terça-feira, 28 de junho de 2011

Ténis e paixão

Em entrevista ao Expresso, o antigo número 1 mundial Mats Wilander comentou que "Jogar ténis é como estar apaixonado". E depois continuou, argumentando que uma partida de ténis é como que uma conversa, e que tal como numa relação amorosa a piada advém de não sabermos o que a pessoa do outro lado irá dizer a seguir. Sem dúvida, a possibilidade de sermos surpreendidos é inclusivé por vezes referida como a razão da nossa existência. No entanto a frase parece ter uma certa profundidade que vai para além da razão apontada pelo comentador.

O ténis, como a paixão, joga com e depende de outras emoções, exigindo tanto quanto dá. Confiança, determinação, esforço, sacrifício, orgulho, alegria. Claro que provavelmente poderíamos aplicar isto a muitas outras coisas, mas são estas as circunstâncias que temos.

Tanto um como o outro são perfeitos exemplos de coordenação racional-emocional. Mais, fazem-no da mesma maneira: racionalizar no prelúdio e agir por impulso no momento. O que quero pretendo dizer é que, tanto no ténis como quando estamos apaixonados, tendemos a pensar e repensar o próximo passo, o que fazer quando o outro faz (ou não faz) isto ou aquilo; mas, quando chega a hora H, o melhor é abstrair-nos de toda essa complicação e agir por instinto ou impulso.

Outro aspecto que, apesar de porventura rebuscado, me parece pertinente é o sistema de pontuação. No futebol por exemplo se fizermos uma jogada que termina com um remate à trave não conta, mas também não nos faz mal nenhum. Um ponto no ténis é muito mais parecido com aquilo que acontece quando estamos apaixonados. Vamos construindo o ponto calmamente, conduzindo o adversário (o termo obviamente deveria ser alterado), ganhando confiança e esperando uma oportunidade; quando esta chega arriscamos um bocadinho mais para desequilibrar a balança, subimos no court para defender o território conquistado e... winner! Ou então a bola vai um bocadinho fora, e estragámos tudo. E depois há as madeiradas claro, que são tão ao lado que se torna humilhante e o melhor é nem pensar mais nelas.

Filipe Baptista de Morais

PS: Na mesma entrevista Mats referia ainda que ganhar um ponto com um ás (serviço ganhante) é como dizer ao nosso adversário "Vai-te foder!" (acho que ele não usou estas palavras, mas era essa a ideia). Se é ou não não sei dizer, mas lá que é isso que a gente pensa...

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