Todos os dias fugimos a questões, lutas e responsabilidades simplesmente porque é mais fácil ignorá-las. Para o justificar apresentamos a nós próprios inúmeras desculpas: as lutas não são nossas, são causas perdidas, ninguém faz isso, toda a gente age como nós. E assim levamos o carro para ir ao café a 500m de distância. Sacamos da net aquela música que tanto gostamos de ouvir. Mudamos de canal quando passam reportagens sobre os refugiados em Israel. Apagamos o email da mãe desesperada que tenta encontrar um dador para o transplante que o filho precisa. Abanamos a cabeça negativamente e desviamos o olhar da pessoa que nos pede dinheiro, para não recordarmos o rosto daquele a quem negámos ajuda.
Há poucos meses houve uma colheita de sangue na minha faculdade. Fui lá com intenções de colaborar, mas disseram que não me podiam tirar sangue porque tinha estado a fazer desporto nesse dia. Ora nessa altura fazia desporto todos os dias, e portanto não voltei lá. Mas podia perfeitamente ter faltado a um treino de ténis, cancelado um jogo de futebol, ou simplesmente dispensado uma ida ao ginásio. A verdade é que apesar da vontade de ajudar que (acredito) todos temos também não estamos para nos chatear muito.
Tenho uma amiga que não come carne de animais que não tenham tido boas condições de vida. É fácil perceber a sua indignação: basta ver as galinhas que nunca saem de gaiolas onde mal se podem mexer ou as vacas que só saem do estábulo para serem pendurados no mecanismo rolante que as encaminha para uma serra eléctrica. Certo que se trata de um fraco e inútil protesto, não é menos um consumidor que vai afectar a grande indústria das carnes. Mas é um pouco como o plebeu que se revolta contra a sua classe dominante: tolo patético apenas pela cobardia dos seus iguais, poderia ser igualmente ser líder e herói se muitos tivessem a coragem de o seguir.
Uma das minhas bandas preferidas do momento, os Rise Against (que a propósito vieram a Lisboa tocar em Julho) apelam constantemente à reflexão e à acção nas suas músicas. Vou assim finalizar debruçando-me sobre algumas das suas letras (é possível que já tenha referido aqui algumas):
1. “Neutrality means that you don’t really care, cause the struggle goes on even when you’re not there”, Collapse (Post-America). Há coisas face às quais não podemos ficar indiferentes e temos de tomar uma posição, a menos que alguém a tome por nós. É o caso dos suíços na 2ª Guerra Mundial, podem apelidar-se de pacifistas mas no fundo foram uns sacanas que se lixaram para os oprimidos e deixaram outros lutar (e morrer) por eles.
2. “Why loose sleep? Why complain? There’s always channels to change”, Elective Amnesia. Aqui é uma referência clara àquilo que tenho falado: a facilidade de ignorarmos os problemas “dos outros” como se não nos dissessem respeito.
3. “We don’t disappear just because your eyes are shut”, From Heads Unworthy. No seguimento do ponto número dois, ignorar os problemas que não nos dizem respeito directamente não os faz desaparecer, apenas os retira da nossa vida dando-nos o descanso dos danados. Quando nos afectam directamente é ainda pior: ignorá-los só nos poupa chatices que na maior parte das vezes voltam reforçadas mais tarde.
4. “We are what we are ‘till the day we die, or ‘till we don’t have the strength to go on”, The Strength To Go On. Esta frase leva-me à minha ideia final: creio que até determinada altura todos nos importámos, todos nos revoltámos, todos estávamos dispostos a lutar por estas causas. Simplesmente fomos perdendo as forças para continuar…
Filipe Baptista de Morais
10 de Agosto de 2010
terça-feira, 7 de setembro de 2010
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ResponderEliminarÉh Filipe! Já vi que não tens tido muitos comentários (podes sempre justificar: "Ah e tal, o pessoal esteve de férias"). A melhor maneira de recuperares este Blog é falares de Suecas!! =D (podes mesmo dedicar um texto completo a esse assunto.. vais ver que o feedback vai ser muito maior do que se fizesses comentários a letras de músicas)
ResponderEliminarBom, porta-te mal para o próximo texto...LOL
Abr, César