domingo, 12 de junho de 2011

Mais Do Que Palavras

Alguns posts atrás tinha deixado a ideia que iria escrever sobre a importância da linguagem na nossa identidade cultural e pessoal; nunca querendo desiludir os leitores é o que vou (tentar) fazer.

A nossa língua materna é um dos símbolos mais importantes de pertença a um povo, a uma nação. É simultaneamente algo que nos unde aos nossos compatriotas e algo que não só nos distingue como afasta de todos os outros, resguardando-nos numa ilha cultural a que não podem aceder. Nesse sentido consido um privilégio falar uma língua muito raramente falada (*), sendo portanto tão mais especial.
Aprender uma língua estrangeira é, portanto, uma demonstração de afecto e tentativa de aproximação a uma cultura, sendo um acto que geralmente cai muito bem ao viajar. Aprender pelo menos Inglês é assim a meu ver fundamental, já que nos permite entrar neste mundo globalizado com as portas escanracadas pelas novas tecnologias.

Agora uma nota (quase) off-topic relativamente aos sotaques. Na edição deste mês da NG é referido que "o discurso é mais importante do que o aspecto físico quando as pessoas rotulam alguém com base em apenas duas características. Os sotaques podem ser fundamentais para a integração social, pois afectam a forma como o ouvinte identifica o seu interlocutor: como um dos seus ou como membro de outro grupo (...) os sotaques podem influenciar a nossa preferência por alguém ou a confiança que sentimos num interlocutor." Este é também um ponto crucial relativo a este tema. Assim como nós distinguimos o brasileiro do português os ingleses fazem questão de se destacar dos americanos, etc. etc. Não precisamos sequer de ir tão longe, por cá temos os os alentejanos, os nortenhos, os madeirenses, os alfacinhas, os algarvios, os açoreanos, todos com os seus sotaques e respectivas conotações (todos sabemos, por exemplo, que os primeiros são molengas e os segundos labregos). Num mundo onde já é considerado errado discriminar pela aparência física, é natural que nos centremos noutros aspectos, ainda que sejam tão injutos e irracionais como os anteriores.
Por outro lado, os sotaques e línguas podem causar uma impressão que nada tem a ver com preconceitos. Eu pessoalmente acho extremamente irritante ouvir espanhol e francês, e tolero mal o italiano. Já o inglês adoro, mas não falado pelos próprios, provavelmente devido em grande parte ao dilúbio de filmes e séries americanas a que somos expostos. Podemos assim, sem haver nenhuma conotação de grupo ou generalização, simplesmente não conseguir simpatizar com esta ou aquela pessoa devido à sua maneira de falar. Isto, apesar de lamentável, acontece e é difícil de contornar. Afinal como podes sentir empatia para com uma pessoa, se não conseguimos suportar ouvi-la?

Como nota de encerramento posso referir que há poucos anos atrás era ainda um fervoroso defensor da uniformização da linguagem, nomedamente pondo toda a gente a falar inglês ou o mal amado esperanto, que a propósito não sei falar ou escrever. Esta última lançava um forte apelo ao meu lado mais prático e racional, visto ter sida verdadeiramente criada com o objectivo de ser eficaz, principalmente a nível da fácil aprendizagem. Mas hoje considero que tal representaria uma incalculável perda, não só cultural como também de diferenciação pessoal. Por isso mantenham as línguas inúteis e as insuportáveis, junto com os sotaques irritantes ou engraçados. Afinal de contas, se falar fosse só juntar palavras mandava antes um SMS.


Filipe Baptista de Morais


* Estou obviamente ciente do facto de que a Língua Portuguesa é a 6ª mais falada no mundo inteiro. No entanto tendemos a ter um contacto mais estreito apenas com a Europe (onde é de facto quase totalmente desconhecida) e não tanto com África e o Brasil, onde se localizam a maior parte desses falantes. Daí o comentário aparentemente errado.

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