quinta-feira, 31 de março de 2011

Apenas Um Pretexto

No outro dia ocorreu-me que a vida gera à nossa volta. Não me refiro à vida no seu conceito mais lato, com toda aquela metafísica e descrições complexas que usam palavras como ecossistemas e metabolismo. E por nós também não me estava a referir a mim e ao meu alter-ego. Não, referia-me antes e simplesmente às nossas vidas, "àquilo que fazemos com o tempo que nos é concedido." É que parece-me que por muitas coisas que haja para ver e experimentar por esse mundo fora, nada consegue ser tão interessante como conhecer pessoas e culturas novas, ou aprofundar a relação com as que já conhecemos. É como se a Terra fosse apenas um cenário e a vida uma oportunidade, um pretexto para nos conhecermos uns aos outros. É espantoso o que aprendemos sobre os outros quando juntos descorimos coisas novas, pois cada comentário, cada perspectiva revela tanto sobre o seu objecto como sobre a pessoa que o pronunciou. E nada pode ser tão enriquecedor como uma conversa, tão belo como um sorriso, ou tão gratificante como fazê-lo acontecer. Ao falar nisto a uma amiga minha, ela comentou que conhecer pessoas novas era também uma excelente maneira de nos conhecermos a nós próprios, o que me deixou surpreendido. Não pela ideia em si, mas por não me ter ocorrido antes, de tão óbvia que é. Se as projecções que fazemos de objectos/coisas inanimadas permitem aos outros penetrar um pouco na nossa concha pessoal, é natural que a projecção que outros fazem de nós seja a melhor maneira de nos conhecermos. Os únicos espelhos que podem aspirar a reflectir-nos são os olhos dos outros, numa cópia (deformada) daquilo que só a nós pertence, e só em nós existe. E assim podemos ver-nos, ou pelo menos ver o que o mundo vê. E talvez seja isso que importa, e não a nossa indefinível existência que a todos é inacessível e aparente não ter significado físico. Que pode ser mais verdadeiro do que aquilo que a todos é aparente?

Filipe Baptista de Morais

3 comentários:

  1. Finalmente vais começar a falar com raparigas no bairro alto? Estás a evoluir...

    Abraço, César

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  2. Também já evoluías e fazias um comentário de jeito para variar :P

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  3. Pois, realmente já à muito tempo que não te pergunto pelo texto das suecas!

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