E não podemos deixar que a gravidade de uma ocorrência nos leve a tirar conclusões àcerca de responsabilidades.


Filipe Baptista de Morais

* De factor, esta contextualização revela-se muitas vezes surpreendentemente difícil de executar, levando a erradas imputações de culpa ou falha.

Sem comentários:

Enviar um comentário