domingo, 16 de fevereiro de 2014

Mau Gosto

Uma notícia do jornal Metro da passada quarta-feira tinha o seguinte cabeçalho "Um tutor de terroristas suicidas queimou etapas, sem querer, e explodiu a sua classe numa aula prática". Não me considero uma pessoa particularmente sensível a estas coisas, mas achei a abordagem de extremo mau gosto.

Claro que, se surgisse numa crónica do Ricardo Araújo Pereira, provavelmente me riria com gosto. Mas há uma grande diferente entre uma crónica de entretenimento e uma notícia. A primeira tem de gozar de uma certa libertinagem, sem a qual qual sentido de humor sufoca e apodrece. Já a segunda deve pautar pela objectividade e evitar trocadilhos e outras formas baratas de chamar a atenção.

Terroristas ou não, morreram vinte e um jovens (mais o intrutor). Jovens esses que estavam dispostos a dar a vida por uma causa. Pode ser uma causa criticável e incompreensível, e os seus meios de a atingir ainda mais, mas o facto de se disponibilizarem para o fazer não deixa de ser em si só extremamente triste. Sejamos francos. Podemos chamá-los de loucos e de más pessoas, olhando repudiados do alto do nosso pedestal. Mas a verdade é que não é por acaso que em certas regiões do globo proliferam este tipo de terroristas, enquanto noutras proliferam aqueles que os desprezam (ie: nós). Tivéssemos nascido uns graus mais a leste, talvez fossemos nós a pronunciar cânticos de guerra e a morrer ao "queimar etapas". Isto não deve servir para desculpar os seus actos. Nem para os compreender, que felizmente permanece um exercício para lá do nosso alcance. Antes deve servir para nos relembrar daquilo que dizemos mais nos distanciar deles: o respeito pela vida humana.


Filipe Baptista de Morais

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